segunda-feira, 27 de julho de 2009

Vestindo a camisa

JOGOS DE INVERNO


Luana Garcia conta as dores e as delícias da vida de atleta
por Josy Antunes

Foi numa das visitas que o técnico João Luíz Gomes da Silva e sua esposa Martinha Gomes fizeram à Escola Municipal Orlando de Melo, no bairro da Posse, que os panfletos distribuídos chegaram às mãos de uma das meninas que hoje brilha na equipe Impacto, já pentacampeã na categoria livre do basquete intercolegial. Luana Garcia, na época com 14 anos, demonstrou um interesse imediato e uma empolgação comum aos jovens que buscam novas experiências. "Eu não levei muita fé, porque eu nunca pensei na minha vida em jogar baquete", admite ela, hoje com 17 anos.

Nas aulas de educação física na escola, Luana participava de todas as atividades, jogava de tudo um pouco. Porém, até então nenhum esporte em especial havia conquistado sua preferência. Depois de convencer sua amiga Andressa a participar com ela, o primeiro treino já estava estabelecido para a primeira terça-feira após a decisão, que foi conciliada com as aulas de inglês, às segundas e quartas. "No primeiro dia de aula eu cheguei perdida, não sabia como arremessar, e nem como pegar na bola", lembra a jovem. Jamais faltou aos dois treinos semanais, que aconteciam no SESC de Nova Iguaçu, esforçando-se para acompanhar o ritmo das outras meninas.

A recompensa chegou três meses depois: Luana foi escalada para treinar com as meninas da equipe, recebendo o colete oficial usado por elas. "Aquilo foi tudo pra mim, eu não esperava", conta ela, radiante. Para a menina, a escalação surgiu como uma vitória, depois do tempo em que passara observando a trajetória do time e pensando: "Será que um dia vou fazer o que elas estão fazendo? Será que um dia vou viajar que nem elas?". Jamais se vira jogando nada, muito menos em um time.

A primeira viagem, definitivamente como "jogadora de basquete", aconteceu logo em seguida. O destino foi Cachoeira de Macacu. Lá, as meninas passariam 15 dias em pré-temporada, acordando junto com o nascer do sol, participando de treinamentos preparatórios para um campeonato que viria na sequência. "Foram 15 dias de sufoco", lembra Luana. Mas outra vez a recompensa não tardou: ganhou uma bolsa de estudos no colégio Liceu Santa Mônica e um convite para ingressar no novo time que estava sendo formado, que iria participar das competições, prestes a se iniciarem. E em apenas sete meses, desde sua decisão de jogar basquete, Luana viu grandes mudanças acontecerem em sua vida. "Eu me senti muito orgulhosa, porque foi uma coisa que eu conquistei", comenta ela, colocando abaixo a desconfiança da mãe por conta de tantos benefícios vistos na filha.

A cobrança imposta pelo técnico João Luiz se faz presente também nas notas escolares, outro campo em que ela e as outras 25 bolsistas do time são obrigadas a dar o exemplo às mais novas e no próprio ambiente escolar. "Os professores nos elogiam muito, porque percebem que nossa dedicação é um pouco maior", afirma ela.

Mesmo sendo muito jovem, Luana tem uma rotina de atleta de longa data. Os treinos diários não abrem exceção nem para feriados, palavra quase desconhecida entre as meninas do Impacto. "Não tem descanso. Acabando um campeonato, por exemplo, já tem que começar tudo de novo. Recomeçar o treinamento", relata a jovem jogadora. Nos raros dias em que são liberadas, Luana prioriza uma atenção maior a questões escolares, colocando matérias em dia e estudando para provas. O computador torna-se um lazer e a menina ainda encontra tempo, nesses casos, para ajudar sua mãe. "Faço alguma coisa em casa para agradá-la", justifica-se pela ausência no auxílio a mãe nas tarefas domésticas.

Foi justamente o computador o motivo para que Luana ficasse de "castigo" no basquete. O motivo é que quando ocorre uma falta no treino, sem uma justificativa concreta, João Luíz estabelece uma regra única, válida para todas: 100 bandejas, seguidas de 100 lances-livres devem ser realizadas antes dos treinos, durante uma semana. "Minha mãe não sabia comprar o computador sozinha e disse que se eu não fosse junto, ela não compraria", recorda ela. Embora o computador fosse seu presente de 15 anos, a menina não escapou da punição.

A princípio, Luana ficava receosa em falar com o técnico, mas a convivência a fez descobrir a pessoa por trás das cobranças. "Antes era difícil, mas agora é normal. Tem horas que ele brinca com a gente", explica. Os horários de treinamento terminam comprometendo o convívio com os amigos que não o praticam. Hoje, o círculo de amizade de Luana, assim como das demais meninas, se encontra dentro do time. Mas os cuidados femininos e a vaidade não se abalam diante da rotina das quadras. "Os uniformes deixam a gente muito masculina. Mas eu não dispenso um brinco, uma maquiagem, uma coisa diferente", confessa Luana, que só tira os acessórios para dar lugar a um só objeto: a bola de basquete.

Para o futuro, Luana planeja cursar Educação Física e se manter no esporte, mas também pretende se especializar em Engenharia de Petróleo e Gás, além de ser apaixonada por geografia e inglês. "Um dia você pode machucar o joelho e aí não faz mais nada? Se acabar o basquete, o que você vai ser?", indaga ela. "O treinador não fala só pra gente treinar pra ser jogadora de basquete, ele pensa no nosso futuro também", conta ela, que, como as outras meninas, admiram a postura de João Luíz em relação ao projeto. "Quando a gente faz uma coisa que a gente gosta e a gente faz por amor, isso é natural", declara o técnico.

Interatividade:
Qual foi sua primeira conquista, independente de seus pais?

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