Shopping de ferro

A ambulante Rosana Morena trabalha nos trens há 14 anos
por Jéssica de Oliveira / fotos de Giuseppe Stéfano

O trem é um shopping de ferro e disso ninguém duvida. Lá, pode-se comprar quase tudo. Há quem venda doces, bebidas ou picolés. Outros, mais ousados, levam verdadeiros bazares para dentro do trem. Esse é o caso de "Rosana Morena", de 42 anos, que há 14 anos aproveita os 61.749 km do ramal Central do Brasil-Japeri para fazer suas vendas. Moradora de Ricardo de Albuquerque e casada há 10 anos, ela começou a trabalhar como camelô porque não conseguia emprego formal e a responsabilidade de criar duas filhas falava-lhe alto aos ouvidos.

A dificuldade de ingressar no mercado formal não foi a única razão para na última sexta-feira Rosana Morena estar percorrendo os vagões do trem, com uma mochila repleta de miudezas: "Eu gosto de ser camelô porque ninguém manda em mim!", diz ela. Na prática, isso significa que pode trabalhar nos horários que lhe parecerem mais convenientes. "Às vezes, fico em casa relaxando", revela.

Morena só não considera perfeita sua condição de trabalho porque, como não é cadastrada na Super Via, eventualmente tem suas mercadorias apreendidas por alguns seguranças intransigentes. "Nesses casos, eu tenho que dar meu jeitinho", conta ela, que por isso mesmo prefere comprar suas mercadorias em Nova Iguaçu. Ir até Madureira pode reduzir os custos da mercadoria e aumentar sua margem de lucros, mas, em compensação, elas podem ser recolhidas no meio do caminho.

A relação entre os ambulantes dentro do trem às vezes é conflituosa. "Sempre tem um ou outro pra dar trabalho, mas eu ponho ordem e se for preciso, expulso do trem!" Esses estresses, porém, são compensados pela relação com os passageiros, quase terapêutica no seu entender. "A quantidade de pessoas que circulam diariamente é imensa e a cada viagem, surge um novidade."