quarta-feira, 25 de março de 2009

Última sessão de cinema

Cine Verde fechou, mas não foi esquecido pelo povo
por Wanderson Duke

Mais conhecido como Cine Verde, o Cinema Verderosa fechou as portas para dar lugar a um centro comercial. Mas as histórias desse lugar jamais serão esquecidas por aqueles que ficavam de olhos atentos na tela, nas matinês de domingo. Foi ali que muitos amores tiveram seu começo. As crianças iniciadas na magia do cinema esperavam o final de semana para assistir aos super-heróis. Tudo isso acabou. A magia da tela se fecha, mas se abre um livro para perpetuar sua memória aos olhos de Nova Iguaçu.

O cinema mais popular e mais conhecido da cidade foi criado com o objetivo de oferecer entretenimento a preços populares, e deu certo. Nos anos 30, suas salas de exibição funcionavam a pleno vapor. Era o tempo do cinema mudo, o programa de fim de semana. As pessoas aguardavam com ansiedade a sessão da tarde. Lá dentro havia uma divisão classe. “As pessoas compravam o bilhete da segunda classe e pulavam para a primeira que ficava logo à frente”, diz o Professor Ney Alberto, o maior historiador da Baixada Fluminense. As trilhas sonoras ficavam a cargo da pianista Brisabela de Barros Paladino e do violinista José Brigadão, que trabalhava para pagar a faculdade de medicina.

O cinema era uma referência, apesar das seguidas mudanças do nome da Praça da Liberdade, que já foi Passeio Público, 15 de Novembro, Ministro Seabra, Jahul e14 de Dezembro. Com o passar dos anos e a mudança dos costumes, começaram a construir salas confortáveis nos shoppings, que se tornaram ponto de encontro e área de lazer. O ingresso das novas salas era mais caro, mas o conforto das poltronas de couro parecia valer a pena.

Pornôs
Desesperados, os proprietários do Cine Verde apelaram para os filmes pornográficos para atrair o público de volta. A tática deu certo, ajudando seus proprietários a pagar as dívidas acumuladas com a migração do público para as novas salas. Mas a popularização da programação teve custos altíssimos. “Eu ia ao cinema com certa regularidade, mas fiquei indignada e nunca mais voltei”, conta a até então assídua frequentadora Kátia Maria, de 48 anos.

Bila Verderosa, a dona do cinema, explica a mudança da programação. “Nós estávamos à beira da falência e as contas não paravam de chegar”, justifica. “O que fizemos foi um soco no estômago de meu falecido marido.” Foi em nome desse amor que o casal investiu todas as economias na fundação do cinema, tão logo desembarcaram que os trouxe da Itália.

A pressão dos frequentadores tradicionais obrigou os proprietários retomaram a programação dos áureos tempos do Cine Verde. “Voltamos a exibir os filmes que estavam fazendo sucesso, como Batman , Superman e Homem-Aranha”, conta Bila Verderosa, que ficou muito feliz com o resgate do seu antigo público.

A volta aos bons tempos não foi suficiente, porém, para que o Cine Verde enfrentasse a concorrência em pé de igualdade. “Não daria para mantê-lo por mais tempo”, lamenta a antiga proprietária. A morte do marido só fez aumentar o fosso entre os novos cinemas, que ofereciam poltronas mais confortáveis, uma tela maior e ar condicionado. Desanimada, a viúva cedeu ao assédio dos comerciantes e alugou o espaço para uma loja de departamentos. “Não me arrependo”, afirma, embora ainda tenha esperanças de que o Cine Verde um dia volte.

4 comentários:

  1. Ja cansei de ir no Cine verde ver filme com a galera...

    Eh realmente uma pena o seu encerramento, =/, ainda lembro de quando vi Homem-Aranha *.*, tava cheio..

    Tb jah vi Anaconda 2, Todo Mundo em Pânico 3 e mais alguns ae..
    ------

    QNto a matéria tah super bem desenvolvida, Duke dando dentro como sempre (Ai q delícia xD), realmente n sabia nem da metade da situação do Cine Verde, tão qnto q se chamava Verderosa.

    Ainda tenho esperanças q esse cinema vai vingar!!

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  2. A matéria tá phoda Duke, muito boA mesmo. Super bem e aparentemente super bem apurada. Parabéns !!

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  3. Faço minhas as palavras do Lucas e ainda completo dizendo que, como eu li na escola, as pessoas não paravam de olhar pra mim a cada vez que eu dizia "Geeeeeeeente, eu nunca imaginei que...". rsrs.

    Parabéns (de novo)

    Beijos!

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  4. Wanderson a matéria está muito boa!
    Resgatou a memória do cine verde, ótimas palavras, muitos parabéns por todas elas!

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