sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Forever, nunca mais

Quando o sonho do lucro fácil se transforma em pesadelo
por Marcos Vinícius e Wanderson Santos

O sonho do lucro em um trabalho aparentemente fácil pode se transformar em um pesadelo. É o que vem acontecendo com frequência com os jovens da periferia do Rio de Janeiro, que veem na empresa de cosméticos Forever um atalho para fugir de um longo histórico de pobreza. Atraídos pelo “canto da sereia”, resolveram investir. As decepções não demoram a chegar.

O sonho começa com os jovens desembolsando cerca de R$ 800 para comprar um pacote de cosméticos sofisticados, que em outra ocasião jamais usariam. "Usar os produtos da empresa faz parte da proposta de trabalho", lembra o estudante Douglas Silva, de 15 anos. O jovem usou todos os seus contatos para levantar o dinheiro necessário para transformá-lo em gerente de um grupo. "Fiquei frustrado, me senti enganado”, diz o adolescente.

Jovens inexperientes como Douglas são o alvo preferido da multinacional, mas eles não são os únicos patos a mergulhar de cabeça na proposta da Forever. A dona de casa Tatiana dos Santos, que está na flor dos seus 24 anos, passou três meses acreditando que resolveria todos os seus problemas se, além de comprar os produtos da Forever, seguisse as orientações recebidas nas reuniões promovidas semanalmente na sucursal tijucana da empresa. “A Forever é uma tremenda enganação", afirma agora. E acusa: "Os responsáveis se aproveitam da necessidade financeira da pessoa para enganar.”

Dinheiro de sobra
Tatiana descobriu a empresa por intermédio do pai, que também acreditava ter a persistência e a vontade de vender que os gurus da Forever dizem ser fundamental para ascender na hierarquia do negócio. Mas logo se decepcionou. "Acima de tudo, é preciso ter dinheiro de sobra para ganhar esse jogo", queixa-se a dona de casa, que se cansou das respostas grosseiras ouvidas ao longo do tempo em que tentou vender os produtos da empresa. Diga-se em favor da Forever que seus gurus pedem para que ninguém abandone seus próprios empregos, alertando que o retorno desse negócio só vem a longo prazo.

A falta de informação foi o maior problema enfrentado pelo estudante Fernando Douglas, 16 anos. Mas ele assume parte da responsabilidade pela ansiedade com que "correu para o abraço", quando soube que estavam contratando jovens revendedores. “Não procurei saber mais sobre a empresa, o que ela exigia e acima de tudo, se teria disposição de conciliar minha vida de estudante com a de revendedor", admite. Iludido, ele comprou várias caixas do produto e um terno, uma das exigências da empresa.

Chato
Fernando Douglas reconhece que não tem o perfil agressivo exigido para um revendedor de uma empresa de marketing multinível. "Sou muito tímido", admite. Já William Santos hoje tem consciência de que um bom revendedor precisa de mais paciência do que a que teve. “Tenho amigos que começaram nesse emprego junto comigo e hoje estão vendendo muito bem, faturam bastante."

Além de desenvoltura e determinação, os revendedores da Forever precisam enfrentar situações no mínimo desagradáveis. Na falta de um comprador, Douglas Silva chegou até a oferecer cosméticos para a própria avó. “Ela ficou muito irritada com a minha insistência em vender um perfume, que, cá pra nós, era bem ruinzinho", conta ele. A avó chegou a expulsá-lo de casa, irritada com sua insistência. Na hora, ele ficou chateado, mas hoje ri do constrangimento que impôs a sua avó. "Ela tinha razão.”

Lucas Lima abandonou o sonho da Forever quando percebeu que a determinação necessária aos revendedores transformou-o num chato aos olhos dos amigos. “No colégio, quando eu chegava perto de alguns colegas, muitos deles saiam, achando que iria oferecer o produto a eles." Lucas Lima chegou a se sentir marginalizado porque os amigos queriam se distrair enquanto ele só pensava em obter os pontos necessários à ascensão dentro da Forever. O estudante também passou a ser discriminado no seio da própria família. "Vai incomodar outro, ô vendedor", diziam os parentes que abordava. Os primos começaram a caçoar de Lucas, que depois de algum tempo, apesar das sessões de treinamento na Forever, passou a se sentir incomodado com a chacota dos outros.

Árvore da paz


Tamarineiro é o refúgio do maratonista de Cabuçu
por Fernanda Bastos da Silva
fotos de Mazé Mixo

Luiz Carlos Machado Ponciano, 35 anos,mais conhecido como "Maratonista de Cabuçu", é tido como louco pela comunidade de Cabuçu. Muitos pensam que ele é inacessível, um excêntrico, que não gosta de falar com ninguém.

Ele vive na Fazenda Cabuçu, importante marco histórico do bairro em que mora, onde começa a estrada que vai dar em Queimados. Adora receber as pessoas na sua árvore. Conversa com elas com surpreendente lucidez e saúde. Sabe que as pessoas o veem como um louco, mas não se importa. Também não se incomoda quando tentam tirar fotos do seu lar.

Luiz é um sonhador, com uma história marcada por sofrimentos que começaram na conturbada relação com o pai. "Fugi de casa ainda menino, porque meu pai me batia muito", lembra ele. Foi morar então em um "casarão" próximo ao conjunto Rosa Branca II. Apesar da fuga, ainda tem contato com as quatro irmãs: Simone, Márcia, Lídia e Rita.

Luiz estudou no "extinto Colégio Elvira Leite", em Mesquita, tendo cursado até a antiga 4ª série do primário. Abandonou a escola devido a uma sucessão de brigas, que atribui ao preconceito que as pessoas "Antes que começasse a ser visto como um encrenqueiro, preferi sair."

Serra do Vulcão
Desde então se julga um incompreendido pela sociedade. Tem muita vontade de reiniciar os estudos, de trabalhar e, literalmente, correr e voar atrás dos sonhos que não se perderam. Vocação para maratonista, realmente ele tem. Além disso, gostaria de ser saltador de parapente e asa-delta. "Conheço algumas pessoas que praticam esse esporte na Serra do Vulcão."

Simpático e às vezes carismático, ele recebe ajuda para se manter, alimentar e vestir. Mas ele distingue os "que o ajudam" e os que apenas o desprezam. Ele não "mora" na árvore. A árvore é uma companheira que lhe traz paz assim como seu cachorro, ambos amigos inseparáveis. A árvore é um pé de tamarindo de aproximadamente 30 metros que também proporciona uma visão panorâmica. "Muita gente deve ter mim, por estar em um lugar lindo e com muito verde", orgulha-se.

A árvore também traz o frescor da brisa da serra nos dias muito quentes. É uma morada, uma fiel companheira e um hobby. No topo da árvore, ele colocou um banquinho feito de caixas de madeira e uma bandeira de panos coloridos, quase todos vermelhos. "Subo esses 30 metros em dois minutos", diz ele. Para proteger-se da chuva, ele pretende colocar um toldo bem no topo.


Pista de atletismo
Outro pouso de descanso do maratonista é atrás do Posto de Saúde de Cabuçu. Em um quartinho pequeno ele guarda seus pertences, doações e o que consegue comprar com seu trabalho. "De vez em quando, ganhou uns trocados capinando, limpando e roçando a beira da estrada de Madureira", diz ele.

Luiz tem uma particular fixação pela estrada de Madureira. "É minha pista de atletismo", afirma. Percorre-a incansavelmente todos os dias, indo do KM 32 ao Centro de Nova Iguaçu. De vez em quando faz um pit-stop na torre de Furnas, na altura do Jardim Laranjeiras. ”Crianças, não façam isso em casa!", aconselha.

Seu idílio com a natureza pode ter um fim a qualquer momento, pois já chegou a seus ouvidos que a área da fazenda pode ser invadida a qualquer momento. Com receio de que a construção de novas casas avance sobre sua árvore, Luiz sugere um ato político: “Temos que criar uma lei proibindo o corte da minha casa."

Círculo vicioso

Vantagens e desvantagens de trabalhar perto de casa
por Wanderson Silva, Jeisiane Caetano Paulo, Wesley Caetano Paulo, Patrícia da Rocha Toledo

A vida do estudante Carlos Henrique Ramalho, de 19 anos, gira em torno de Cabuçu, bairro no qual nasceu e se criou. Mora no loteamento Doze de Outubro, que fica a mais ou menos 20 minutos a pé da Casa de Ração Arruda, onde trabalha como entregador. “O bom é que nunca chego atrasado”, conta ele.

Jamais ter sido chamado a atenção por causa de uma atraso na condução para o trabalho não é a única vantagem contabilizada pelo estudante. “Conheço tudo aqui”, acrescenta. A intimidade com o bairro facilita seu trabalho como entregador. Outro conforto proporcionado por essa proximidade é poder desfrutar do almoço cozinhado pela mãe.

A história de Carlos Henrique é dele e tão-somente dele. Mas ela faz parte de um contexto maior, que revela uma das maiores deficiências de todos os governos: arrumar uma posição no mercado de trabalho formal para os jovens. O estudante ama o bairro onde vivem seus parentes, fez sua rede de amigos e descobriu a namorada, com a qual se diverte em points como o Rubinho e o Pocinho. “Mas trabalho aqui por falta de opção.”

Experiência comprovada
Na Chatuba, uma das favelas mais pobres de Mesquita, não é muito diferente a situação da professora de informática Luciana Amaral Souza, de 23 anos. Ela gosta da sua comunidade e, além da economia e do conforto, trabalhar dentro dela só faz aumentar sua sensação de pertencimento. Mas a professora teme que, ali, a sua vida entre num círculo vicioso. “As grandes empresas só contratam que já tem experiência comprovada”, lamenta. “Mas como, se elas não nos dão uma oportunidade?”

A professora Luciana gostaria de se qualificar para conseguir um emprego melhor, talvez no Rio de Janeiro. Mas sua situação é melhor do que a de seu vizinho Luiz Fernando da Silva, de 19 anos, que parou de estudar para atender às demandas da loja de material de construção para a qual trabalha há três anos. Além de não gostar da profissão que exerce, Luiz Fernando vê suas chances ainda mais reduzidas devido a um dos maiores problemas de trabalhar para pequenas empresas. “Não tenho carteira assinada”, queixa-se.

Morar, estudar e trabalhar em bairros da periferia deixa alguns jovens asfixiados. “Preciso respirar novos ares”, desabafa a distribuidora de panfletos Jéssica Fernandez, de 20 anos. Ela só não começou um movimento mais objetivo para realizar este sonho porque, ao concluir o ensino médio, há três anos, teve que arrumar um emprego para ajudar em casa. Mas agora que a situação da família melhorou, ela voltou a sonhar com o que considera ser seu passaporte para o mundo: a faculdade de farmácia. “Juntei um pouco de dinheiro e vou pagar um curso pré-vestibular.”

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Pelada sagrada


Cabuçu ainda mantém a tradição do futebol de várzea
por Juliana Portella , Jeniffer Braz e Adriana de Souza

Na estrada que liga o bairro de Cabuçu ao município de Queimados, a Av. Severino Pereira, há um campo de futebol onde a rapaziada se reúne todos os domingos para bater aquela “bolinha”. É o Campo da Beira-Rio. A primeira pelada começa às sete horas da manhã, logo depois da oração puxada por Seu Souza, de 47 anos. Souza alia as funções de jogador com a de presidente do Boêmio, clube fundado em 1922. O adversário do último domingo foi o Botafoguinho, um de seus mais tradicionais rivais.

O time do Boêmio exige um requisito dos seus atletas: ter mais de trinta anos. Todos os seus atletas são moradores do bairro. Seu diretor, o Pedrão, chega querendo ser entrevistado, e dá a notícia, muito animado, de que, no dia 16 de maio, seu time vai jogar em Minas Gerais, na cidade de Belmonte. Embora seja bem mais novo que o Botafoguinho, que existe há 33 anos, o Boêmio não perde para o rival há três peladas. O presidente do Botafoguinho é o ex-goleiro Mário, de 59 anos. Apesar do nome, o Botafoguinho aceita vascaínos, tricolores e até mesmo flamenguistas.

A pelada começou onde hoje funciona o Ciep – 075. Desde aquela época, os rachas eram prestigiados por torcedores. Eles costumam acompanhar as peladas sentados em banquinhos protegidos pela sombra. Um dos torcedores mais fiéis é Gustavo, de apenas 10 anos. Ele vai ver o pai, o zagueiro Miguel. Apaixonado por futebol, o menino não reclama de acordar cedo no domingo. "Quando crescer quero ser jogador de futebol", diz Gustavo, com um sorriso no rosto.

Pelé de Cabuçu
Um dos craques da pelada é o atacante João André, que há 16 anos defende as cores do Botafoguinho. Com 40 anos, esse operário da construção civil é mais conhecido como Pelé. "Até minha esposa me chama assim", diz ele. Seu sonho de menino era se tornar jogador de futebol, mas não teve oportunidades de treinar em um clube profissional. Ele não perde uma pelada aos domingos.


Tão sagrada quanto a oração que a precede é a cervejinha compartilhada quando a pelada acaba., no bar em frente ao campo. "A gente fica aqui até a hora do almoço", conta Souza, o presidente do Boêmio. Duas vezes ao mês essa cervejinha se estende tarde a fora, enquanto os peladeiros assam uma carne. Tipicamente masculino, o programa dominical só conta com presença feminina nas comemorações de fim de ano. "Aí a gente chama a família e vai para um sítio em Jardim Laranjeiras", diz Mário.

Além da presença da família, as peladas de fim de ano mobilizam um número bem maior de jogadores. É que nesses ocasiões eles disputam uma espécie de campeonato, onde o time perdedor arca com as todas as despesas do churrasco de fim de ano.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Iguaçuano quer pipoca

Há 40 anos Casa da Pipoca é a solução para aquela fominha entre as refeições
por Flávia Ferreira e Letícia da Rocha

A pipoca engana a fome das pessoas apressadas e com pouco dinheiro no bolso. Na Avenida Martins, uma das transversais do Calçadão de Nova Iguaçu, a barraquinha "Casa da Pipoca" tira amplo proveito dessa conjunção de fatores desde 1966. Trata-se de um investimento tipicamente familiar, no qual o pai trabalhou com os filhos até morrer. Foi com o dinheiro da barraca que o pai comprou o táxi igualmente administrado por Alcino Junior, 40 anos.

Além da longevidade do produto, a qualidade da pipoca atrai filas permanentes. Sempre que vem ao Centro de Nova Iguaçu, o universitário Leonardo de Oliveira, 19 anos, aguarda com paciência a vez de ser atendido. Ele gosta tanto da pipoca doce quanto da salgada. “Eu compro pela qualidade da pipoca", diz ele. "A salgada tem gosto delicioso e vem com muito bacon, e a doce vem com uma cobertura de leite condensado."

A nilopolitana Shirleide Souza, 53 anos, chega a desviar o caminho para saborear as guloseimas preparadas pelos herdeiros de Seu Alcino. "Compro aqui há dez anos", conta ela, que sempre vem a Nova Iguaçu para comprar os produtos do enxoval que vende.

Apesar das seguidas crises econômicas, o movimento da barraquinha tem aumentado consideravelmente nos últimos 15 anos. Esse aumento no número de clientes acompanhou a mudança na própria estrutura do pequeno comércio. "A barraquinha aumentou de tamanho, mudou seu estilo, a gente começou até a usar uniforme", conta o administrador.

Condição do tempo
A Casa da Pipoca abre inclusive em dias de domingo, quando o Centro de Nova Iguaçu fica quase um deserto. "A gente abre aos domingos porque muitas pessoas passam aqui para comprar suas pipocas antes de ir ao cinema", diz ele. As vendas no fim de semana caíram após o fechamento do Cine Verde, na Praça da Liberdade, mas, mesmo assim, Alcino não abriu mão deste dia. “O que diminui a venda de pipocas não é o dia, mas a condição do tempo”, acrescenta, com um sorriso vitorioso.

As vendas tendem a crescer no inverno. "No tempo frio lota o dia todo", conta Alcino. "Já no verão, é mais à noite." O tamanho da fila também depende das aulas. "Nas férias, o movimento diminui porque os estudantes não vêm comprar." Os comerciários e os camelôs que transformam o Calçadão num formigueiro são fregueses fieis, mas a maior parte da clientela é composta de estudantes.

A fama da pipoca atravessa fronteiras. se espalha por toda cidade. "Uma vez eu estava em Barra de São João, e uma mulher veio me perguntar se eu era o homem da pipoca", conta o pipoqueiro. Alcino também é reconhecido pelos passageiros do táxi que herdou do pai. "Eles dizem que são meus clientes na Casa da Pipoca e pedem desconto."

Os funcionários da Casa da Pipoca parecem ser tão fieis quanto a sua clientela. Esse é o caso de Ricardo Souza, que trabalha ali há 33 anos. "Meu pai trabalhava para o de Alcino e eu vinha aqui trazer a comida dele", lembra o empregado. O irmão de Ricardo também trabalhou na Casa da Pipoca, mas pediu as contas recentemente.

O carnaval vai bombar

Consumo de anabolizantes aumenta à medida que se aproxima o carnaval
por Brenner de Oliveira e Luís Vinícius

Tire a fantasia do armário! Compre sprays coloridos, serpentinas, máscaras. Está chegando o carnaval, tempos de festa, azaração e pegação. Donos de academia festejam a chegada dessa época, onde a procura pelo biótipo perfeito aumenta consideravelmente. É suando nas máquinas que os jovens tentam queimar os quilinhos extras adquiridos nas festas de final de ano.

Mas qual é a imagem que as pessoas pretendem passar no carnaval? Quem nos responde é Jaderson Sardinha, um morador de Jardim Tropical de 19 anos e há dois anos um dedicado praticante da musculação. “Seria ter um porte físico definido e uma musculatura avantajada”, afirmou.

Todos sabem que essa imagem requer uma longa preparação, mas o tempo é curto e a impaciência não permite uma espera sadia para o tão sonhado resultado. É aí que surge O Milagroso, também conhecido como anabolizante e bomba. Só ele pode realizar essa transformação num prazo tão curto.

A sociedade atual não se cansa de criar novas tecnologias para modelar o corpo tanto dos homens quanto das mulheres. No entanto, as diversas as formas oferecidas para modificar a estética natural são cada vez mais inacessíveis para as classes populares. Os anabolizantes são a única via de baixo custo e acessível. “Me oferecem desde que comecei a malhar”, conta o atleta.

O exemplo dos ex-usuários, que tiveram diversos problemas de saúde, se tornou um alerta para Jaderson. “Ouço falar que alergias surgem com o tempo e também interfere na relação sexual”, continuou ele. A consciência de Jaderson é uma execeção no mundo dos jovens, principalmente no período que antecede o carnaval.

Receitas
Jarderson ainda não se deu o trabalho de percorrer o circuito de pet shops da cidade, que, segundo seus amigos de academia, são os grandes fornecedores de anabolizantes. Mas uma conversa com a balconista é o bastante para entender o intenso trânsito de marombeiros na loja em que trabalha, no centro de Comendador Soares: “Sempre aparecem por aqui uns caras fortes, pedindo dois ou três 'remédios para cavalo'.” A balconista suspeita das receitas veterinárias, mas não tem poder de polícia para investigar a origem delas.

Os praticantes de musculação recebem vários tipos de influência. Há colegas zombeteiros, que riem do chamado 'corpo de barata', incentivando-o a aplicar o 'veneno'. Há ainda os instrutores de musculação que, ansiosos para mostrar trabalho aos patrões, tecem loas aos benefícios dos esteróides para os alunos. “Dentro das academias mesmo existe uma pressão para você usar”, revela Erick Sandiego, 18 anos, que mora no Centro de Nova Iguaçu. “Professores e amigos estão sempre te incentivando.”

Malefícios
A médica Lidiane dos Anjos, 33 anos, conhece diversos relatos de mudanças de humor, comportamento agressivo, depressão, hostilidade e surtos psicóticos e adições, ocorrendo, por vezes, um quadro semelhante à síndrome de abstinência. “Os homens estão sujeitos à redução da produção de esperma, impotência, dificuldade ou dor em urinar, calvície e crescimento irreversível das mamas”, alerta a médica. Os adolescentes correm o risco de parar de crescer e as mulheres, de engrossar a voz, ganhar pelos e ver os seios diminuídos.

Deus é limpeza

O gari Valdecir quer limpar as almas da Praça da Liberdade
por Breno Marques
Fotos: Mazé Mixo


Na Praça da Liberdade, o gari Valdecir Nunes, faça chuva ou faça sol, faça frio ou calor, faz sua pregação há exatos seis anos e meio. Nascido e criado em Nilópolis, Valdecir tem 36 anos e uma missão: “Limpar as almas, em nome de Jesus”.

"Quando fui chamado pra trabalhar, aceitei o convite logo de cara", diz Valdecir, que, além de varrer as ruas da cidade, “varre também as almas perdidas". Escolheu a Praca da Liberdade para fazer suas pregações porque ali acontece de tudo. "De noite as pessoas se drogam, bebem, e até se prostituem." A ressaca física e espiritual facilita a aceitação do amor de Jesus.

As pessoas que passam pela praça são atraídas pelas palavras do pregador. Uns param outros, não dão atenção, alguns se emocionam. "Quando não estou trabalhando como vendedor na praia, venho de Caxias aqui assistir o culto do Valdecir", diz João Carlos, 55 anos, pastor da Assembléia de Deus. "Sempre me emociono."

O culto é feito com uma pequena caixa de som, um microfone e um DVD. Embora não seja feita em uma igreja, a pregação tem suas regras. Ao meio-dia, tem inicio com músicas e orações. Os fieis também têm a oportunidade de cantar ou passar sua mensagem, seguida da pregação com um fundo musical. O ritual termina com a "Oração da Vitória", quando todos participam.

O culto atrai a curiosidade dos transeuntes, mesmo daqueles que não são muito chegados à palavra de Deus. "Acho que existem muitas pessoas que precisam ouvir uma palavra de incentivo pra continuar lutando", diz o representante comercial Armando Amazonas, 50 anos. Ele se emocionou com a palavras do pastor Valdecir, ouvidas no culto da última quarta-feira.

Gritaria
Alguns comerciantes reclamam do som muito alto, afugentando os fregueses e atrapalhando as vendas. "Às vezes, fica difícil demais vendermos aqui na porta", queixa-se Márcia Cunha, 37 anos, vendedora do Ponto Frio. "Ele grita tanto que as pessoas desistem da compra, porque ficam estressadas."

A enfermeira Emmanuelle de Souza, de 58 anos, também não tem a menor boa-vontade em relação ao pastor gari. O incômodo da enfermeira, que passa os dias medindo a pressão arterial em uma mesa de bar na Praça da Liberdade, tem razões religiosas e científicas. "Querer que todos adotem sua religião é fanatismo", protesta Emmanuelle, que se sente atacada com o discurso contra a macumbaria de Valdecir.

Ela também se irrita quando ouve o pastor dizendo aos fiéis que eles não precisam de remédios, pois "Deus curará". Há cerca de dois anos, uma de suas clientes teve um ataque cardíaco 24 horas depois de interromper a medicação prescrita pelos médicos, seguinte o conselho do pastor.

Língua dos anjos
Alguns acontecimentos estranhos ocorrem durante o culto. O pastor e os obreiros começam a falar idiomas estranhos, frases desconexas. É a famosa língua dos anjos, que falam espontaneamente movidos por um impulso celestial.
Quando se aproxima o final do culto, as pessoas formam um circulo em volta do altar improvisado, e juntas começam a orar em voz baixa. Apenas o gari pastor fala ao microfone, encerrando a pregação.

É necessário voltar á dura labuta do dia a dia. O encarregado é rigoroso quanto aos horários. "Tenho que arrumar isso, o mais rápido possível, porque se meu encarregado chega aqui e eu ainda estou pregando ele arranca meu coro", diz Valdecir olhando para todos os lados a todo o momento.

Enquanto Valdecir arruma os apetrechos da fé: Bíblia, musicas e o microfone, dois obreiros correm com a caixa de som e a guardam em uma ótica, onde o dono apoia o culto.

Tempo para Deus
Valdecir diz fazer seu oficio com dignidade e correção. "Estou aqui há seis anos e nunca reclamaram do meu serviço, a não ser aquelas pessoas que nunca estão satisfeitas com nada", diz o gari, dando risadas. Nada fará Valdecir largar seu horário, das sete da manha às três e vinte. Recusou todas as ofertas de trabalho cujo expediente roube suas noites. "Quem trabalha de noite não tem tempo de ir à casa de Deus."

Valdecir é uma figura popular, sendo reconhecido por onde passa. "As pessoas sempre me cumprimentam, como gari ou como pastor." Na igreja que freqüenta, existe uma hierarquia: o primeiro posto é o de Obreiro, o segundo de Porteiro, o terceiro de Diácono, o quarto de Plesbito. Pastor é o ápice da hierarquia. "Sou um Plesbitano ainda, mas um dia serei consagrado Pastor", afirma, convicto.

Valdecir conta que não sabia ler. “Um dia entrei no quarto com vontade de ler a Bíblia e comecei a chorar, soletrando um versículo, assim aprendi a ler.” Antes de libertá-lo da ignorância, a religião o salvou das drogas e do próprio crime.

Tratados como animais


Preconceito e indiferença do mercado dificultam a vida dos vegetarianos na Baixada
por Josy Antunes

Quando de trata de alimentação, o que predomina no gosto dos jovens são os hambúrgueres, cachorros-quentes, joelhos de presunto com queijo e afins. Principalmente naquelas refeições rápidas que costumam ser feitas entre um compromisso e outro, em lanchonetes ou em cantinas de escolas.

Porém, há alguns que optaram por um outro tipo de alimentação, excluindo de seus cardápios alimentos que contenham qualquer tipo de carne. São os vegetarianos.

Gisele Sales, moradora de Queimados, com 19 anos de idade, é vegetariana desde os seis. Sua mudança de hábitos com tão pouca idade, decorre de uma paixão que descobriu pelos animais: “Via vacas, porcos, galinhas, tantos animais andando livremente... E achava aquilo tudo uma maravilha, me apaguei aos bichos sem possuí-los. Daí é que eu pensei: 'como eu posso amar um animal e comê-lo no jantar?'” No início, Gisele encontrou resistência por parte de sua mãe. “Ela resistia pelo fato de que eu era criança ainda e precisava das proteínas.”

Iolanda Sales, preocupada com a saúde de sua filha Gisele, a obrigava a comer carne branca. Mas hoje em dia, é graças a ela que Gisele tem acesso a produtos como cereais à base de soja e tofu - que é semelhante ao queijo, mas tem por base a soja ao invés do leite – dificilmente encontrados na Baixada. “Tenho sorte por minha mãe trabalhar ao lado de uma loja de produtos naturais, na Zona Sul. Lá as lojas possuem muitas opções para vegetarianos.” Fazendo as devidas substituições na alimentação, Iolanda agora dá total apoio a filha, acreditando inclusive que a boa alimentação trará benefícios a sua saúde.

Peso no estômago
Foi justamente pensando na saúde que Robert Tavares aderiu ao vegetarianismo. “Me senti mais leve, bem disposto e até minha pele melhorou”, avalia Tavares, que tem 18 anos e é morador de Mesquita. “A soja não te deixa com aquela sensação de peso no estômago e pode ser usada substituindo a carne em pasteis, empadas, salgados e sanduíches, entre outros.” Ele também enfrenta dificuldades para encontrar alimentos como esses em lanchonetes e mercados: “Nos poucos mercados que vendem esses produtos, eles são colocados em um canto, ao invés de juntos com os demais.” Para Tavares, esse tipo de prática só faz reforçar o preconceito pelos produtos naturais.

Um breve giro pelo Centro de Nova Iguaçu é suficiente para comprovar a tese de Tavares. Gisele Sales chega a se irritar com a ditadura carnívora das lanchonetes do Calçadão, onde raramente se encontra algum salgado que não tenha carne como ingrediente. “Muitas das vezes sou obrigada a comer biscoitinhos na rua, por falta de opção”, queixa-se.

Produtos caros
O preço dos produtos também parece conspirar contra os vegetarianos. Por exemplo, uma caixa comum de Nuggets, feita à base de frango, custa por volta de R$ 5, enquanto uma à base de soja custa em média R$ 8. Uma das poucas opções baratas é a proteína de soja, que, se bem preparada e temperada, torna-se uma ótima companhia para pratos como macarronada e estrogonofe.

Vegetariano há nove anos, Luciano DeSilva tem que se virar para manter uma dieta saudável e barata, já que não gosta da proteína de soja. “A solução é variar meu prato, vira uma 'obra de arte', conta ele. A solução que encontrou abrange legumes, frutas e massas em enorme quantidades.

Assim como muitos vegetarianos usuários de sites como o orkut, Luciano também aderiu ao “V” na foto de seu perfil. O símbolo é usado para promover o vegetarianismo e acabar com o preconceito, que muita gente ainda insiste em ter. “Fazer o bem, infelizmente é mal visto”, diz Luciano.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Vício à primeira vista

Trabalhadores gastam suas economias nas maquininhas caça-níqueis
por Flávia Sá

Uma ideia muito louca tem tirado o sono dos brasileiros. No Brasil, o dinheiro anda curto e muitos procuram “sair do sufoco” e ao mesmo tempo se divertir. As máquinas caça-níqueis andam atraindo os olhares dos brasileiros mais afoitos por uma graninha extra sem muito esforço. Proibidas em alguns lugares, permitidas em outros, esse brinquedo fascinante pode se transformar em vício.

O cliente chega a um bar, pede uma cerveja, senta no banquinho de frente para a máquina e começa a arriscar. A maioria dos bares tem três máquinas, mas em alguns casos podemos encontrar até oito “caixas de fazer dinheiro”. O atrativo é muito grande. O tempo simplesmente para quando se começa a jogar. O jogador nem se lembra que tem uma vida, uma família para sustentar. Só pensa em ganhar muito dinheiro, no bônus acumulado, o “caldeirão”, um prêmio que pode chegar a dez mil reais.

Maior que tudo
Raimundo é garçom, tem 50 anos e mora em Comendador Soares há vinte anos. “Jogo nessa bendita máquina há mais de dois anos. Sinto uma satisfação muito grande quando estou na frente de meu brinquedo preferido. Não jogo só para ganhar, jogo também para me distrair e esquecer os problemas.” Provavelmente para esquecer o problema mais comum entre os brasileiros: um monte de dívidas.

Raimundo conta que aprendeu a jogar com Cristiano, o dono do bar em que deixa todas as suas economias. Foi vício à primeira vista. “O jogo é uma necessidade. Teve um dia em que gastei um dinheiro de responsabilidade, dinheiro que serviria para pagar algumas contas.” Ele gastou R$ 400 naquele dia, e só percebeu o erro quando já era muito tarde. Ele até tentou ficar longe por um tempo, mas o vicio falou mais alto. No finalzinho do ano passado, chegou a ganhar uma bolada, faturando perto de R$ 3 mil, mas, como “gato escaldado”, ele não gastou todo o dinheiro. Guardou um pouquinho em sua conta.

Raimundo admite que é muito difícil ficar longe das máquinas e que não consegue passar em frente de um bar sem pedir uma cervejinha e, claro, fazer uma fezinha. “Sinto muito por esse vício, fico hipnotizado. Nem tento mais sair dele.” Ele sabe que dificilmente irá conseguir. Viciados em jogo como ele precisam de tratamento clínico o mais rápido possível.

Ganhos
No bar do “Seu Cristiano”, em Comendador Soares, muitas pessoas já ganharam bons prêmios nas maquininhas. A fama de ter sorte ajuda um pouco no movimento de seu bar perto da fábrica de canetas Compactor. O comerciante diz que enquanto seus clientes perdem, ele fatura uma média de vinte por cento, que para ele não é muito, mas ajuda. Diz também que muitas máquinas são proibidas por não terem selo, mas em seu bar isso não acontece. Ele conta que uma vez as máquinas foram recolhidas. “Ladrões disfarçados de fiscais, invadiram meu bar dizendo que precisavam recolhê-las, pois estavam sem os selos. Caí na conversa.”

Cristiano já resolveu o problema e, no seu bar, todas as máquinas possuem selos. “Os jogadores se esquecem até de consumir, alguns fregueses acham que estão ganhando e chegam até passar a noite inteira jogando e nesse tempo pagam coisas para amigos de jogo. Alguns voltam para casa muito felizes, outros muito tristes, sem um centavo.”

Ele conta um caso inusitado: “Teve uma vez que faltou luz bem na hora em que um freguês estava faturando um bônus bem alto Tentei explicar o ocorrido, liguei para o rapaz que faz manutenção da máquina, que respondeu que não poderia arcar com a responsabilidade.” O rapaz foi embora muito invocado, “cuspindo marimbondos”.

Marido roubado
Cristiano tem uma cunhada. É a Rosa, de 32 anos. “É uma viciada em jogo, qualquer moedinha que ela consegue pede ao comerciante pra trocar por cédulas.” A máquina não aceita moedas. Ela tem uma ex-patroa que sempre está ajudando com quantias em dinheiro. Ela nem espera o dinheiro esquentar na mão. A ansiedade é tanta que a dona de casa vai logo jogando tudo que tem, sem pensar no sustento dos três filhos. Quando o marido chega em casa cheio de “manguaça”, ela aproveita o estado de embriaguez em que se encontra e “surrupia um dinheiro na sua carteira pra satisfazer seu desejo e aliviar o bolso". Cristiano conta que interpelou a cunhada sobre os constantes furtos ao bolso do marido. Ela respondeu com um sorriso nervoso: “É melhor gastar no jogo do que na cachaça. Pelo menos eu posso ganhar um troco”.

O comerciante diz que alguns clientes se irritam quando estão jogando e outra pessoa está atrás "secando". Tem cliente que vai para outro bar só para fugir dos olhares inconvenientes que vem atrás de suas costas. “Eles têm medo do olho grande”, diz, com uma sonora gargalhada.

Viciado em caça-níqueis
O vendedor ambulante Clandirio Ribeiro de Sá, de 64 anos, mais conhecido em seu bairro como “seu Cláudio”, não tem a mesma sorte de Raimundo. Diz que joga nessas maquininhas desde seu surgimento, há mais de 13 anos. “Eu nunca tive uma sorte, mas sou brasileiro e não desisto” Ele se considera um viciado porque nas vezes em que para em um bar somente para beber uma cerveja sem o intuito de jogar, não consegue.A gana de ganhar dinheiro é maior que tudo, e acaba sentado em frente à máquina.

“Odeio as pessoas bisbilhotando meu jogo, dá azar”. Deve ser por isso que até hoje nunca ganhou um bom dinheiro. O máximo que conseguiu foi R$ 90, que serviu para consertar seus dentes. Mesmo não ganhando grandes quantias, Cláudio não fica triste. ”Já me acostumei com a má sorte, e só jogo por jogar, um meio de me distrair, mas se eu ganhar o bônus, prêmio acumulado será de muito bom agrado”.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Meu padrasto é o maior barato

Padrastos podem (e devem) ocupar o lugar de pais biológicos ausentes
Jeisiane Caetano, Wesley Caetano, Patrícia Toledo

Algumas coisas, a gente não escolhe. Os pais são apenas um item de uma coleção que passa pelo nosso nome e pelos irmãos. A gente também não tem direito a meter o bedelho nos homens com que nossas mães resolvem refazer suas vidas, quando elas descobrem que os casamentos só são para sempre na Bíblia.

Não poder escolher o padrasto tem sido uma grande tragédia para a juventude da periferia das grandes cidades brasileiras, inclusive Nova Iguaçu. Mas alguns sortudos terminam sendo criados por homens muito melhores do que os seus pais biológicos, como é o caso de Wendell Harison Caetano. "Eu me identifico mais com meu padrasto do que com meu pai", afirma, convicto, esse morador de Austin de 14 anos.

Caetano tem os seus estresses com o padrasto, mas, no geral, a relação dos dois é "tranquila", como ele próprio define. "Meu padrastro é nota 10." A também estudante Ane Kelly Lima, de 14 anos, só dá nota oito para o novo marido de sua mãe, mas já se rendeu ao fato de que ele é o seu verdadeiro pai. ''No começo, não aceitava a idéia de ter um padrasto", confessa a filha de Sebastiana Lima, que mora na Palhada.

Mão estendida
Todo adolescente acha que já sabe o que é bom ou ruim para sua vida. Mas na hora do aperto eles abrem mão de suas convicções e aceitam a primeira mão que lhes é estendida. Geralmente, esse apoio vem mais do padrasto do que do pai biológico. "Meu padrasto me apoiou em várias situações difíceis", revela Ane Kelly.

O dia-a-dia da periferia mostra que parte dessa aliança se deve mais aos defeitos do pai biológico do que do padrasto. "Não convivo com meu pai", conta Jessica Caetano, uma moradora da Pallhada de 18 anos. É nesse espaço que os enteados e os padrastos estreitam os laços.

Uma história de uma relação entre enteado e padrasto construída no vácuo da figura paterna é a Wallace Eduardo da Silva, morador do bairro Barata. "Ele (Roque) me cria desde quando tinha quatro anos", explica esse botafoguense roxo, mais conhecido como Eduardo. "Por isso, sempre o vi como o meu verdadeiro pai."

Tratamento igual
Não é muito diferente a leitura que Luiz Fernando da Silva, um morador da Palhada de 19 anos, faz do padrasto. "Meu pai biológico não vive comigo e não me ajuda em nada", desabafa. Mas se engana quem pensa que essa carência fez dele um jovem triste ou revoltado. Um recente exemplo de sua relação com o padrasto mostra como ele preencheu o buraco deixado pelo verdadeiro pai. "Ele me ajudou a pagar minha habilitação e me apoiou quando resolvi morar sozinho."

A mãe termina desempenhando um importante papel para que os padrastos façam aquilo quena verdade deveria estar sendo feito pelo pai biológico. "Minha mãe sempre me ensinou a respeitá-lo", conta Eduardo. A mesma mãe exigiu uma contrapartida do padrasto. "Meu padrasto me trata igual aos meus meio-irmãos", comemora.

Na família de Fernando, no entanto, o padrasto teve que estender o afeto para os filhos que encontrou na casa. Foi por fazer aquilo que o pai biológico devia ter feito qe o padrasto de Fernando ganhou o respeito e admiração de todos. "Todos na minha família gostam dele", diz Fernando. E finaliza: "O verdadeiro pai é quem cria."

Super exposição



Exposição de quadrinhos no Sesc de Nova Iguaçu vai até março
por Tatiana Sant’Anna, Gustavo dos Santos, Viviane Menezes, Daniella Vieira e Evio Nobre

Quem nunca imaginou ser um super-heroi ou fazer parte de uma história em quadrinhos? Quem deseja realizar este sonho, tem de dar uma chegada até o SESC de Nova Iguaçu. Nem que seja por um dia.
A exposição “Encontros em Quadrinhos” teve início em 17 de janeiro e vai até o dia 01 de março, em comemoração aos 140 anos da arte dos quadrinhos no Brasil. Está sendo apresentado um breve e dinâmico histórico sobre as HQs que fizeram o sucesso tanto no Brasil quanto no mundo.
Batman, Capitão América, Super-Homem, Mulher Maravilha e a Turma da Mônica são apenas algumas das centenas de personagens que podem ser vistos na exposição. Cada exemplar conduz o público por uma viagem imaginária. Para deixar o público ainda mais em “casa”, uma televisão exibe na telinha desenhos animados para todos os gostos. Almofadas espalhadas pelo chão ajudam os frequentadores a “viajar” no universo das HQ.

Educação pela arte
“A exposição é uma forma de educar pela arte, e não apenas um entretenimento”, diz Valdomiro Meireles, 35 anos, pesquisador e organizador da mostra, um voraz leitor de gibis desde a 4a. série. Ele cita como exemplo empresas que criam manuais de segurança no trabalho em forma de HQ’s, para facilitar o entendimento dos funcionários sobre as normas de procedimento.

Ao contrário das exposições montadas no SESC de Nova Iguaçu, que sempre chegam prontas e acabadas, Encontros com Quadrinhos foi idealizada, concebida e montada pela equipe da cidade. “É algo novo, que foi criado com muito carinho e dedicação”, diz o curador. A exposição foi baseada nas coleções do próprio Valdomiro e de Abelardo Jacinto, que tem milhares de exemplares.

A data da exposição foi escolhida para atingir um vasto publico: “Todas as faixas etárias são bem-vindas. O público vai além das escolas, que sempre estão nos prestigiando. Agora, o público é mais abrangente. Eles vêm com o intuito de conhecer mais sobre as histórias em quadrinhos.”

Cinquenta mil
Abelardo Jacinto, de 72 anos, professor de Letras, morador de Mesquita, é um exemplo a ser seguido. Possui uma coleção de mais de 50 mil gibis, que guarda com todo carinho. Coleciona “tirinhas” desde os dez anos.

O convite para participar da mostra veio de Valdomiro, que tomou conhecimento da sua coleção conversando com Sérgio Fonseca, amigo de Abelardo.

Sua primeira HQ foi um exemplar do “Tico Tico”, cujos desenhos ele gostava de olhar. Depois, passou a ler “Seleções”. Foi aí que nasceu seu interesse pela leitura.


A influência veio dos colegas, pois queria aprender a ler. O personagen que mais chamou sua atenção foi “Namor, o Príncipe Submarino”. É o seu preferido. “Fui lendo e guardando”, diz Abelardo. Hoje sua coleção tem mais de 50.000 mil exemplares, que guarda em sua casa cuidadosamente. Somente sua família é autorizada a mexer na coleção. Com restrições.

Do berço
“Quando meus filhos eram pequenos, eu colocava exemplares de HQ no berço, para que eles ficassem olhando.” A esposa reclamava do cheiro, insensível ao projeto de despertar o interesse deles pela leitura. “Valeu a pena, meus dois filhos tomaram gosto pela leitura.”

Além dos filhos, os netos tomaram gosto pela leitura. Alguns episódios desse processo de aprendizado ficaram tão marcados quanto as histórias que coleciona. “Minha neta mais velha, que na época tinha quatro anos e ainda não sabia ler, olhava os desenhos da Turma da Mônica e inventava a história.” Quando aprendeu a ler, a neta se queixou. “Poxa, vovô, você mentiu pra mim porque a história não era assim”, conta Abelardo com um largo sorriso.

As histórias em quadrinhos fazem parte da vida William da Conceição, de 25 anos, morador do Bairro da Luz, desde a 6° série. Influenciado por um colega de classe, William disse que seu personagem favorito é o Homem Aranha: “Começou pelo Homem Aranha, a primeira HQ que li.” Ele também gostava muito do Homem de Ferro, que na época era raridade: “Só quem tinha dinheiro podia comprar e como eu não tinha, ficava na ‘aba’ do meu colega, que às vezes, me emprestava. Isso quando queria”.

Para quem deseja visitar essa exposição, ela está aberta de terça a domingo, das 8h30 às 16h30, no Centro Cultural. A entrada é franca.

Programação

Criando Histórias em Quadrinhos – Oficina de criação e ilustração de histórias em quadrinhos ministrada pelo curso GRAPHITE, a partir de técnicas e modelos pré-estabelecidos. Dia 28/01- Horário: Das 9h às 12h e das 14h às 17h. Local- sala multiuso 1 – Grátis (mediante inscrição) – Vagas limitadas – classificação: 12 anos
>> Inscrições para agendamento: (21) 2797-3426

Mostra de filmes

  • Fala sério especial – homenagem aos quadrinhos
    22/01 às 10h e às 14h => “Estrada para Perdição” => 14 anos
    29/01 às 10h e às 14h => “300” => 14 anos
  • Sessão Pipoca Especial – homenagem aos quadrinhos
    24/01 às 14h => “X-men – O filme” => 12 anos
    25/01 às 14h => “Batmam Begins” => 12 anos
    31/01 às 14h => Supermam – O Retorno” => 12 anos

E mais... Exibições diárias de desenhos animados, mostra de tirinhas de jornal na área externa, espaço lúdico, troca-troca...

Salvador é aqui



















Abadás saem das micaretas e ganham as ruas

por Marina Rosa

Nem que seja só para ficar em casa, a blusa criada para ser usada no dia do show já virou parte do vestuário da juventude. Não importam a estação, a ocasião e a combinação: os abadás são vistos por toda a cidade.

O formato unissex deixa as meninas mais tentadas a remodelar a blusa, recorrendo dos apliques de lantejoulas a modelos de corte diferentes. A única preocupação dos meninos é com os abadás apertados, que valem aos desavisados a acusação de que estão usando o “abadá da irmã”.

O preço do show, na maioria das vezes, é o mais importante na hora de escolher qual será usado para desfilar por aí. Os mais caros tornam a pessoa invejada. É como um desfile de valores, de poder.

Abadá dos amigos
É inevitável andar pelo calçadão sem encontrar uma pessoa vestindo abadá como uma blusa normal. A moda pegou a um ponto tal que Lucas Oliveira, um morador de Vila de Cava de 18 anos, pede abadá a amigos das micaretas que nunca vai. “Às vezes, chego a acreditar que fui ao show, de tanto andar por aí com eles.”

A leveza do tecido e os seus decotes fazem do abadá uma espécie de uniforme de verão da juventude. "É fresquinho", resume Vitor Ribeiro, 22 anos, morador do Bairro da Luz. "No calor, é tranquilão de usar."

A nilopolitana Mariana Costa, 15 anos, tem a sua coleção de abadás, mas não gosta de usá-los na rua . "Os abadás que eu tenho não são nada bonitos ou arrumados", pondera a estudante. "Só para não ficar guardado, eu coloco em casa mesmo." Para Mariana Costa, as pessoas só usam abadá na rua quando estão com pressa. "Pra não perder tempo pensando em que roupa usar, pega um abadá."

Exibicionistas
Morador do Centro, Bill Júnior, 15 anos, tem ojeriza à moda dos abadás. "Nunca usei abadá porque gosto de coisas mais especiais do que 'micaretas' da Baixada", desdenha. Para ele, usar abadá depois do show é coisa para exibicionistas. "Só para dizer que foi à uma micareta."

No máximo, Bill Júnior se permite usar o abadá durante a micareta para a qual foi criado. "Nos dias 28 e 29 de janeiro, irei usar porque estarei no lugar onde as micaretas nasceram e vou na maior do Brasil, o Festival de Verão de Salvador!"

As micaretas não param e com isso o desfile de abadás aumenta a cada dia. É a moda criada pelo povo circulando pelas ruas.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Disposição das novinhas

Adolescentes vão para a noite atrás de homens mais velhos
por Aline Moraes, Gesseca de Lourdes, Vanessa Paes, Fernanda Reis, Marcos Vinicius de Azevedo, João Felipe de Oliveira e Renan Alves

Novinha é uma gíria usada pelos jovens para identificar as adolescentes mais ousadas. Apesar da pouca idade, elas se sentem (e agem) como mulheres adultas. O grande prazer delas é ir para a pista, onde chamam a atenção dos homens, muitos deles casados. São facilmente encontradas nos bares, escolas, lan house, praças e bailes funk. Estão sempre com a barriga à mostra, onde o piercing no umbigo é peça indispensável.

Suelen Amanda tem 15 anos, está cursando o 1° ano do ensino médio e mora em Mesquita. Um dos seus programas preferidos são os bailes funk, onde costuma dar especial atenção a homens montados em reluzentes motocicletas. A roupa curta faz com que se sinta sensual. “Os homens adoram e ficam me admirando”, orgulha-se. Suelen gosta de se exibir principalmente quando os objetos de sua cobiça estão acompanhados. “As mulheres se mordem de raiva.”

As novinhas são alvos de muitos comentários maldosos. Mas parece que elas têm um especial prazer de andar na boca dos outros. Pelo menos esse é o caso de Suelen, que está pouco se lixando para as fofocas difundidas pelas “recalcadas”. “As meninas que me chamam de mercenária ficam se mordendo porque eu consigo o garoto que eu quero”, afirma. “Motorizado, é claro.”

Mercenária
Carla Cristina, uma moradora de Nova Iguaçu que está na flor dos seus 13 anos, não se constrange com o rótulo de mercenária, muito comum às novinhas. “Não vivo sem uma moto e um belo gato em cima dela”, explica a menina, que parou de estudar. Carla Cristina tem suas estratégias para praticar seu esporte preferido: beijar na boca. “Só vou ao forró com uma saia ou vestido bem curto”, diz ela. “Os homens ficam loucos quando começo a dançar com minhas amigas.”

Carla também não se incomoda com os comentários a seu respeito. “Podem me chamar de safada”, afirma. Ela só quer ser feliz nos braços dos homens mais velhos. “Fico com quem eu quero.”

A estudante Juliana dos Santos, um moradora de Mesquita com 17 anos, está no limiar da faixa etária dentro da qual cabe a categoria das novinhas. Talvez por estar chegando à idade adulta, ela cai na noite com mais disposição do que as novinhas mais novas. Pelo menos foi essa a impressão que deixou na aguardada Micareta da Ivete, quando beijou nada menos do que 21 garotos. “Lá a pegação rola solta”, conta. Seu namorado, com quem mantém uma relação aberta, também estava nesta festa. “Quando vamos para micareta, ninguém é de ninguém”, afirma a estudante. “Beijo quem eu quero e ele também.”

Férias de verdade

Trinta mil crianças participarão da segunda edição do "Recreio nas férias"
por Josy Antunes

Todo ano é a mesma coisa: a classe média festeja a chegada das férias escolares, durante as quais os estudantes podem ir para a casa de um parente, ir a uma colônia de férias ou curtir as modas de verão. Mas as famílias pobres não sabem o que fazer com os seus filhos, praticamente mantidos em cárcere privado enquanto os pais trabalham. Para contornar esse problema, 86 escolas municipais de Nova Iguaçu abrirão suas portas a partir da próxima semana para receber 30 mil crianças em horário integral.

Esse projeto, chamado “Recreio nas Férias”, é o resultado de um projeto do “Segundo Tempo”, um programa do Ministério de Esportes em parceria com a Prefeitura de Nova Iguaçu e o Projeto Bairro-Escola. Ele começa na próxima segunda-feira 26 e se estende até o dia 6 de fevereiro, no horário integral. Haverá atividades lúdicas, esportivas, artísticas, culturais, sociais e turísticas.

Prioritariamente, as crianças atendidas serão aquelas que já estudam na rede municipal, mas as demais crianças da comunidade também serão beneficiadas. A abertura para essas crianças permitirá que o governo dialogue com os responsáveis pelas crianças que não estão matriculadas em nenhuma escola municipal. “Assim esperamos contribuir para o ingresso delas na rede”, diz o subsecretário de Cultura e Turismo Rômulo Salles, um dos coordenadores do projeto.

As escolas participantes do projeto recebem uniformes para as crianças e organizadores, crachás, alimentação e materiais usados em sala de aula e na prática de jogos e esportes. Uma das metas é desenvolver socialmente as crianças, melhorando o convívio entre elas.

O projeto, que está em seu segundo ano, reúne as Secretarias de Esportes e Lazer, Cultura e Turismo e Educação. As atividades culturais contam com jogos, gincanas, danças, música, desenho e pintura, além de apresentações artísticas.

Filmes das crianças

O subsecretário Rômulo Sales adianta um pouco da programação em relação às apresentações artísticas: “A grande novidade desse ano é que em todas as escolas serão exibidos três curtas metragens, produzidos pelas próprias crianças que estudaram ao longo dos anos na Escola na Escola Livre de Cinema, no programa Bairro-Escola. São os filmes do Iguaçu e sua Turma.” Os três filmes focalizam diferentes temáticas educativas. Um dos filmes toca na questão do meio ambiente, que é uma orientação do Ministério dos Esportes, mostrando a luta contra a Dengue, que foi vivenciada pelos moradores de Nova Iguaçu no ano passado.

Suzana Barbosa, estudante de Educação Física e professora de esportes do projeto desde a edição passada, lembra as dificuldades enfrentadas nos primeiros dias de trabalho na Escola Municipal Ana Maria Ramalho, em Miguel Couto: “No início, eles brigavam muito, não sabiam brincar um com o outro. Com o tempo, propus brincadeiras em grupos, um ajudando o outro e dividindo os brinquedos.”

Outra grande novidade da segunda edição do Recreio nas Férias é o turismo. “Cem estudantes de turismo cidade estão percorrendo os bairros e os arredores das escolas, para descobrir importantes pontos culturais, artísticos e históricos”, explica Érica Braga, que passou a última semana se descabelando atrás de profissionais. O roteiro turístico não pode incluir locais distantes da escola, tem que divertir as crianças e valorizar a cultura local. “O roteiro turístico também inclui uma visita das crianças à casa de um contador de histórias”, explica Rômulo Salles. “Esse contador será um artista popular, que canta ou toca, que vai fazer uma grande apresentação.”

Além dos estudantes de esporte, cultura e turismo, o Recreio nas Férias está contratando agentes comunitários, que são pessoas da própria comunidade. São pessoas da comunidade que promoverão uma atividade recreativa com os alunos, além de fazer articulações com os elementos do bairro. Os jovens da Escola Agência de Comunicação também participarão, promovendo oficinas de blog que usarão os muros das escolas, além de produzir matérias sobre as múltiplas atividades no Recreio de Férias.

O projeto também é visto como um grande incentivador do horário integral do Bairro Escola. “Se as crianças perceberem que de alguma maneira foi divertido durante as férias, podem ser atraídas a continuarem ao longo do ano”, finaliza Rômulo Sales.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

A feira da discórdia




Feira de carros divide comunidade de Santa Eugênia
por Leonardo de Oliveira e Lucas Lima

Acontece há aproximadamente 10 anos no bairro de Santa Eugênia uma feira automotiva que promove a negociação de veículos dos moradores da região. A feira ocorre todos os domingos pela manhã, nas proximidades do supermercado Extra.

Os vendedores chegam ao local e, aproveitando o grande interesse por veículos usados, sempre mais em conta, expõem seus veículos livremente sem qualquer organização formal. “Estou aqui à procura de um carro mais barato, porque as prestações em uma concessionária estão superaltas”, diz a jovem Ilce Camila da Silva, 19 anos. “Vale mais a pena comprar um carro usado do que um 0 km.”

Embora a feira seja informal, os vendedores afirmam que a transação é totalmente legalizada, sendo registrada em cartório e acompanhada pelo DETRAN. Assim como a legalização, o pagamento também não é realizado no local da feira para que haja um maior conforto entre ambas as partes. O interessado e o vendedor entram em contato e, juntos, combinam as melhores condições de pagamento. “A feira funciona apenas como uma vitrine de divulgação, o trâmite é todo feito na minha casa”, declarou o vendedor Carlos Faria, 42 anos.

Sujeira
A feira começou no estacionamento do extinto mercado Paes Mendonça, mas, quando mudou a administração, ela feira passou a ser realizada do lado de fora. Foi aí que começaram os incômodos para a comunidade. “Não gosto dessa feira, pois simplesmente atrapalha todo o transito”, afirma a comerciante Neucina Eneu, 57 anos. “É horrível quando os pedestres precisam passar pela calçada e ela está completamente interditada.” A moradora Heliédina Ferreira, 33 anos, aumenta o coro dos descontentes. “Até mesmo os ônibus precisam esperar o da contramão passar para que ele possa seguir em frente”, reclama. Os moradores também ficam irritados com a sujeira deixada pelos vendedores.

Entretanto, não são todos os moradores que se incomodam com a feira de automóveis. Esse é o caso de Paulo Henrique, que mora na Santa Eugênia há 34 anos e aproveita o burburinho da feira para passear com o filho pequeno. “Não me incomodo nem um pouco”, afirma. “A feira é boa para as pessoas que têm dificuldade para vender seus carros e motos."

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Bazar iguaçuano






















Camelôs ganham mais do que trabalhadores da economia formal
por Flávia Ferreira
fotos: Flávia Ferreira e Letícia da Rocha

A crise mundial deve agravar a situação, mas não é de hoje que o número de trabalhadores informais aumenta de ano para ano. Basta você sair pelas ruas de Nova Iguaçu, ou de qualquer outro centro urbano, para perceber as estratégias de sobrevivência das camadas populares. Vende-se de tudo, para todos os gostos: balas, roupas e calçados, até material esotérico.

O potiguar Francisco de Assis Guilherme, 64 anos, faz parte do exército de ambulantes que diariamente se apossa das ruas de Nova Iguaçu. Com 43 anos de Rio de Janeiro, ele transporta produtos esotéricos de Austin, bairro onde reside, até o centro de Nova Iguaçu. Faça chuva ou faça sol, ele monta sua barraca no camelódromo do Calçadão.

A história de Seu Francisco nas ruas começou há cerca de 22 anos, na longínqua Copacabana. "Vim para cá em 1993, porque a vida na Zona Sul é muito cara e, por mais que ganhasse, não compensava." Os lucros obtidos com a barraca do camelódromo de Nova Iguaçu, onde o forte cheiro de incenso se mistura com o nauseabundo odor de urina, estão longe de ser espetaculares. "Mas a vida aqui é muito mais barata."

O interesse do ambulante pelos produtos que vende não tem a menor relação com sua opção religiosa. Ele estava apenas querendo se livrar do regime de semi-escravidão, vivido em seu último trabalho formal, na Labiceramica. "Saí de meu emprego porque eu trabalhava doze horas por dia", lembra o ambulante, que não se arrepende de ter investido no próprio negócio.

Mais tempo com a família
Na contabilidade do vendedor de churros Jonas Paz da Silva, 34 anos, entra na coluna de vantagens a possibilidade de passar mais tempo com a família proporcionada pelo trabalho informal. "Se trabalhasse no mercado formal hoje, não conseguiria estar próximo à minha família, porque a carga de trabalho é abusiva", contou ele enquanto preparava os churros para a fila de clientes.

No entanto, essa não é a única razão para ele sair diariamente de Boa Esperança, para vender seus churros no centro de Nova Iguaçu. Além da dificuldade de se conseguir uma posição no mercado formal, há a falta de escrúpulos das empresas na hora de se desfazer de seus funcionários. "Quando você é mandado embora, tem que brigar na justiça por seus direitos", lamenta. Para garantir o "pé-de-meia", o vendedor de churros paga autonomia e faz aquela economia bem brasileira de centavo em centavo. Em média, ele tem um lucro mensal de R$ 1 mil.

Dupla sertaneja
Nádia Pires Fortes, 38 anos, recorreu ao comércio ambulante de sanduíches, salada de frutas e tortinhas com a inesperada demissão do marido. "Minha irmã Neide me chamou para trabalhar com ela depois que o meu marido e o dela ficaram desempregados", diz. Mas, com a reentrada dos respectivos cônjuges no mercado de trabalho, a única mudança na vida das duas foi a separação da dupla que fizeram ao longo de cinco anos.

Fazer sozinha o circuito pelas agências bancárias e repartições públicas de Nova Iguaçu já não tem o mesmo charme da época em que vendia seus produtos com a irmã, com quem tem uma enorme semelhança física. "Como jogada de marketing, nós andávamos com roupas iguais", lembra ela. As irmãs chegaram a ser comparadas às cantoras Pepê e Neném, que na mesma época faziam sucesso nas rádios. Com ou sem companhia, os ganhos de Neide continuam expressivos para uma trabalhadora pouco qualificada. "Ganho cerca R$ 75 por dia", contabiliza.

Priscila Santos, 25 anos, não gosta de andar muito. Há três meses, cansada de ganhar um salário mínimo nas lojas em que trabalhava, ela monta sua banca vendendo capas de celulares no calçadão de Nova Iguaçu depois das 19 horas. "Aqui o dinheiro é certo e muito maior", diz ela. Embora não revele quanto fatura nas calçadas de Nova Iguaçu, o dinheiro que ganha como camelô é suficiente para pagar as próprias dívidas e sustentar a irmã mais nova, de 15 anos. Priscila não troca a liberdade do trabalho informal, onde trabalha o tempo que quer e no lugar em que quer, por nada.

Parada obrigatória


Há 70 anos, o Caldo de Cana da estrada de Madureira no Bairro Cabuçu é uma parada obrigatória
por Wanderson Santos

Quando a UPA de Cabuçu foi inaugurada, o outdoor com que o Governo do Estado anunciava a obra, mostra a importância dos caldos de cana situados em seu entorno. “Em frente ao antigo Caldo de Cana do Moisés”, orientava a propaganda espalhada pela Estrada de Madureira. Não é à toa. Uma das maiores tradições de Nova Iguaçu é dar uma parada ali para saborear o caldo de cana, devidamente acompanhado de um bolinho de aipim, um joelho ou da clássica coxinha de galinha, o salgado mais pedido do estabelecimento. Podem-se encontrar ali desde moradores do bairro, a pé ou em carros de passeio, até caminhoneiros que transportam sua carga pela Baixada Fluminense.

"Quando havia peladas no campo ao lado, todo final de semana ficava bem agitado", lembra o atendente Antônio Timóteo, 63 anos. "Hoje só fica lotado aos domingos." Apesar da queda no movimento, o consumo continua grande, principalmente no verão. "A casa compra dez dúzias de cana-de-açúcar a cada quatro dias", contabiliza o mesmo Antônio Timóteo. "Mas quando chega o calor a gente tem que aumentar a encomenda." Mesmo nos dias de semana.

Cheirinho
O cheirinho peculiar do local é um atrativo à parte. Chega a dar água na boca, chamando a atenção e despertando a curiosidade de quem freqüenta, ou passa pelo local. Maria Lúcia, 54 anos, é quem garante o bom paladar dos salgadinhos. É a cozinheira do local. O movimento aos domingos começa muito cedo para ela. "Os carros de passeio começam a chegar por volta das seis horas da manhã", conta a cozinheira, que gosta do aconchegante clima familiar criado pelos clientes. "Muitos costumam trazer filhos e até mesmo netos durante anos e anos."

A fidelidade dos clientes é um fator importante. O pedreiro Joel, 32 anos, mora nas proximidades da Estrada de Madureira e é visto com frequência com os amigos passarinheiros no Caldo de Cana. "Venho com meus amigos sempre que tenho tempo, para jogar conversa fora. Botamos nossos passarinhos na coluna de madeira do telhado, sentamos nas cadeiras e pedimos nossos caldos de cana, ficamos aqui por horas a fio. Aos domingos fica difícil arranjar uma mesa, a concorrência é grande."

Clientes fiéis
Matar o tempo em uma boa conversa também é um forte motivo para uma paradinha em dias de calor. O maior hobby do também pedreiro João Emanuel, 36 anos, é o Caldo de Cana de Cabuçu. "Não há tempo melhor e mais bem gasto do que sentar em uma sombra junto com os amigos e tomar um gostoso caldo de cana, acompanhado por um bolinho de aipim, e bater um papo à vontade. É o meu maior prazer." Sempre que pode, João Emanuel leva o filho Lucas Souza. "O menino só não vem mais por causa da escolinha", lamenta.

O mecânico Ricardo Scoralick, 37 anos, lastima não poder ir diariamente ao Caldo de Cana. "Não dá para vir todos os dias, mas, quando venho, aproveito o máximo." Um dos dias em que com certeza o mecânico é visto saboreando o caldo de cana da Estrada de Madureira é o domingo. "Chego aqui às seis, antes de abrir minha borracharia", conta ele. "É aqui que tomo meu café da manhã." Eventualmente, ele volta para fazer um lanche no caldo de cana.

Mulheres também apreciam beber um caldo e comer um salgadinho. Elizabeth Coelho, uma simpática aposentada de 56 anos, levou o filho Yan, um professor de 28 anos. "Esse lugar é muito legal. Apesar do calor que faz hoje, escolhemos uma sombrinha para poder curtir. Realmente é nota dez." A narrativa do filho não é muito diferente. "Vira e mexe eu apareço por aqui", conta o professor. "A diferença é que hoje passei na casa de minha mãe.Ela quase não sai, e convidei-a para vir comigo." Dona Elizabeth, que pela primeira vez ousou fazer a travessia de sua casa, no Inferninho, até o caldo de cana, adorou o pastel de carne. "Estava realmente muito bom", conta ela, que pretende voltar outras vezes descoberto ao lado da pessoa que mais ama.

Terceira geração
O estudante de fisioterapia Luciano Martins, 22 anos, frequenta o local desde criança. "Meu pai me trazia aqui quando era pequeno, junto com meu avô", lembra ele, que continua achando que não há nada melhor do que a sensação de um salgado e uns belos goles de caldo bem geladinho descendo pela garganta. "Adoro os salgados daqui e às vezes ainda levo uns bolinhos de aipim para casa." Luciano, que pertence à terceira geração de freqüentadores, ainda lembra a primeira vez em que se empanturrou de pastéis no caldo de cana da Estrada de Madureira. "Eu tinha nove anos quando meu pai me trouxe aqui pela primeira vez há muitos anos, com o meu avô." Luciano sempre repete esses programas quando recebe a visita do pai e do avô. "Meu avô tem problemas de saúde e não pode se deslocar com freqüência. Por isso, quando ele vem lá em casa, combinamos os três em vir até aqui. É um ótimo programa".

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Heróis por alguns minutos

Febre do Guitar Hero chegou a Nova Iguaçu

por Daniel Santos

Quem nunca sonhou em ter uma banda e se tornar uma estrela do rock? Isso é ótimo, né? Pena que pouquíssimos felizardos possam chegar até lá. Uma das formas de vencer as barreiras que nos separam do estrelato está no Guitar Hero, um divertido jogo de gênero musical. Com ele, você pode tocar clássicos do bom e velho rock and roll como se fosse um mestre do instrumento.

As opções vão de Deep Purple a Iron Maden, passando por Red Hot Chilli Peppers e Nirvana. E o melhor de tudo: toca com um joystick em forma de guitarra, geralmente baseado na guitarra Gibson SG. Para quem não sabe, esse instrumento foi o companheiro inseparável de astros do quilate de um Jimi Hendrix, Carlos Santana e Frank Zappa.

O jogo, que foi desenvolvido em 2005 nos Estados Unidos, tornou-se mundialmente conhecido e está em sua sétima edição oficial. No Brasil não foi diferente: o jogo logo virou febre entre os jovens. Nova Iguaçu, uma cidade com um imenso número de tribos, também aderiu à novidade. Quem quiser ver, basta ir ao Top Shopping e ao Center, o primeiro shopping da Baixada Fluminense.

Vale tudo
Lá você vai ver adolescentes e até mesmo adultos se divertindo sozinhos, em duplas ou mesmo em grupos disputando campeonatos. "Vale tudo pra colocar o nome entre os melhores do ranking", diz o comerciante conhecido como Tião do Fliper, que já organizou diversos torneios de Guitar Hero. Seus campeonatos costumam reunir centenas de jovens dispostos a tudo para entrar no ranking. Os dez primeiros colocados ganham medalhas e o grande vencedor pode levar para casa um troféu, um MP3 e um controle em forma de guitarra.

A fissura pelo game vai muito além do fliperama. Já é grande também o número de jogadores que aderiram às diversas modalidades de aparelhos eletrônicos compatíveis com o Guitar Hero: celular, videogame e computador conectado ou não à internet.

Esquece o jantar

Diógenes Lima, 16 anos, que acabou de migrar do videogame para o fliperama, encontrou no Guitar Hero uma forma de evitar os jogos violentos. "Gosto de interagir com o jogo", diz ele. "Parece que realmente estou tocando uma guitarra." Ele, que gosta de tocar principalmente a música Stricken, da banda Disturbed, passa cerca de quatro horas diárias de cara para tela, muita das vezes acompanhado de outros players.Embora já tenha comprado uma guitarra no valor de R$ 140 e CDs de várias edições do jogo, Diógenes não se sente um viciado. "Também tenho minha vida social", afirma. "Gosto do jogo, mas consigo conciliar meu tempo a outras coisas , meus amigos e minha namorada."

A vida do roqueiro Nilton Felipe, 18 anos, nunca mais foi a mesma desde o dia que conheceu as "fantásticas possibilidades de fazer um som com apenas alguns botões do jogo". Ele, que uma vez começou a jogar depois do almoço e só parou para jantar, "lá pelas onze da noite", não tem dúvidas quanto ao seu diagnóstico: "Me considero um viciado mesmo", admite. "Já deixei de fazer tarefas do meu curso pra jogar Guitar Hero." Para tornar a disputa ainda mais emocionante, ele reúne alguns colegas para jogar. "A zoação rola solta, pena que não tem nenhuma garota. Mas o lado bom é que da pra xingar a vontade."

Tem gente que transforma o teclado do computador em uma grande guitarra. Esse é o caso de Rafael Passos, o Venom 1000. "Comecei a jogar pelo PC há uns 4 meses e há uns dias atrás me achava um viciado", admite ele, que toca baixo em sua igreja. "No começo, fazia o teclado de instrumento musical. Mas acabou não dando certo. Eu viajava, parecia um maluco, achando que tava tocando guitarra." A indústria de celulares também está se adaptando à febre do GH, incluindo o game na maioria dos aparelhos. "Quando não tenho mais nada pra me divertir, pego o celular e o guitar hero vira meu passatempo", afirma o estudante Leandro da Silva Tenório, 15 anos.

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