quarta-feira, 8 de julho de 2009

Dálmata cultural

Um pontinho para quem souber onde tem cultura em NI
por Edson Borges Geoeducador

Onde tem cultura em Nova Iguaçu?

Acertou quem respondeu: em toda a cidade, nas 9 URGs que compõe o município de Nova Iguaçu. Quem garante isso é Sandra Mônica Silva, 45 anos, Secretária Adjunta de Cultura, que foi a responsável pela institucionalização dos movimentos culturais e artistas independentes que concorreram ao Programa Pontinhos de Cultura.

Todo o processo se iniciou com o lançamento pelo Governo Federal do “Programa Pontos de Cultura”, uma forma de fortalecer e democratizar o acesso aos recursos públicos de incentivo à cultura pelos grupos geralmente marginalizados, como quilombolas e indígenas, além dos movimentos das periferias das grandes cidades. Transposto para o âmbito da cidade de Nova Iguaçu, o programa foi carinhosamente chamado de “Pontinhos de Cultura” e, integrado ao Bairro-Escola, buscou a valorização do conhecimento e o fortalecimento dos movimentos culturais de bairro no município.

Para tanto, foi lançado pela prefeitura um edital aberto às entidades não governamentais e às iniciativas artísticas de pessoas físicas. “Concorreram ao todo 98 projetos. Após a avaliação do comitê organizador, 68 projetos foram aprovados, dos quais cerca de 45 eram representados por iniciativas individuais”, afirmou Sandra. Isso mostrou que grande parte dos movimentos culturais da cidade de Nova Iguaçu são formados por artistas independentes que, geralmente, não possuem estrutura suficiente para dar visibilidade às suas ações.

Impedimentos encontrados na formação de parcerias entre a prefeitura e as pessoas físicas (como o repasse de recursos), promoveram um movimento em rede de solidariedade e acolhimento sócio-institucional. “Diante de tal situação, nossa meta era que ao final de um ano de pontinho as pessoas físicas teriam que se institucionalizar. A secretaria forneceu assessoria técnica para projetos com potencial para constituírem ONGs”, explicou a secretária adjunta.

Sandra Monica - Pontinhos de Cultura


Rede de solidariedade
Sandra Mônica ficou com a responsabilidade de identificar, dentro do grupo de artistas individuais, os projetos com maturidade e estrutura para se tornarem ONGs. Nesse momento o conhecimento prévio de tais iniciativas foi fundamental. “Eu tinha dado oficinas de elaboração de projetos, sobre a estrutura de uma ONG, como montar um estatuto social, fazer uma ata, entre outros procedimentos, à quase todas as pessoas envolvidas para constituírem uma rede de solidariedade”, ressaltou.

Uma rede diversificada e rica de relações começou a se esboçar com o desenrolar do programa. Quatro situações se interligaram:
1ª Projetos já institucionalizados e consolidados foram aprovados;
2ª Grupos de pessoas físicas se juntaram para formarem uma única entidade;
3ª Projetos com maior potencial foram oficializados e acolheram iniciativas menos estruturadas e 4ª ONGs já existentes no município acolheram projetos de artistas independentes.

Ao final do processo quase 100% das pessoas físicas foram acolhidas. Porém, o trabalho não parou por aí. Para dar maior suporte às entidades recém formadas que receberam o status de “Pontinho de Cultura” e ajudar na gestão técnica e administrativa, uma outra organização com maior experiência foi colocada para dar suporte. A OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) de Apoio ao Trabalhador Autônomo – ATA – ficou na responsabilidade de reorganizar e apoiar essas iniciativas.

O programa Pontinhos de Cultura atuou no desenvolvimento identitário das crianças e dos artistas dos bairros. Reportando-se às iniciativas culturais, ele promoveu uma interação de saberes e atores sociais. “O trabalho do artista, somado ao saber desse artista e aos saberes escolar e formal, à historia das comunidades, à geografia do bairro, tudo isso contribuiu no fortalecimento dos movimentos culturais da cidade” explicou.

Nova Iguaçu - um Dálmata cultural
Todas as URGs tiveram pontinhos contemplados. Uma das condições para aprovação era a existência de escolas municipais de 2º segmento do ensino fundamental (6º ao 9º ano). Segundo a secretária, a sua distribuição foi equitativa. O que chamou a atenção foi que o bairro Miguel Couto foi representado pelo maior número de projetos concorrentes. Uma redistribuição espacial foi proposta com o consentimento das entidades para que toda a cidade fosse coberta. “Tinha uma frase que eles diziam que era: o artista tem que ir aonde o povo está” destacou Sandra Mônica. Ao final do processo de institucionalização dos movimentos, 15 novas entidades foram formadas como o “Laboratório Cultural”, o “Laboratório Cítrico”, o “Meduca” e o “Movimento Educação e Ação” entre outras. Até uma orquestra sinfônica foi “descoberta”, demonstrando a efervescência cultural que temos em Nova Iguaçu.

Quem tem a ganhar com tudo isso? O artista? A criança? A escola? O bairro ou toda a cidade? Na verdade essas inter-relações são fruto de múltiplas ações. As pressões de grupos sociais, de pensadores e artistas somada à iniciativa pública vão desencadear processos complexos que intercomunicam o bairro com a cidade, a cidade com a escola, a escola com o bairro. Em um município com historia tão rica como Nova Iguaçu podemos imaginar como a cultura é efervescente. Pontinhos por todos os lados como em um cachorro Dálmata trazem à tona o que é produzido no bairro, na escola, no centro cultural, na escola de samba local ou mesmo nos bancos da praça e que agora poderão proporcionar lazer e alegrias a todos os iguaçuanos.


Interatividade:
Cite um artista ou movimento cultural do seu bairro?

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