quinta-feira, 26 de março de 2009

Os sons da solidariedade

Igrejas evangélicas usam linguagem de sinais para evangelizar deficientes auditivos
por Carolina Alcantara

No Brasil, o número de deficientes auditivos é significativo. Muitos encontram dificuldades de conseguir emprego. Desconhecem seus direitos. A dificuldade aumenta quando não sabem ler nem escrever. Alguns não frequentaram a escola e não conhecem a Linguagem Brasileira de Sinais, também conhecida como Libras.

Alcimar de Carvalho viveu anos dentro de casa, presa em seu próprio mundo, apenas estabelecendo contatos com seus parentes. Naquele ambiente limitado, criou seus próprios sinais para se comunicar com a família. Nunca foi a uma escola. Hoje a vida dela é diferente. Aprendeu a linguagem e fez amigos. “Estou feliz, gosto muito da Igreja Batista”, comenta. Ela está agradecida por ter pessoas que realmente se preocupam com ela e com outros surdos.

Nova Iguaçu tem vários pontos de encontro para deficientes auditivos. O Center é um desses espaços em que muitos deles estabelecem contato para conversar, paquerar, marcar encontros. Começam a aparecer nas lojas intérpretes da Libras, estudantes e mesmo alguns curiosos. A Igreja Evangélica Ministério Apascentar, que marca presença nesses lugares, tem fieis que fazem uso da linguagem dos sinais para evangelizar.

Descoberta
Em um encontro com uma equipe de intérpretes da Libras, veio ao grupo a história de uma surda que não sabia que, além do mal cheiro, soltar gases pode produzir muito barulho. Ela estava em uma reunião de família, na qual a única pessoa que não era deficiente era o seu namorado. Seu pai não consegue se controlar e começa a soltar gases, um atrás do outro. O ar ficou irrespirável e o namorado começou a rir. A menina perguntou por quê. Foi nesse dia que ela descobriu que os puns fazem barulho. Os olhares constrangidos logo foram substituídos por gostosas gargalhadas.

A história, que parece cômica, faz parte do cotidiano de Michele, uma das intérpretes de Libras da Ministério Apascentar. "Parece ser algo simples para nós, ouvintes, mas nunca um “pum” foi tão importante na vida daquelas pessoas”, afirma a intérprete.

Assim como algumas igrejas, escolas e professores, é importante estarmos preparados e preocupados com determinadas diferenças.”Os deficientes auditivos são seres normais, que podem e devem ser produtivos", afirma Michele. Como nós, eles precisam e querem namorar, trabalhar, viver. “É preciso somente compreensão e ajuda. Afinal, eles não são seres de outro planeta."

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