AUDIOVISUAL
Documentário mostra como as mães enxergam a trajetória dos filhos na música
por Flávia Ferreira
“A ideia é traçar o perfil de cinco MC’s de Morro Agudo a partir da ótica das mães que supostamente não entendem de Hip Hop. De cada cinco mães, três não queriam ter filhos e mais da metade não teve tempo de acompanhar o crescimento deles, sendo ‘criados pela rua’”, disse Dudu de Morro Agudo, um dos idealizadores do filme “Mães do Hip Hop”.
Os cinco rappers apresentados são: Dudu de Morro Agudo (Lúcia), Átomo (Evanil), Lisa (Joselia), Léo da XIII (Giselda) e Kall (Maria José). Mas dessa vez as mães é que foram as protagonistas. O lançamento do curta aconteceu no Espaço Enraizado, no dia 9 de maio, junto com o evento “Donas da Arte”, que trouxe muita emoção para os rappers e suas mães. O documentário será uma das atrações do II Iguacine, na última semana de agosto.
Mesmo não conhecendo a fundo o movimento Hip Hop, elas sempre fazem o possível para acompanhar seus filhos nos eventos de que participam. “Adorei o trabalho e embora não seja do Hip Hop, desejo que vocês levem esse plano para onde forem. Onde forem, estarei lá, porque sei que é um trabalho honesto e se vocês querem isso vamos viver disso. Viva as mães do Hip Hop”, disse Giselda, mãe de Léo da XIII. Assim como ela, as outras mães também aprovaram o trabalho feito, mas não quiseram falar em público.
Além das mães, neste filme, os rappers contaram um pouco de sua história de vida dentro da música, de como é morar em Morro Agudo, como é trabalhar com Rap, entre outras coisas. Também foram entrevistados moradores da comunidade e o antropólogo Luiz Eduardo Soares, ex-secretário da Semaspv (Secretaria Municipal de Assistência Social e Prevenção da Violência), um entusiasta do movimento Hip Hop.
A ideia de criar esse filme veio de uma conversa do Enraizados com a Doutora Numa Ciro. Na época, ela estava escrevendo sua tese de mestrado “Mães do Hip Hop”. “Conheci Rap de todos os cantos e eles sempre falavam da importância das mães, e notei que muitas mulheres eram sozinhas e sobreviviam com seus filhos. Conversei com o Dudu sobre a minha tese e ele me respondeu com o filme. Estou tão orgulhosa por esse filme existir, de ser brasileira, de esses meninos existirem. Isso é uma vitória”, disse ela, emocionando-se.
A doutora ainda resgata a história de um país mais negro que a opinião pública admite. “É difícil pensar diferente. O pensamento que se forma é um milagre feito de trabalho e brotou do sangue derramado de todos que ergueram o país, costureiras, faxineiras, enfim, isso é o que o Rap traz, a voz de todos. Devemos ao homem negro que fez o país, a dor do passado está gemendo até hoje e não foi resolvida. O Hip Hop é um passo para aliviar essa dor”, conclui a doutora.
Além dela, Jana Guindo, coordenadora executiva da Associação Estimativa, mesmo não sendo mãe de um dos rappers homenageados, contou como acontece a relação da sociedade com o estilo Black, dando o exemplo da rapper Lisa, que passou por algumas situações um tanto engraçadas ao reconhecer a sua negritude. “Meu pai comprou uma prancha (de cabelo) e me deu de presente depois que eu casei. Eu usava o cabelo Black e ele me perguntava se eu tinha acabado de acordar e esquecido de pentear o cabelo”, disse ela. Lisa ainda conta que quando pequena ia com suas irmãs ao Salão Regina, costume que abandonou depois que se assumiu como negra. “Meu pai chegou a me perguntar se eu queria dinheiro para ir ao salão ou para comprar uma chapinha. Eu comprei, de vez em quando uso só para agradá-lo”.
A rapper não culpa seus pais por esse pensamento, que ela atribui à “criação de roça”. “Eles nasceram em Campos do Goytacazes, para eles nada disso importava muito, mas meu filho e meus netos terão essa consciência”, conta a rapper, que só teve essa consciência depois de 1998. Nesse ano ela conheceu os bailes do Disco Voador, em Marechal Hermes, onde foi apresentada ao Hip Hop.
Interatividade:
Sua mãe sabe o estilo de música que você mais gosta?
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