terça-feira, 7 de julho de 2009

Se esse livro fosse meu

MIGUEL COUTO

Mediadora cultural produz livro sobre histórias das ruas de Miguel Couto com crianças da Ana Maria Ramalho
por Carine Caitano

O que fazer quando as crianças são privadas do hábito de ler? Como incentivar a leitura, mesmo que de forma tardia? Quem convive diariamente com essas questões é Eleonora de Fátima Gonçalves, coordenadora de ensino e aprendizagem da escola Ana Maria Ramalho, em Miguel Couto. Essa educadora nos falará um pouco das atividades que usa para atrair as crianças e despertar nelas o desejo de ler.

Desde a educação infantil, é super importante que livros e crianças tenham uma relação estreita. O ideal é que, mesmo antes dos dois anos de idade, a criança seja apresentada tanto aos livros quanto aos brinquedos, vendo neles a mesma possibilidade de brincar e se divertir. “O contato deve ser livre, direto e ‘‘sem compromisso” com as mais diversas formas e tamanhos dos exemplares. A partir daí, brotará, naturalmente, o gosto e curiosidade por esses desenhos magníficos: as letras. E, com a correta junção delas, palavras, histórias, contos de sorrir e amar. Contos de esperança."

Buscando oferecer as crianças essa maneira de sonhar acordado, Eleonora leva para as salas de aula diferentes propostas de construção textual, respeitando sua própria teoria de diferentes formas e tamanhos. Com quase um metro de comprimento, Eleonora folheia o livro confeccionado por uma turma de 4º ano de escolaridade. Baseados na música "Se essa rua fosse minha", as crianças desenharam e escreveram o que os vinha à mente quando essas palavras eram ditas ou lidas. O resultado foi um livro lindo, ilustrado pelos próprios alunos, que serve de consulta para atividades e é motivo de orgulho para todos que participaram. "Eu gosto de tudo grande!", diz Eleonora, em meio a risos. "Se a criança chega e vê um livro desse tamanho, ela já fica espantada. Mas é um espanto bom, misturado com admiração e uma vontadezinha de fazer também."

A educadora vai mesclando o resgate do popular proposto pelo BairroEscola com a necessidade do novo, imposto pelas crianças que crescem em meio à tecnologia em constante avanço. Ela, que já foi costureira, vendedora e até dona de bar, afirma que a principal diferença entre essa e suas anteriores funções é o retorno que as crianças oferecem. "Quando elas aprendem por elas mesmas, desenvolvendo seu próprio método, fica a certeza de que aquele conteúdo foi fixado e vai ser passado a frente.”

Interesse dos pais
Outro trabalho desenvolvido é o empréstimo de livros, aliado a uma ficha que busca avaliar o interesse do aluno no livro escolhido. Segundo Eleonora, a história da ficha é bem engraçada: "Eu fiz essas fichas por acaso. As perguntas são só quatro e bem simples, perguntando se o aluno gostou, o assunto do livro, a parte preferida e se o título combina com a história. Fui distribuindo para um ou outro, mas sem frequência pois não queria que virasse uma avaliação formal. Me surpreendi quando as crianças começaram a pedir a ficha de avaliação. Não é que ela serviu de incentivo?"

Esses e outros momentos descobertos durante a conversa provam que as crianças são mesmo surpreendentes. Mas não só elas. Estimulados pelo exemplo dos próprios filhos, vários pais já estão lendo mais. Já apareceu mãe perguntando se a filha podia levar mais de um livro e uma aluna que, ao ser perguntada por que estava levando um livro pela segunda vez, dizer que o pai o vira e se interessara pela história.

Eleonora prova que, mesmo de forma tardia, pode-se ajudar no enlace entre criança e literatura. E mais, nessas leituras é possível desenvolver o lado crítico do cidadão que a escola pretende formar e abordar temas transversais como violência, meio ambiente, drogas, amor e bons costumes. "Funciona! A gente faz livro grande, ficha de leitura, faz com que eles conversem sobre os livros... Dá trabalho, mas funciona", conclui.

Interatividade:
Que tipo de história você incluiria no livro da Eleonora?

Um comentário:

  1. Carine, parabéns... a sua materia ta escrita de uma forma que nos puxa a querer ler o outro paragrafo!
    Historias de pessoas que se mobilizam para estimular e leitura me encantam e você soube passar esta historia muito bem...parabens

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