sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

A gravidez da cobra


Posse do Conselho Municipal de Cultura leva classe artística ao Sylvio Monteiro

"A cultura é uma cobra que morde o próprio rabo", disse o jornalista Almeida dos Santos, um dos maiores inimigos do governo Lindberg Farias. Com essa frase de efeito, o jornalista justificou sua presença na solenidade de posse dos 12 membros do novo Conselho Municipal de Cultura de Nova Iguaçu na noite da última quinta-feira, no teatro do Espaço Cultural Sylvio Monteiro. Apesar das chuvas que castigaram a cidade, a classe artística foi em peso prestigiar o evento. Também estiveram presentes Delmar Cavalcante e Jonathas Garré, secretários de Cultura de Mesquita e Queimados, respectivamente. A festa se estendeu até as primeiras horas da madrugada.

A solenidade foi aberta com um breve discurso do poeta Jorge Cardozo, sub-secretário de Cultura e Turismo e um dos mais antigos militantes da cultura em Nova Iguaçu. Depois de tratar o evento como "uma festa para um ano de muitas batalhas", ele anunciou o nome das pessoas que compuseram a mesa: o cineasta Marcus Vinicius Faustini, o vereador Carlos Ferreira e a poeta Ivone Landim. Lúcia Pardo, a representante do Minc no Rio de Janeiro, ficou presa no engarrafamento da Avenida Brasil e não chegou a tempo de participar da mesa.

Falando em nome da classe artística de Nova Iguaçu, a poeta Ivone Landim leu um longo texto no qual tentou fazer um histórico da "luta pela arte e pela cultura". Apareceram aqui e ali referências a Sylvio Monteiro, à Primeira Bienal do Livro, às duas conferências de cultura, ao Encontrarte, ao Iguacine e à Lei de Incentivo à Cultura. A imagem mais presente em sua fala foi a de uma Nova Iguaçu grávida, que ela extraiu de uma letra de música de Heitor Neguinho. "Está e sempre estará grávida de talentos e guerreiros culturais", afirmou. O vereador Carlos Ferreira, um antigo aliado da causa da cultura, resumiu a importância da relação entre o poder político e os artistas com o dia em que o Encontrarte obteve o primeiro financiamento do poder público. “Adianta ir lá”, afirmou. “Sempre pinta alguma coisa.”

Cenas marcantes
O cineasta Marcus Vinicius Faustini, fez um histórico de sua à frente da Secretaria de Cultura e Turismo, que ele batizou de “realizadora”. “A cultura precisa de uma luta diária para se impor tanto no país como dentro do governo”, afirmou. Essa luta, apesar da desconfiança com que foi recebido pela classe artística da cidade, já deixou um legado para a cidade. “Conseguimos lançar os editais do Fundo Municipal de Cultura e dos chamados Pontinhos de Cultura”, comemorou o secretário. Mas, para Faustini, a cidade conseguiu se tornar uma referência nacional por conta do casamento da educação com a cultura.

O secretário de Cultura e Turismo também festejou a entrada em cena de novos atores sociais, todos eles vindos da periferia. “Eles estavam alijados do processo”, afirmou. A abertura das portas da cultura para a diversidade, que será adotada nas cidades da Baixada em que o PT se sagrou vencedor nas últimas eleições municipais, modificou a cidade. “A cultura não só pede”, afirmou. “Quando a cultura recebe, ela cria cenas marcantes para a cidade.”

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Prova final


Oficinas dos Pontinhos de Cultura foram apresentadas aos estudantes do segundo segmento

A semana passada foi muito intensa para as escolas municipais do segundo segmento de Nova Iguaçu. De um lado, havia o clima naturalmente tenso de fim de ano, em que os poucos alunos presentes estavam preocupados com as provas de recuperação. Do outro, estavam os proponentes das oficinas culturais do projeto Escola Viva / Bairro Escola, mais conhecidos como pontinhos de cultura. Esses encontros, ocorridos em 31 escolas de 25 bairros diferentes, tinham como objetivo definir a distribuição dos 68 projetos habilitados pela comissão julgadora no último mês de setembro. Os estudantes votaram nas modalidades artísticas que lhes pareceram mais atraentes.

Uma das escolas visitadas foi a Venina Correa Torres, na Califórnia, onde nada menos que nove projetos disputavam a adesão dos alunos há um ano dirigidos pela professora de português Elienai da Silva Gandra. A visita, feita de supresa na tarde da segunda-feira 8, pegou uma escola bastante agitada. “O professor de desenho quase não pôde explicar como seriam as oficinas dele”, queixou-se Alan Costa de Lima, aluno de 14 anos do oitavo ano, muito embora o amor que tem pelos mangás orientais o tenha levado a votar no projeto defendido pelo pintor Carlos Osório. “Os alunos ficaram zoando quando ele mostrou um desenho do Einstein, dizendo que ele parecia com o pai de um, com o pai do outro.”


Apesar da zoação, os estudantes da Venina reconheceram a importância do processo de adesão, durante o qual os proponentes percorreram as salas de aula do segundo segmento para defender seus projetos. Um bom exemplo disso foi Carlos Vinicius de Souza Fernandes, aluno de 13 anos do sétimo ano. Ele passou direto e havia se comprometido com o padrasto de ir até o Méier, onde tinham que pegar um sofá para estofar. Mesmo assim, fez questão de passar na escola para votar no projeto de teatro. Além de gostar da escola e de sentir necessidade de participar das decisões da vida acadêmica, Carlos Vinícius temia perder a oportunidade de ter uma modalidade artística muito mais enriquecedora para os jovens. “Acho que com o teatro a gente aprende mais”, afirmou. No entanto, tanto ele quanto Alan acham que o grande vencedor da Venina será o projeto de hip hop apresentado pelo espaço cultural Na encolha.

O clima foi bem diferente na Althair Pimenta de Morais, na localidade conhecida como Três Fontes, em Austin. Dirigida desde 2003 pela pedagoga Rosângela dos Santos Vasques, essa escola, com 11 salas, 22 turmas e 771 alunos, ainda não foi agraciada pelos projetos que deram a Nova Iguaçu o título de cidade educadora. E foi por isso que, tão logo foi informada da visita da caravana dos pontinhos, a diretora reuniu os pais para alertá-los para a importância dessa parceria entre os governos federal e municipal. “Vocês sabem como nossa comunidade é complicada”, disse ela, numa velada referência às bocas de fumo que funcionam no entorno da escola. A comunidade respondeu com entusiasmo, mandando a quase totalidade dos estudantes do segundo segmento para a reunião realizada no refeitório da escola na última quarta-feira.


Competição
Além de encontrar escolas esvaziadas, os coordenadores dos pontinhos de cultura temiam uma possível resistência das diretoras à idéia de delegar o poder de escolher as oficinas aos estudantes e de estimular uma forte concorrência entre os proponentes. A prática se encarregou de mostrar que o receio da equipe responsável pela implantação do projeto não tinha fundamento. “É claro que se fosse escolhida uma atividade que não fosse lucrativa, eu faria uma sugestão”, confessou Rosângela Vasques. “Mas tenho certeza de que, podendo escolher, eles vão aderir com mais entusiasmo e alegria às oficinas”, acrescentou. “Se são eles que vão participar, nada mais correto do que eles escolherem o que querem”, concordou Elienai Gandra. Se tivesse o direito de interferir, a diretora da Althair Pimenta de Morais escolheria a música, como seus alunos. Já Elienai preferia um projeto voltado para o livro, enquanto os estudantes deram maioria esmagadora aos projetos de hip hop.

Na reunião com os proponentes de projetos que antecedeu a defesa das oficinas nas escolas, os coordenadores dos pontinhos tentaram mostrar que o contato com o futuro local de trabalho mediria a expectativa dos adolescentes e, acima de tudo, revelaria o tamanho do desafio de cada projeto aprovado. No entanto, houve diversos episódios de competição explícita. Talvez um dos exemplos mais escancarados tenha ocorrido na escola de Jardim Nova Era, quando a atriz Roseli da Silva chegou a distribuir uma cédula preenchida com o seu projeto. Mas a produtora cultural Sandrinni Princy Holanda Nogueira, uma das 13 concorrentes a apresentar seu projeto no auditório da Escola Municipal Monteiro Lobato, se viu obrigada a mudar a estratégia de divulgação de divulgação de sua oficina de artes visuais depois de ver a performance dos outros postulantes. “Pedi para que MC Slow fizesse um rap para explicar a oficina de grafite”, disse ela. Uma das principais razões para sua mudança foi a apresentação do Cordel com a Corda Toda, que distribuiu folhetos para cada aluno que repetisse o nome do grupo.


A estudante de história Daiane Brasil Pontes e a artista plástica Alessandra Caetano também participaram da semana de adesão, apresentando um projeto de criação de fanzines virtuais para os cerca de 800 alunos da Janice Clementino, em Miguel Couto. Concorrendo com elas, havia seis proponentes com 11 modalidades. Mas as duas não precisaram fazer pirotecnias para atingir o público alvo do fanzine virtual que conceberam. “A Janice tem telecentro, a escola livre de cinema e uma série de atividades esportivas”, disse a estudante Daiane Pontes. “Mas nós criamos um projeto para o pessoal que não participa de nada aqui”, acrescentou. “Vi muitos deles dizendo: ‘caramba, que legal!’” O veredicto das urnas deve ser anunciado até a próxima sexta-feira.

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