terça-feira, 14 de julho de 2009

Hoje tem espetáculo. E amanhã também

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Casa do Menor usa alegria do circo para atrair jovens em situação de risco
por Camilla Medeiros

A Casa do Menor, em Miguel Couto, tem uma história de mais de vinte anos de luta pelos direitos das crianças e dos adolescentes. Para isso, oferece abrigo, alimentação, cultura e cursos profissionalizantes.

Há três meses, um grande show de abertura serviu para divulgar o mais novo curso da instituição: teatro e circo. Para conhecer melhor esse projeto, fui ver de perto como funcionam as oficinas. Terminei entendendo o trabalho da instituição.

Quando cheguei, tive que esperar um pouco. Vagner Teles, o coordenador do CIDAH (Centro Integrado Dom Adriano Hipólito), ministrava uma aula de ética e cidadania aos alunos do curso de teatro e circo. Além dos ensaios, essas reuniões acontecem três vezes por semana (às terças, quartas e quintas), em dois turnos. O curso, que tem duração de um ano, ensina técnicas circenses como monociclo, perna de pau, malabares e acrobacias de solo. Mais tarde, os alunos serão encaminhados para a Escola Nacional de Circo, cujo curso de quatro anos forma os profissionais da área.


Para participar da Escola de Circo, os adolescentes devem estar matriculado em uma escola regular e em boas condições físicas. “Nosso objetivo é formar educadores na arte do circo”, diz Vagner, reforçando que o curso não se limita a formar artistas. Essa formação cidadã implica aulas de ética e cidadania, reforço escolar, acompanhamento social e psicológico, mais avaliação e assistência médica.

Todos os serviços são estendidos à comunidade. A Casa do Menor está aberta para receber qualquer adolescente que queira participar. “Primeiro recebemos esse adolescente, depois ele escolhe qual atividade quer praticar. Só então começamos a resolver as questões burocráticas”, explica o coordenador.

É notável a melhora na postura dos alunos. Todos eles se mostraram muito disciplinados e atentos a tudo o que foi dito. Se antes não havia respeito à voz desses adolescentes, agora eles sabem que são ouvidos e respeitados. Isso se vê na forma como eles se colocam. Conversando com um dos internos, é possível perceber como ele possui um horizonte amplo em relação a suas possibilidades. Ele sabe que pode ir mais longe.


Outra característica notada por Vagner foi a sensibilidade dos jovens. “Mesmo estando em situações de risco, eles se preocupam quando um amigo ou aluno está passando por alguma dificuldade lá fora”, conta.

Vânia Santos, instrutora de técnicas circenses, convive diariamente com esses alunos e, como boa educadora, sempre exige muito deles. Ela trabalha temas como disciplina, objetivo, disponibilidade e observa que, ao longo do tempo, eles vão crescendo, aprendendo a ultrapassar barreiras diariamente e a vencer o cansaço.

Os pais aprovam essas atividades e ficam agradecido quando veem a mudança em seus filhos, que longe, das ruas, aproveitam bem as oportunidades. Noemi Dias, 15 anos, mudou sua rotina em função do curso e pretende continuar nessa carreira por descobrir que é boa nisso. “Se antes eu perdia tanto tempo na rua, hoje eu aproveito todo meu tempo para treinar. Quando não estou aqui, estou estudando ou descansando”, conta a menina.

Darlan Luiz, de 17 anos, foi atraído pela apresentação que viu há três meses e conta que ficou encantado com as cores e a alegria transmitida pelo circo. “Quando abriu esse curso não desperdicei a oportunidade”, revela.

Mesmo com todo esforço, hoje a turma conta com apenas 30 alunos, enquanto o objetivo é uma turma com 50 alunos. Como forma de divulgação do trabalho, Vagner Teles e Vânia Santos se dispuseram a ministrar oficinas de circo no II Fórum de Educação de Jovens e Adultos de Nova Iguaçu, realizado no dia 11 de julho.

Além disso, eles se apresentaram na abertura do evento com o grupo de dança e percussão também da Casa do Menor. As oficinas foram um sucesso. “Adorei ver de perto esses objetos que só vemos no circo”, afirma Lúcia Maria, de 35 anos. Inscrita no evento, ela reconhece que, de longe, tudo parece ser muito fácil, mas não é. “Eles realmente mostram que têm talento para isso”, admira.

Tanto os alunos quanto os instrutores estão dispostos a mudar o quadro que a sociedade lhes desenhou. Atitudes positivas como essas só nos fazem perceber que, ainda que seja pouco o que podemos fazer, somos capazes de fazer diferente.

Interatividade:
Qual a última vez que você foi ao circo?

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