sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Laura emociona público do Iguacine

OLHA O II IGUACINE AÍ, GENTE

Documentário "Um dia de Laura" é exibido na Mostra Encontros
por Josy Antunes

Qual será a sensação de receber a notícia da exibição de seu filme no Iguacine? Pois Luan Felipe, 19 anos, produtor executivo do documentário “Um dia de Laura” passou pela experiência, quando Valquiria Ribeiro, uma das organizadoras do evento, o telefonou. “Disseram que é um filme bom e que ele abriria o Festival. Ainda perguntaram se eu aceitava”, exclama o estudante de administração, lembrando do momento. Da mesma forma, não se pode esquecer do dia em que a inscrição foi realizada, com um certo grau de adrenalina. “O correio fecha às cinco. Quando faltava cinco minutos, do último dia, a gente ainda estava imprimindo os documentos pedidos”, entrega Luan. “Aí eu fui correndo, peguei uma bicicleta emprestada e fui que nem um doido pro correio perto estação. Quase fui atropelado”, conta em meio a risos, ao contrário da tensão surgida ao ver o estabelecimento quase fechando. O material deveria seguir para o escritório da ONG Reperiferia, na Lapa, onde seria realizada a seleção, do qual o crítico cinematográfico Rodrigo Fonseca participava como curador.

A iniciativa do envio do filme é, em partes, atribuída a Rodrigo, que motivou o trio Luan Felipe, Douglas Gomes e Miguel Nagle. Quando os dois primeiros – para os quais ministrou aulas, no primeiro semestre, na Escola Livre de Cinema – mostraram o documentário, na intenção de receber uma crítica daquele que é apto a fazê-la, o professor, sem saber, mudou a percepção dos realizadores sobre a obra. “O Rodrigo falou que o problema de muitos documentários do Brasil é que querem mostrar que o personagem é melhor do que os outros da sociedade, por algum motivo”, conta Douglas, 21 anos, que presenciou o encantamento do crítico pela sinceridade do filme.

O documentário, que surgiu a partir de um exercício solicitado nas aulas da Escola Livre de Cinema, também foi prestigiado por Henry Grazinolli, um conceituado roteirista, que assistiu o filme durante uma oficina Tela Brasil, em Cabo Frio. “Ele ficou em choque, parado”, descreve Miguel, 25 anos. Enxugando uma lágrima que escorria do olho, Henry pediu uma cópia e em seguida lançou: “Cara, esse filme é lindo. Eu posso usar ele na minha aula de documentário?”.

“Um dia de Laura”, teve sua primeira exibição, para um pequeno público, num encontro de família, em comemoração ao aniversário de sua personagem – em agosto de 2008. “Ela gostou demais, se divertiu com ela mesmo”, lembra o neto, com carinho. No carnaval do presente ano, Laura veio a falecer, fazendo com que o filme ganhasse um caráter ainda mais delicado. “Eu tenho um carinho muito especial por ele, porque eu assito e lembro da minha vó”, declara Miguel. Nos meses que se sucederam, a coragem foi essencial para que as imagens fossem novamente exibidas, até mesmo para os amigos da Belê Filmes, que mantinham uma boa relação com a senhora. “Era muito louco. As pessoas quando viam o filme, saiam daqui e ela tava ali vendo TV”, diz ele, voltando no tempo.

Os realizadores garantem que o impacto gerado pela última cena - no qual um diálogo é apresentado entre neto e avó – já existia antes da inscrição com o ano de seu nascimento seguido de 2009, indicando um final do filme, na vida real. “Eu perguntei pra minha família se não tinha problema continuar divulgando e eles toparam, como homenagem”, explica o diretor, que reuniu suas forças com os incentivos gerais para tomar a atitude .

“O Iguacine tem um papel fundamental na cultura de Nova Iguaçu”, avalia Miguel Nagle, diretor do filme que emocionou o público, durante a Mostra Encontros. Após a exibição - precedida pelo filme “Mães do Hip-Hop”, do Grupo Enraizados - foi proposto um debate, na qual espectadores puderam interagir com realizadores. “Eu sempre fico tenso pra saber a opinião das pessoas que não conhecem”, confessa.

Com os assentos do local todos preenchidos, o teatro tinha a presença de tias de Miguel, que assistiram o documentário pela primeira vez. Além de Fátima Miguel, a mãe, que foi uma das primeiras espectadoras, quando a edição dos 15 minutos do vídeo ficaram prontas. “Apesar de jovem, ele conseguiu captar bem a vida dela. Conseguiu perceber a solidão. Me impressionou”, declara.

Marcela Camargo, que dirigia a programação, regressou à frente ainda emocionada, sob efeito da exibição. “O filme me tocou, porque quem é aquela mulher? O que será que estava dentro dela?”, indagou-se. “Mexeu comigo, lógico, porque mexeu com os meus valores. O que me traz felicidade ou o que traz felicidade pra minha mãe, são coisas completamente diferentes, porque é outra geração. Fiquei angustiada”, comenta ela, ainda carregando questões que gostaria de ter direcionado ao diretor, principalmente sobre a felicidade de Laura. “Era uma coisa que eu queria explorar melhor no debate, mas que a gente não teve tempo”, lamenta.

Miguel, Felipe e Luan, assim como os demais integrantes da Belê Filmes, tem em comum a passagem pela ELC que, sem dúvidas, marcou de forma peculiar a vida de cada um deles. “Tem uma galera muito boa saindo daqui”, acredita Nagle.


Interatividade:
Dê sua opinião sobre o filme “Um dia de Laura”, caso o tenha assistido.

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