Antigo cinema vai virar teatro
por Flávia Ferreira
Até a década de 1990, os cinemas de praças foram os grandes protagonistas do cinema de Nova Iguaçu. Mas nenhum deles se comparava ao Cine Iguassu, com sua monstruosa estrutura. Não conseguindo se manter, teve que fechar, dar espaços a igrejas e se manter em estado de total abandono durante alguns anos. Atualmente, Marcelo Borghi, bisneto do dono, toca um projeto de reestruturação desse espaço para receber um teatro, o Teatro Iguaçu. A previsão inicial é de que ele sja inaugurado em 2010. No entanto, a limitação de horários para os caminhões com material de obra estacionem naquela região da cidade, a obra pode sofrer novos atrasos.
Por conta do sonho de ver esse teatro aberto, ele interrompeu os trabalhos no cinema e na televisão há quase um ano. Mas está longe de se arrepender. "Como vou me arrepender se estou aqui dentro, falando com você e vendo tudo isso? A cada momento que eu entro aqui, me vejo resgatando um teto antigo do cinema. A minha vida toda foi pensando nesse projeto".
A história do Cine Iguassu praticamente se confunde com sua infância, que Marcelo Borghi passou correndo entre as poltronas e pelas salas do cinema. Mas sua pouca idade e o deslumbramento com aquele mundo de fantasias não o deixavam entender o que era tudo aquilo, porque vivia uma relação de afeto com os objetos que o cercavam. "Foi triste quando vi de repente ele parar e começar a exibir filme de baixa qualidade. Já tivemos até filmes pornográficos e de caratê", conta ele.
O declínio do Cine Iguassu começou um ano e meio depois da sua inauguração, quando o bisavô de Marcelo Borghi viajou para São Paulo a fim de comprar um novo projetor. "Ele teve um mal súbito e faleceu antes mesmo de voltar para o Rio de Janeiro, sem comprar o aparelho", lamenta o empresário. Foi um golpe fatal para as pretensões da família, que ficou sem condições de adminitrar um espaço tão grande numa das áreas nobres de Nova Iguaçu.
Eles acabaram passando para um "grupo", a última parada de todos os cinemas familiares. "Eles têm um melhor relacionamento com os distribuidores", observa Marcelo Borghi. A exibição de filmes alternativos também está por trás da falência de grandes cinemas do Rio de Janeiro. O poderoso Unibanco Artiplex, na Praia de Botafogo, foi construído num espaço outrora ocupado por um cinema familiar.
Borghi passou anos esperando a oportunidade para criar o seu teatro. Ela surgiu quando os artistas fizeram um movimento para impedir a desapropriação do Cine Iguassu. Quando chegou à cidade, algumas pessoas pensaram que ele estava aqui para brigar junto à classe artística pela mesma causa. "Eu só dava os parabéns e falava: 'o cinema é da minha família e eu que vou construir'".
"Tenho 20 anos de carreira e está na hora de oferecer à cidade a experiência pela qual um dia Adolfo Bloch e Daniel Filho me contrataram", diz ele. Um dos grandes empecilhos para a concretização desse projeto seria torná-lo público, pois os moradores da cidade não têm o costume de visitar teatros. Marcelo Borghi discorda dessa linha de raciocínio. Para ele, o grande problema não está nos moradores, mas nos espetáculos e na falta de espaço. As mais conhecidas salas teatrais da cidade são o Sesc, que é de difícil acesso, e o Centro Cultural Sylvio Monteiro, com espaço para 140 lugares.
A proposta é que esse novo teatro traga uma mistura do clima antigo dos eternos teatros à essência futurista da arte contemporânea. A sala terá 600 lugares, tecnologia de ponta e cinco camarins, entre outras coisas. Além do teatro, terá uma livraria, uma cafeteria, uma loja de designer e uma exposição no salão de entrada, nos moldes do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). "Minha ideia inicial era a seguinte: formar uma sala de espetáculos onde você paga seu ingresso e tal, mas, no decorrer do projeto, eu pensei: 'se estou formando público, eu preciso que as pessoas não tenham medo de entrar nesse espaço'", conta ele.
Os espetáculos e o preço dos ingressos serão bem variados. "Seria demagogia minha falar o valor, pois na verdade não sou eu que faço o cachê. Quem diz que vai aonde o povo está, não abaixa o cachê. Mesmo assim, estamos buscando patrocínio e apoio para poder viabilizar isso de uma forma mais acessível para as pessoas". Isso poderá ser visto nos projetos ‘Trem das sete’, ‘Baixada do Samba’ e ‘Clássicos da Baixada’.
Marcelo Borghi sonhos grandiosos, como por exemplo o de trazer, aos domingos, uma orquestra sinfônica a um real. "Estamos em contato com a Petrobras, que se interessou muito pelo projeto. Eles ficaram bem animados com a história, já que nunca teve uma orquestra sinfônica na Baixada", disse Marcelo, afirmando que também terá teatro adulto e o infantil.
Onde hoje há a rodoviária o empresário pretende construir uma praça de eventos. Nesse espaço seriam feitos festivais de blues, chorinho e autos de natal, entre outros. "Ainda bem que já está assinado e não tem como voltar", disse ele. Marcelo Borghi acrescentou que muitas pessoas não acreditaram quando ele disse que tiraria a rodoviária dali. "Nas grandes emissoras e no teatro, só tem gente da Baixada Fluminense, até Hildegard Angel começou a falar que era de Nova Iguaçu, dizendo que a Baixada está pop. Coitado, a Baixada já é pop há muitos anos", ri Borghi.
Além dos gastos com a reforma do espaço, Borgh está pagando um aluguel para sua família. Bancando as despesas há oito meses, já se desfez de um sítio e de um carro. Mas ele, que não costuma acordar de um sonho na metade, acredita que tudo isso volta. "Eu sei trabalhar, sou profissional e vou até o fim. Pode ser até que no último ponto ele se transforme em outra cosia, mas eu vou até o final", conta ele.
"Não coloquei fichas na máquina, não, só estou trabalhando, isso é mais uma produção que tento ir até o final. Não gosto de falar 'se não for acontecer', mas já foi uma grande vitória porque muitos focaram em Nova Iguaçu, coisas que até então não existia, mas eu acredito até o final". Borghi acumula no histórico algumas vitoriosas produções como "Pantanal" e "Dona Beija", novelas exibidas pela antiga Rede Manchete. 'Tudo ou Nada' foi um dos poucos fracassos de sua carreira. Ele conseguiu trazer profissionais muito competentes da área teatral, de tecnologia e de espetáculos para a cidade. Ronaldo Grana e José Dias, este último conhecido como ‘o papa do teatro’, estão comandando a reforma do Teatro Municipal.
Tirando o problema com o estacionamento dos caminhões, está tudo correndo bem. "Vai ter um momento que terei que gritar para o mundo que existe alguma coisa errada, que eu preciso construir. Será que terei que empilhar os tijolos no telhado ou me amarrar na grade do teatro para chamar as outras emissoras?", questiona ele. Marcelo também pergunta sobre o paradeiro dos que faziam campanha para o Cine Iguassu voltar. "Eu não os vejo e nem fui procurado por nenhum deles. Espero que não seja demagogia, porque eu não trabalho com isso", conclui ele.
Interatividade:
Você concorda que a cidade de nova Iguaçu não tem público para espetáculos culturais?
o q é uma loja de designer?
ResponderExcluiruma loja que vende artigos variados. hehehe
ResponderExcluirMarcelo, vá em frente seu sonho já se tornou uma realidade Parabéns !!!! vc merece
ResponderExcluirLourdinha
Afirmo e confirmo que o seu sonho não é só um sonho seu... acredito em Nova Iguaçu e no potencial q esta cidade tem, em todos os níveis, inclusive o cultural, só precisa de mais gente como vc... "sonho q se sonha só, é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é felicidade"! Se puder ajudar de alguma forma! Abçs... não desista!
ResponderExcluirMarcelo, Nova Iguaçu precisa disso, o povo daqui precisa disso! De teatro, de bons espetáculos, de lugares bons e agradáveis que possamos nos divertir, de cultura principalmente. Não é porque é na baixada que não precisa, precisa e muito. E isso só irá valorizar mais ainda nossa cidade e nosso povo tb. PARABÉNS PELA SUA INICIATIVA! Aguardamos ansiosos a inauguração do belo TEATRO IGUAÇU.
ResponderExcluirA construção deste espaço certamente criará uma nova alternativa,como citados na matéria os espaços do Sesc e do Sylvio Monteiro. Ter um Teatro aqui,na baixada Fluminense,sem dúvida será uma realização prazerosa,tanto para você Marcelo,como para os futuros frequentadores do local. Desejo de todo coração,em nome dos moradores de Nova Iguaçu e Baixada,que esse espaço seje construído sem delongas.
ResponderExcluirTudo de bom!
Uma visão muito preconceituosa essa de dizer que Nova Iguaçu não têm público para espetáculos teatrais ou culturais, quem fala isso não conhece N.I, ou então é 'um sem noção'. Fui amiga de infância do Marcelo Borghi, estudamos juntos; quem o conhece sabe que o teatro é uma de suas paixões. Tenho certeza que esse será um empreendimento cultural brilhante, do qual a cidade e seu povo merece. Um sonho que Marcelo vai levar às últimas consequências para concretizar, porque ele não é "Jorge", mas é guerreiro!
ResponderExcluirMarcelo, a concretização deste belo projeto é a realização dos nossos sonhos. De todos nós iguaçuanos.
ResponderExcluir"O grande segredo para a plenitude é muito simples: compartilhar.” (Sócrates)
"Sonhos são como deuses:
e não se acredita neles,
eles deixam de existir."
(Antonio Cícero)
Voce, Marcelo, acreditou para que hoje ele exista. Obrigada!
Beijos