FORMAÇÃO
Em entrevista, a coordenadora da Educação Fundamental Ana Paula Cerqueira Fernandes conta como foi a ação conjunta entre as secretarias de Educação e Cultura na formação dos mediadores culturais do segundo semestre
por Fernanda Bastos da Silva e Edson Borges Vicente
A Semana de Formação do segundo semestre dos mediadores culturais do Bairro-Escola, de 03 a 07 de agosto, teve novidades importantes que buscaram potencializar a atuação dos profissionais. Entre elas, o trabalho conjunto de técnicos de duas secretarias parceiras: a Educação e a Cultura.
Ana Paula Cerqueira Fernandes, coordenadora de Ensino Fundamental do Departamento Pedagógico do Cotidiano Escolar da Secretaria Municipal de Educação de Nova Iguaçu, explica como isso aconteceu e os fatos que antecederam essa ação.
Jovem Repórter: O que é o Departamento Pedagógico e o Cotidiano Escolar? Como funciona esse setor dentro da Secretaria de Educação?
Ana Paula: O Departamento Pedagógico da Secretaria Municipal de Educação, a Semed, é o que faz o gerenciamento das ações diretas das escolas. Tudo o que diz respeito ao desenvolvimento dos trabalhos, o controle dos alunos, projetos pedagógicos, as ações propostas pelo MEC e as parcerias com outras secretarias. Todo esse link com as escola tem que passar pelo setor que a gente chama de cotidiano escolar. Tudo que passa pela vida cotidiana da escola tem que passar por esse setor.
Jovem Repórter: Você é a coordenadora da Educação Fundamental. Existem outras divisões na Coordenação Pedagógica? Como é a estrutura da equipe pedagógica do Cotidiano Escolar?
Ana Paula: Há três grandes frentes: A Educação Especial, coordenada pela professora Eliana Maia; temos outra colega, Daniela Montequiare, que faz a coordenação da Educação Infantil e, no Fundamental, existe uma dobradinha: somos eu e a professora Adriana Manick. Pois o ensino fundamental tem dois segmentos, o primeiro do 1º ao 5º ano e o segundo do 6º ao 9º ano. Eu fico com o segundo segmento. Já a Educação de Jovens e Adultos – Eja - fica a cargo de outra coordenadoria, com a professora Bernadete Rufino.
Jovem Repórter: Foi dito que todas as ações cotidianas das escolas da rede têm que passar pelo Departamento Pedagógico. Como é essa relação da secretaria com as escolas?
Ana Paula: A nossa secretaria tem um histórico democrático de respeito às diferenças e especificidades das escolas. Eu acho que a maior prova disso é o Bairro-Escola, que tenta fazer esse link entre o que seja a cultura local, a especificidade da escola e trazer também o que é diferente para aquele universo que, de repente, não tinha o contato com a música, ou outra modalidade de música ou de cultura, com as oficinas que são ofertadas. Temos outro espaço, que é o da Escola Aberta aos Finais de Semana, que oferecem atividades esportivas. A secretaria faz o papel de mediação e não de imposição de nenhum modelo teórico-metodológico, até porque as escolas encontram-se em um momento de requalificar, repensar ou até mesmo, as que não tinham, de montar e estruturar seu projeto político pedagógico através da figura do CPP, que é uma novidade no cenário do município.
Jovem Repórter: Então, qual é o papel fundamental dos CPP’s nessa relação? O que significou a incorporação desse personagem no cenário da educação municipal iguaçuana?
Ana Paula: Eles foram eleitos esse ano para um mandato de três anos. Acho que o que legitima a escolha desse profissional na escola é que ele veio como o desejo do grupo de professores da escola. Ele foi eleito diretamente pelo grupo de docentes da escola. Eles deram voz a um professor que vai representá-los, que vai ser essa ponte de diálogo não só com a equipe de gestão local, que seria o diretor geral e os adjuntos, mas com a Semed. A gente procura respeitar o ritmo das escolas. Sabemos que o Governo Federal oferece uma série de formações e de projetos para serem incorporados nas escolas. Dentro possível, procuramos apresentar projetos e fazer com que as escolas se seduzam e se engajem. Não de forma a obrigar a realizar. Esse é o caminho para a gente investir numa melhoria do nosso ensino e dos nossos professores. E até no fazer, como você falou, nessa rede de saberes/fazeres que acontece dentro das escolas.
Jovem Repórter: Queremos saber especificamente a respeito da aproximação da cultura com a educação. Hoje estamos vivenciando um trabalho conjunto dessas duas secretarias. Como isso foi possível?
Ana Paula: É um dos eixos norteadores do Bairro-Escola. Não podemos falar de um grande programa de governo com esse nome - Bairro/Escola - se não pensarmos o bairro associado à escola. A escola é apenas um dos territórios do bairro. Para que a escola seja um espaço de sucesso, de prazer e de excelência, a gente precisa fazer com que essa escola esteja tanto aberta para receber o bairro como o bairro receber a escola. O que estamos vivendo hoje com essa formação é uma primeira experiência de uma vontade coletiva, que vem de muito tempo. As secretarias têm muitas atribuições e, talvez em função de termos um equipe reduzida, é que a gente não pode ter vivido essa aproximação a mais tempo. Mas, ainda que os técnicos das secretarias não estejam compartilhando o mesmo espaço ou o mesmo grupo de formação, existe o Comitê Central do Bairro-Escola, coordenado pela Maria Antônia Goulart. Uma vez por semana se encontram os representantes dessas secretarias. Sempre há encontro entre os secretários de educação e da cultura e com Maria Antônia, além de outras secretarias parceiras, como representantes do esporte e da requalificação urbana. São essas pessoas que, em conjunto, param para estabelecer os nortes e as diretrizes. O que estamos vivenciando nesse segundo semestre é a potencialização disso. Desse trabalho de diálogo que é necessário. A nossa secretaria nunca trabalhou sozinha, talvez as pessoas, em função da nossa distância geográfica – pois a Educação fica do outro lado na Estrada de Madureira- possam achar, mas sempre se colocou como secretaria acolhedora e ouvidora das escolas.
Jovem Repórter: E o que você está achando dessa experiência de trabalho? E em relação aos mediadores, como acha que essa proposta está sendo recebida?
Ana Paula: É muito bom vivenciar isso e partilhar com os mais jovens, os mediadores que estão chegando agora. Isso é positivo para eles perceberem essa via de mão dupla, esse diálogo entre essas secretarias.
Jovem Repórter: Houve algum diferencial a ser destacado nessa formação?
Ana Paula: Nesse momento, a possibilidade de a gente ter entregado na mão dos mediadores um guia, um documento, foi um grande avanço. Sempre foi um desejo do Faustini (secretário de Cultura e Turismo Marcus Vinícius Faustini) e deles próprios (os mediadores), para que eles pudessem nortear suas ações. Mas como o próprio nome diz, é um guia. Um guia de sugestões. Esse repertório, dentro de cada escola, vai receber uma nova roupagem e será ampliado, porque cada grupo é um grupo e cada criança vai reagir de uma forma. Cada mediador tem uma linguagem. Mas eu acho que será proveitoso e produtivo. Em cada uma das salas eles encontram saídas estratégicas diferenciadas para a gente falar de uma mesma coisa. Que é falar de um literatura, de estar resgatando o poder de sedução que a gente tem na nossa literatura através da oralidade e Câmara Cascudo é um mestre nisso.
Jovem Repórter: E essa possibilidade de adaptação do guia é positiva em que relação?
Ana Paula: Isso é a Educação. Educação é associar a criatividade à teoria e à sua prática. Fazer da sua pratica uma coisa sedutora capaz de transformar as pessoas.
Jovem Repórter: A Secretária Adjunta de Cultura Sandra Mônica explicou que a parte da formação dedicada à língua portuguesa seria baseada em contos de Câmara Cascudo. De onde surgiu essa ideia?
Ana Paula: Em relação a Câmara Cascudo, já vinha sendo realizado um trabalho na Escola Livre de Cinema e o Faustini apresentou essa proposta no Comitê do Bairro-Escola. Em função do sucesso, da linguagem sedutora e encantadora e do projeto que já vinha sendo realizado na Escola Livre de Cinema, a Educação se viu completamente contemplada, já que se pode associar o estudo da literatura com a expressão artística e poesias e a arte de dramatizar.
Jovem Repórter: E como foram as dinâmicas de segunda e terça, dedicadas à Língua Portuguesa com Câmara Cascudo?
Ana Paula: No grupo de ontem (03/08), fizemos a leitura do guia e fomos pontuando dúvidas. Hoje foi a vez da leitura dos textos. Cada grupo escolheu um conto do repertório e do guia e esse conto deveria se vivenciado. Primeiro uma leitura e uma análise do texto, depois uma leitura dramatizada pelo grupo e cada grupo deveria desenvolver estratégias para apresentar para o grupão. Como se a gente tivesse fazendo uma simulação, uma experimentação do que a gente vai vivenciar na sala de aula.
Interatividade:
O que você acha de trabalhar em conjunto?
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