quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A turma do audiovisual

O IGUACINE VEM AÍ

Os amigos que renovaram a cena cultural de Nova Iguaçu
por Mayara Freire

Há cerca de cinco anos, um grupo de amigos se reunia para estudar e discutir política, filosofia e sociologia, entre outros assuntos. Além do desejo de aprender e de fazer algo para mudar o mundo, Fabiano Mixo, Jimy Lage, Raisa Monteiro, Luana Pinheiro, Diego Bion e Drica Carneiro, com idades entre 19 e 21 anos na época, tinham um gosto em comum: a arte.

Mas nada indicava que ali estava o embrião do cineclube Buraco do Getúlio, que nos últimos três anos se tornou uma das principais referências culturais de Nova Iguaçu, atraindo jovens primeiro para o Bar do Ananias e agora para o teatro do Espaço Cultural Sylvio Monteiro, onde uma vez por mês artistas de todas as tendências fazem performances entre as sessões de curta-metragem. Afinal de contas, apenas Drica, Bion e Fabiano já faziam parte da cena audiovisual da Baixada. Luana fazia teatro, Raísa gostava de poesia e Jimy se interessava por webdesign e música.

O primeiro projeto do grupo ganhou forma com o vago nome de Laboratório
Cítrico, uma associação cultural cujo nome sugere experimentação e faz uma clara
referência aos laranjais de Nova Iguaçu. “O Laboratório era um movimento artístico cultural que queria expressar no audiovisual o que pensávamos nas discussões", lembra Jimy. Naquele momento, porém, o grupo dava mais importante à marca, usada em todas as produções do laboratório. O que foi interessante, foi a influencia de Fabiano e Bion no interesse pelo audiovisual nos demais”, explicou Jimy.

Outras influências pesaram na conversão definitiva do Laboratório Cìtrico em uma projeto audiovisual, dentre as quais se podem destacar as oficinas de produção visual do Canal Futura, as aulas de artes visuais da Kabum e, por fim, a Escola Popular de Comunicação Crítica (ESPOCC) do Observatório de Favelas. Foi na Espocc que alguns membros do grupo conheceram o cineasta Marcus Vinícius Faustini, o atual secretário de Cultura e Turismo de Nova Iguaçu. O curso no Observatório de Favelas coincidiu com a criação da Escola Livre de Cinema de Miguel Couto, ponto de entrada de Faustini na vida cultural de Nova Iguaçu.

O primeiro e mais importante rebento do Laboratório foi o cineclube Buraco do Getulio, que surgiu em uma conversa entre Bion e Fabiano no Bar do Ananias, na entrada do túnel que passa por baixo da linha de trem. Decidiram fazer ali mesmo a primeira sessão, logo na semana seguinte. Influenciados por cineclubes como o Beco do Rato, da Lapa, eles não queriam que o primeiro cineclube de Nova Iguaçu ficasse restrito aos filmes selecionados. Resolveram entremear a exibição de cada curta com apresentações musicais, teatrais, circenses e poéticas.

A primeira sessão foi marcada pelo improviso e pela boa-vontade das cabeças do Laboratório Cítrico, que conseguiram emprestados do telão ao projetor, passando pelo carro que os transportou. Cada um dos amigos ajudava em alguma coisa para a realização do cineclube, através de produção, curadoria ou cenografia. O público, formado por frequentadores do bar, adorou a ideia. “O público inicial só tinha conhecidos nossos, que estavam sempre por ali.Muitos envolvidos com a arte e outros que simplesmente queriam entender a proposta. Todos estavam interessados, mesmo os que nunca tiveram contato com vídeos experimentais e outras artes expostas”, conta Jimy.

Segundo o estudante de cinema Fabiano Mixo, que atualmente não faz mais parte do Laboratório, o movimento nasceu pela carência do audiovisual no município. “Nós éramos muito românticos e queríamos fazer de Nova Iguaçu uma cidade movimentada com arte. Tínhamos um ideal da juventude e a ideia de cada um fazer sua parte para que isso acontecesse. Fomos conquistando nome com o tempo”, contou.

Além de se tornar um espaço de exibição de filmes, o Buraco do Getúlio foi responsável pelo surgimento de novos cineastas em Nova Iguaçu. Foi entre os chopes e os salgadinhos oferecidos nas mesas do Bar do Ananias que Fabiano exibiu o curta “Primeira Sinfonia”, com o qual mais tarde ganharia o Festival do Minuto. Bion estreou ali os curtas “Noite aberta”, “Sobre as raízes das laranjas ou real raciocínio”, “Dia dos Pais” e ”Julgamento”. Por sua vez, Jimy produziu “Sensacionalismo na TV”.

O Buraco do Getúlio cresceu junto com a cena audiovisual na cidade, na qual, além do surgimento de outros cineclubes, se destacam a Escola Livre de Cinema e principalmente o Iguacine. “O audiovisual ainda está em um processo de crescimento e em algum momento a virada vai acontecer. No momento ainda é defasado, pois, se pararmos para analisar, só temos um cinema degrande visibilidade e para piorar, não temos muitas alternativas a não ser filmes americanos (blockbusters) e dublados”, analisou.

A expansão do projeto
Desde seu inicio, há três anos, o Laboratório Cítrico e o Buraco do Getúlio se tornaram uma referência cultural em Nova Iguaçu, já possuem CNPJ e fazem parte da Associação de Cineclubes do Rio de Janeiro (Ascine) e do Conselho Nacional de Cineclubes (CNC). Mais importante do que isso, no entanto, é que aquele grupo de amigos continua coeso, ainda que alguns deles tenham seguido em outra direção. Raísa Monteiro, Fabiano e Jimy já não estão produzindo o Buraco do Getúlio, mas a primeira conseguiu aliar a faculdade de jornalismo com a assessoria de imprensa para o cineclube e Fabiano e Jimy estudam cinema. Monique Rodrigues, Hanny Saraiva, Cintia Monsores e Mazé Mixo ocuparam o lugar que eles deixaram, trabalhando atualmente com os precursores Luana Pinheiro, Diogo Bion e Drica Carneiro

Um dos fundadores do cineclube, Bion explica o que o Laboratório conquistou ao longo dos anos. “O Laboratório fez com que as pessoas se unissem, aglutinando interesses em comum. Já fizemos curtas que rodaram pelos festivais do país, participamos de projetos em TV, como na TV Brasil, mas o mais importante com certeza é o Buraco do Getúlio. Além disso, considero que o Laboratório evoluiu muito desde sua criação. Apesar de ser formado só por jovens, hoje temos maior independência e maturidade”, diz Bion.

Ele ainda avaliou a importância da existência do grupo no município. “Acredito que tivemos um impacto positivo quando passamos a ser referência para as próximas gerações. Na escola de cinema, que começou quase na mesma época que nós, vemos o quanto somos exemplo de encorajamento em produzir filmes para os alunos. As pessoas têm percebido o nosso caso como um verdadeiro incentivo”, conclui.

Para mais informações sobre o Laboratório Cítrico, acesse:
http://cinema-laranja.blogspot.com/

Interatividade:
Você já pensou em tomar alguma iniciativa e inovar algo na sua cidade?

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