quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Mães do Hip Hop

AUDIOVISUAL

Documentário mostra como as mães enxergam a trajetória dos filhos na música
por Flávia Ferreira


A ideia é traçar o perfil de cinco MC’s de Morro Agudo a partir da ótica das mães que supostamente não entendem de Hip Hop. De cada cinco mães, três não queriam ter filhos e mais da metade não teve tempo de acompanhar o crescimento deles, sendo ‘criados pela rua’”, disse Dudu de Morro Agudo, um dos idealizadores do filme “Mães do Hip Hop”.

Os cinco rappers apresentados são: Dudu de Morro Agudo (Lúcia), Átomo (Evanil), Lisa (Joselia), Léo da XIII (Giselda) e Kall (Maria José). Mas dessa vez as mães é que foram as protagonistas. O lançamento do curta aconteceu no Espaço Enraizado, no dia 9 de maio, junto com o evento “Donas da Arte”, que trouxe muita emoção para os rappers e suas mães. O documentário será uma das atrações do II Iguacine, na última semana de agosto.

Mesmo não conhecendo a fundo o movimento Hip Hop, elas sempre fazem o possível para acompanhar seus filhos nos eventos de que participam. “Adorei o trabalho e embora não seja do Hip Hop, desejo que vocês levem esse plano para onde forem. Onde forem, estarei lá, porque sei que é um trabalho honesto e se vocês querem isso vamos viver disso. Viva as mães do Hip Hop”, disse Giselda, mãe de Léo da XIII. Assim como ela, as outras mães também aprovaram o trabalho feito, mas não quiseram falar em público.

Além das mães, neste filme, os rappers contaram um pouco de sua história de vida dentro da música, de como é morar em Morro Agudo, como é trabalhar com Rap, entre outras coisas. Também foram entrevistados moradores da comunidade e o antropólogo Luiz Eduardo Soares, ex-secretário da Semaspv (Secretaria Municipal de Assistência Social e Prevenção da Violência), um entusiasta do movimento Hip Hop.

A ideia de criar esse filme veio de uma conversa do Enraizados com a Doutora Numa Ciro. Na época, ela estava escrevendo sua tese de mestrado “Mães do Hip Hop”. “Conheci Rap de todos os cantos e eles sempre falavam da importância das mães, e notei que muitas mulheres eram sozinhas e sobreviviam com seus filhos. Conversei com o Dudu sobre a minha tese e ele me respondeu com o filme. Estou tão orgulhosa por esse filme existir, de ser brasileira, de esses meninos existirem. Isso é uma vitória”, disse ela, emocionando-se.

A doutora ainda resgata a história de um país mais negro que a opinião pública admite. “É difícil pensar diferente. O pensamento que se forma é um milagre feito de trabalho e brotou do sangue derramado de todos que ergueram o país, costureiras, faxineiras, enfim, isso é o que o Rap traz, a voz de todos. Devemos ao homem negro que fez o país, a dor do passado está gemendo até hoje e não foi resolvida. O Hip Hop é um passo para aliviar essa dor”, conclui a doutora.

Além dela, Jana Guindo, coordenadora executiva da Associação Estimativa, mesmo não sendo mãe de um dos rappers homenageados, contou como acontece a relação da sociedade com o estilo Black, dando o exemplo da rapper Lisa, que passou por algumas situações um tanto engraçadas ao reconhecer a sua negritude. “Meu pai comprou uma prancha (de cabelo) e me deu de presente depois que eu casei. Eu usava o cabelo Black e ele me perguntava se eu tinha acabado de acordar e esquecido de pentear o cabelo”, disse ela. Lisa ainda conta que quando pequena ia com suas irmãs ao Salão Regina, costume que abandonou depois que se assumiu como negra. “Meu pai chegou a me perguntar se eu queria dinheiro para ir ao salão ou para comprar uma chapinha. Eu comprei, de vez em quando uso só para agradá-lo”.

A rapper não culpa seus pais por esse pensamento, que ela atribui à “criação de roça”. “Eles nasceram em Campos do Goytacazes, para eles nada disso importava muito, mas meu filho e meus netos terão essa consciência”, conta a rapper, que só teve essa consciência depois de 1998. Nesse ano ela conheceu os bailes do Disco Voador, em Marechal Hermes, onde foi apresentada ao Hip Hop.






Interatividade:
Sua mãe sabe o estilo de música que você mais gosta?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Uma kombi que resiste ao tempo

II IGUACINE Exibido na sessão de homenagens do II Iguacine, 'Marcelo Zona Sul' continua encantando plateias 40 anos depois de sua es...