terça-feira, 11 de agosto de 2009

Apoio da família

FORMAÇÃO

Fundador do grupo de teatro Criadaki diz que não existe recuperação sem família
por Edson Borges Vicente e Fernanda Bastos

Um dos fundadores do Criadaki, Jonas Alexandre Soares, 30 anos, aliou uma experiência que teve há seis anos com sua necessidade de mudar de vida. “Eu comecei a fazer teatro em 2003, com o grupo da UNIRIO”, conta o presidiário, que jamais se esqueceu do trabalho realizado pelos estudantes de teatro na penitenciária Lemos de Brito, no Centro do Rio de Janeiro.
O trabalho tinha a pretensão de mostrar aos presidiários que eles também tinham direito à cidadania, um conceito vago e abrangente dentro do qual o acesso à cultura é um dos itens fundamentais. Passou então por uma transformação não muito diferente daquela por que passam os evangélicos, quando descobrem a Palavra. “Passamos a conhecer outras coisas, acessar outras culturas, outros povos. Passamos a aceitar as diferenças, e o trabalho com o teatro nos transformou”, disse ele.

Depois dessa experiência, Jonas começou um trabalho independente na penitenciária Alfredo Trajano, mais conhecida como Bangu II, para onde foi transferido depois da desativação do complexo da Frei Caneca. Foi uma luta para conseguir convencer tanto a direção quanto o coletivo, ambos aprisionados a uma guerra em que não raro os guardas acordavam os presos para treinar táticas militares. “Hoje estamos no Plácido de Sá Carvalho, que é uma cadeia mais mansa em todos os sentidos.”

Ao longo dos últimos três anos, o Criadaki fez diversas apresentações em outras unidades prisionais em regime fechado, tanto masculinas quanto femininas. Uma das principais preocupações do grupo tem sido com as crianças, uma eterna preocupação dos bandidos , que sabem muito bem que podem ser suas herdeiras no mundo do crime, caso o estado dispense a elas o mesmo tratamento de que foram vítimas. "Temos um trabalho com as crianças visitantes, nos vestimos de palhaços, apresentamos peças e fazemos uma dinâmica de grupo, conversando com a galera, mostrando a ela um outro caminho que não seja esse que a gente seguiu para chegar aqui”.

Paulista de nascimento, mas carioca de coração - embora continue palmeirense -, Jonas Soares é uma demonstração ao vivo e a cores do ditado segundo o qual “o crime não compensa”. “Eu acabei com a minha juventude por causa de um gesto impensado, e é isso que a gente procura passar. Que, às vezes, através de um gesto impensado você pode estragar anos da sua vida. Uma coisa que acontece momentaneamente, você pensa ser passageira, mas não é, e as consequências são duras e caras”.

O primeiro passo é admitir os próprios erros e ter a dignidade de pagar por eles. “Eu me arrependi. Sou réu confesso, assumi o que eu fiz. Era um viciado inconsequente, cheio de problemas, longe da família, mas nada justifica. Estou cumprindo e pagando pelo meu erro, e estou tentando fazer alguma coisa para mudar a realidade da vida de outras pessoas”.

O segundo passo, segundo Jonas, é resgatar a família. "Ninguém se reinsere na sociedade sem o apoio dela", afirma, convicto. Mais do que reconquistar o amor da família, o apenado deve inicialmente resgatar o próprio amor que negligenciou. "É a droga e o crime em primeiro lugar. Depois se pensa em família." A dor com a perda do pai, que morreu de desgosto após vê-lo preso depois de ter investido em sua educação, teve um peso decisivo na sua recuperação. “Família é um alicerce fundamental na vida de um homem encarcerado. A minha, mesmo estando em São Paulo, sempre me apoiou, e é isso o que me dá forças para continuar sonhando com os meus projetos”.


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