domingo, 30 de agosto de 2009

Papo de Negão

HOJE NO II IGUACINE

Guerreiro da periferia deseja passar todo o conhecimento adquirido no cinema para moradores de comunidade
por Marcelo Santos

Certa vez, um jovem da periferia de São Paulo estava procurando emprego e ao caminhar por entre as ruas do seu bairro avistou a seguinte faixa: “oficina de vídeo”. Sem perder tempo, imediatamente o jovem se encaminhou para o local, pois ele observou naquela faixa a oportunidade de praticar um curso que lhe oferecesse uma boa profissão no futuro. Entretanto, o curso não era “bem” o que ele esperava. O curso não lhe ensinava a consertar videocassete, videogame e coisas desse tipo, como ele imaginou.

Essa inusitada história foi vivida pelo João Carlos, também conhecido como JC, de 25 anos, nascido e criado em Cidade Tiradentes, um bairro na periferia de São Paulo. “Acabou que hoje eu sou editor de vídeo profissional, trabalho na área e é da onde que eu tiro o meu sustento. Sustento o meu filho e minha família através disso”, conta JC, que antes tinha sido segurança por causa do seu avantajado porte físico (2,02m). “Eu não gostava de fazer porque você tem que está sempre com aquela postura de mau e tratar as pessoas com certa arrogância e frieza. Hoje eu faço o que amo e adquiri muito conhecimento através do cinema”.

Com o conhecimento e a estabilidade que adquiriu, JC se tornou coordenador de um projeto itinerante chamado Cinema de Periferia. “Nosso objetivo é levar o cinema brasileiro, conhecimento e conscientização às ruas e praças das periferias de São Paulo”, afirma o produtor cultural. O projeto começou a partir da força de vontade e garra de JC e seus amigos. “Após a oficina, decidimos dar continuidade ao aprendizado que foi adquirido no curso e também nos especializar um pouco mais”, lembra JC, que saiu do curso em questão como editor de imagens. “Percorremos diversas ONGs, faculdades e produtoras de audiovisuais e cinema e vídeos para adquirimos mais experiência e vivência. E também fizemos um curso de captação de recurso e elaboração de projeto”.

JC não é apenas cria da periferia, mas também agente social do meio onde vive. Segundo JC, o Cinema da Periferia começou com o intuito de viabilizar os vídeos produzidos por ele e seus companheiros, que não estavam sendo visto pelos morados do bairro por causa das barreiras geográficas criadas pela imensidão do estado de São Paulo. “Os nossos vídeos eram exibidos em muitos festivais, mas, como os lugares desses festivais eram muito distantes do nosso bairro, se tornava difícil o acesso dos moradores aos nossos filmes. Daí surgiu à idéia de distribuir cópias de nossos vídeos nas locadoras do nosso bairro”. Foi assim que se tornou viável o acesso dos moradores aos filmes da rapaziada, que enfim pode trazer as suas experiências culturais e técnicas. “Também pudemos mostrar as coisas positivas que tem em nosso bairro”.

O projeto cresceu e hoje está em percorrendo ruas e praças da periferia de São Paulo. Durante o dia, JC e sua equipe se instalam na praça de um determinado bairro periférico e apresentam palestras e músicas de diversos assuntos e estilos. “As palestras são sobre educação sexual e prevenção de doenças transmissíveis, entre outros assuntos de interesse das comunidades. Tem músicas para todos os gostos e à noite um filme sempre brasileiro com o intuito de despertar cada vez mais a visão critica das comunidades. A pipoca também é por nossa conta”, acrecenta JC, exaltando a parceria com a comunidade. “O público participa de várias formas: divulgando o evento, ajudando na montagem e escolhendo os filmes”.

O projeto Cinema de Periferia fez tanto sucesso que já rendeu reportagens a programas televisivos de grande expressão e audiência popular, como o Central da Periferia e diversos jornais de São Paulo. “O bairro apareceu na mídia de forma positiva, da maneira que a gente gostaria que sempre aparecesse. Isso também é uma forma de mostrar para a sociedade preconceituosa que nas comunidades tem muito gente de valor”.

Enfim, João Carlos deixa uma última mensagens para todos aqueles que vivem em meio ao caos e à incerteza: “Acredite nos seus sonhos e objetivos e corram atrás, não fique esperando que as coisas venham a acontecer, pois faça e respeite o próximo”.

Interatividade:
Expresse sua idéia sobre algum projeto ou mudança político e cultural que você deseja ver no seu bairro ou cidade.

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