FORMAÇÃO
Exemplo do mediador de cultura e matemática fez com que toda família voltasse a estudar
por Hosana de Sousa e Josy Antunes
A formação para os futuros mediadores do Bairro-Escola reuniu diversos casos de superações e conquistas. Esse foi o caso do senhor que esteve presente na quarta e quinta-feira, dias voltados para a prática do ensino da matemática. "Não me chama de senhor não, eu sou universitário", enfatiza Jorge Luíz Aquino de Souza, repetindo a frase a todos que usam o termo ao se referir a ele.
Aos 49 anos, Jorge cursa o segundo período de Matemática, na UNIABEU, onde conseguiu com louvor uma bolsa integral pelo Prouni - Programa Universidade para Todos. Ele conta que, ao concluir o ensino fundamental, abandonou os estudos. E durante os 27 anos afastado das salas de aula, tornou-se alcoólatra e aderiu a outros vícios, como o cigarro. "Deus me libertou disso tudo", afirma. Foi no momento de sua conversão que ele resolveu retomar os estudos e correr atrás do tempo perdido.
Em 2002, cursava o primeiro ano do ensino médio. No ano seguinte à sua conclusão, 2006, já estava ingressando nas aulas do pré-vestibular. "Foi muito difícil. Sabe o que é ficar 27 anos sem estudar?", argumenta Jorge sobre as barreiras enfrentadas em seu regresso. Para ele, as oportunidades encontradas no passado eram bem escassas, diferentemente do quadro encontrado hoje em dia em Nova Iguaçu.
O estudante atribui com segurança essas mudanças: O governo Lindberg está se empenhando muito na educação", afirma, relembrando as aulas que já participou em museus de São Paulo e em reservas ambientais em Tinguá, dentre outras visitas financiadas pelo pré-vestibular da Prefeitura que frequentava. "Participei de palestras com o prefeito um montão de vezes. Ele fica no cantinho dele só observando e analisando", revela ele.
As aulas preparatórias das quais participou foram como iscas lançadas entre sua família, que em sua maioria também estava adormecida para os estudos. Sobrinhos, filha e esposa tiraram os cadernos, lápis e canetas das gavetas e adentraram com Jorge na embarcação chamada "Educação". "Terem me visto, com a minha idade, fazendo pré-vestibular foi um estímulo pra eles", afirma, orgulhoso.
O ano que marcou sua entrada na faculdade foi 2008, quando sua nota no ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio - possibilitou a bolsa através do Prouni. Recentemente, Jorge recebeu da universidade a indicação para o Bairro-Escola, que conhecia desde 2007. "Eu já tinha ido visitar escolas pertencentes ao programa em Miguel Couto e já tinha gostado muito", diz, acrescentando: "Nunca tinha me imaginado participando dele".
Muito animado com a formação, da qual participava com opiniões sempre que o espaço era aberto, ele acredita na importância dos encontros para a interação com a metodologia do Bairro-Escola, que será sua primeira experiência no ensino de crianças. "Eu tô com uma expectativa muito boa, muito grande", declara Jorge, que defende sua grande identificação com os pequenos, afirmando: "Eu sou o primogênito de pais que se divorciaram. Então eu tive que ajudar a criar meus irmãos". O estudante de matemática participa como obreiro na igreja em que é membro, exercendo o cargo de recepcionar os fiéis nos dias de culto. Nessas ocasiões ele percebe o afeto que recebe da nova geração. "Elas olham pra mim e já começam a rir, se apegam muito a mim", diz ele. "Criança é carinho puro".
Para o futuro, além de se dedicar ao Bairro-Escola e à conclusão da faculdade, Jorge Luíz já planeja: "Gosto de matemática à beça, mas o que eu gosto mesmo é física", diz ele, já almejando uma pós. “Pra mim, tudo isso é uma vitória”, comemora.
Interatividade:
Qual meta abandonada você resgataria?
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