sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Aquilo que nos une

O IGUACINE VEM AÍ

Novelas e seriados enfim conseguem mostrar questão homossexual sem preconceito
por Carine Caitano

Quem não se lembra da polêmica gerada quando, em 1998, as lésbicas vividas por Christiane Torloni e Silvia Pfeiffer tiveram de morrer na explosão de um shopping na novela Torre de Babel? Até quem não assistia com frequência, recorda o fato. Outros, que nem acompanhavam a trama global, sabem do acontecido. Nos últimos dez anos, casais homossexuais estão deixando de ser caricatos, invadindo o horário nobre da casa dos brasileiros.

Alunos do Instituto de Educação Rangel Pestana, em Nova Iguaçu, e também integrantes do Grêmio Estudantil nos falam sobre essa mudança e como isso influencia a sociedade.
Vitor Carvalho e Leonardo Costa são, respectivamente, diretor de cultura e esporte do grêmio. Amigos desde o início do curso normal, perceberam o quão errada estava sua postura ao falar de homossexualidade quando conheceram gays diferentes dos vistos nas telinhas. "A gente tem uma mania de dizer que uma pessoa nem parece gay. E a gente nem percebe que isso já é uma forma de preconceito, pois consideramos que ela precisa ter determinadas características para ser gay", explica Leonardo. "E essa questão é cultural. Por mais que vejamos homossexuais na tv, eles são sempre engraçados, bonitos... diria até caricatos, sem medo de exagero. Mas acho que qualquer iniciativa de mostrar diversidade é ben-vinda", completa Vitor.

Luis Fernando é um dos "faz tudo" do grêmio, de carregar materiais pesados até dar ideias de como atrair a galera para os eventos extraclasse. Mas tanta versatilidade não ajudava quando o assunto era o mundo LGBT. "Eu era ‘preconceituosão!’", afirma Luis, com toda a ênfase necessária. "Eu não sei como conseguia viver tendo raiva de alguém só por ele ser gay. Eu falava que não tinha nada contra, mas tinha sim. É uma coisa insana, cara. Eu até achava legal ver um casal de lésbicas na tv, mergulhado no meu machismo, mas nunca aceitei isso vindo de um homem. Eu precisei conhecer uma menina maneirona e descobrir que era lésbica pra ver que isso não muda personalidade de ninguém. Se é a novela que vai fazer alguém deixar de ser como eu era, que venham os protagonistas gays!", instiga.

Pensamentos como esse já foram voz do público americano. Sucesso por la e com downloads crescentes no Brasil, temos séries como Queer as Folk, Queer Eye for the Straight Guy e The L Word. A primeira série, exibida a partir de 2000, inovou na quantidade de personagens e tramas principais retratando o mundo gay. O segundo é um reality show de uma hora de duração onde cinco homens homossexuais, cada um especializado em uma área diferente, ajudam homens héteros a organizar desde roupa a design de interiores, passando por culinária e vinhos, arte e cultura e higiene pessoal e cabelo. Já TLW, no ar por seis temporadas, mostra as vidas de um grupo de amigas lésbicas e bissexuais que vivem na cidade de Los Angeles, Califórnia.

Com temáticas diferentes, os programas ganham o público pela naturalidade ao falar de adoção de crianças por casais homoafetivos, preconceito no mercado de trabalho, dúvidas quanto à sexualidade, luta por direitos LGBT e transsexualidade, tema que ainda é pouco discutido e entendido. Todas essas tramas ajudam a formar opiniões e são importantes, pois não investem em pornografia ou apelos. Mostram homossexuais vivendo em seu dia-a-dia como qualquer heterossexual, com as dificuldades e conquistas.

Juliana Portella, presidente do grêmio, é bem enfática: "É muito fácil julgar alguém pela cor, pela sexualidade ou por quanto ganha. Difícil mesmo é se sujeitar a conhecer cada ser humano, analisando seu passado, suas pretensões. É muito importante que um veículo tão vital na formação de opiniões como a TV retrate a vida da comunidade gay. Se são casais apaixonados que vão nos fazer perceber que o preconceito é desnecessário, eu concordo com o Luis: que venham os protagonistas gays”.

The L Word, por exemplo, nos mostra mulheres lindas, bem-sucedidas e gays. Há pouco tempo, essas palavras nem combinariam na mesma frase. Séries como essa nos fazem enxergar pessoas. Não héteros ou homos, não brancos ou negros, não nossas diferenças, mas ao contrário, aquilo que nos une.

Interatividade:
Qual foi o personagem gay das novelas brasileiras que mais o marcou?

Um comentário:

  1. Não acho que o homossexualismo deva ser apoiado por programas de tv. Mas, se o objetivo é fazer enxergar o ser humano, independente da opção sexual e evitar maiores conflitos, acho a iniciativa válida. Talvez fosse necessário ter o outro lado, quem acha que esses programas incentivam jovens a "mudar de lado". No mais, parabéns pela matéria, ficou bem fluída, apesar do assunto delicado.

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