A tia do maracujá

Suco de maracujá de Vanda Borges alivia e acalma as normalistas do Rangel Pestana
Por Josy Antunes

Nos dias de calor, as carrocinhas com sucos já se tornaram populares no Centro de Nova Iguaçu. Mas não fazem tanto sucesso quanto a “tia do maracujá” faz entre os alunos do Rangel Pestana e os fieis clientes de seu ponto, na rua Dr. Luiz Guimarães. Há 12 anos marcando presença em frente à Light, Vanda Borges de Araújo agrada um público diferenciado. O segredo do pequeno empreendimento pode ser atribuído a diversos fatores, mas com certeza incluem o atendimento e o próprio produto.

Atualmente, a carrocinha divide seu espaço entre o maracujá e o limão. Mas já passaram por ela o abacaxi, o caju, o laranja com acerola e o mate, entre outros. Nenhum deles agradou tanto quanto os sabores que permaneceram. “As pessoas dizem que o maracujá é um calmante e é mesmo”, explica Vanda, baseando-se na própria experiência. “Quando eu saio ansiosa e nervosa de casa, tomo um copo e fico normal.”

Talvez o diferencial de seus sucos venha da experiência como cozinheira, cargo que Vanda ocupou por oito anos em uma casa de família. Resolveu mudar de vida por causa da falta de liberdade, que muitas vezes a impedia de assistir aos cultos de sua igreja. “Houve dias em que fiquei até às 11 da noite na cozinha”, lamenta ela, lembrando de seus antigos patrões.


Maus lençóis
Antes de se instalar na frente do Rangel Pestana, dona Vanda se viu em maus lençóis. O primeiro lugar em que tentou a sorte foi a calçada do Fórum de Nova Iguaçu, onde durante dois anos vendeu de brinquedos a doces e refrigerantes. Além de continuar trabalhando até tarde, teve que enfrentar os humores de suas excelências. “Um juiz mandou as pessoas saírem de frente do fórum, porque para ele os camelôs faziam muita bagunça”, lembra Vanda.

A ambulante foi salva por uma mistura de sorte e sentido de poupança. “Eu achei essa carroça encostada no muro, à venda”, diz Vanda, apontando para sua atual fonte de renda. “Era 50 mil cruzeiros na época.” Ela resolveu acreditar no negócio e saiu correndo para o banco, de onde tirou o dinheiro para quitar o negócio à vista.

Vanda instalou seu novo comércio na frente do Rangel Pestana, vendendo sucos e salgados até ser obrigada a se transferir para cerca de 200 metros da escola. “A calçada é larga e, como não tem comércio próximo, eu não atrapalho ninguém”, afirma. Porém, a distância não fez com que as vendas para os alunos diminuíssem.

Na frente do cliente
É a própria Vanda quem prepara os sucos, muitas vezes na frente do próprio cliente. “É gostoso pra caramba, um produto natural”, afirma Robenir Santos, deliciando-se com um suco de limão. “Por enquanto só tem limão, eu vou temperar o maracujá”, declarava Vanda a quem procurasse o seu calmante natural. É no tal tempero que deve se encontrar o segredo, capaz de fazer com que Antônio Carlos se desloque diversas vezes do seu trabalho. “Pra mim é o melhor. Acabei de tomar dois, esse é o terceiro”, assegura.

Foi optando pela naturalidade que Vera Lúcia da Rocha se tornou fiel consumidora do maracujá de Vanda. “Compro aqui há muitos anos, moro próximo, todo mundo já a conhece. A minha nutricionista condena o suco de garrafinha por causa dos conservantes. E o dela é natural, é maravilhoso!”, alega. Além de defensora da qualidade do produto, Vera Lúcia é uma grande admiradora da forma como é atendida: “O atendimento é maravilhoso, sempre com um sorriso, ela é uma mulher abençoada”, declara.

Moradora de Nova Iguaçu há 70 anos, Vanda vai e volta a pé, todos os dias, de sua casa para o trabalho. Além de economizar com o transporte, a caminhada a livra das enfermidades comuns a sua idade. “A caminhada é boa pra saúde”, conta Vanda, aos 72 anos. Há dois anos aposentada, ela paga suas contas com o auxilio dos lucros obtidos na carrocinha. “E eu acho ótimo trabalhar, distrai a mente”, garante Vanda, que se declara apaixonada pela cidade.