Catadores de lixo formam uma comunidade solidária
por Breno Marques
Valdecir Silva, 37 anos, veio de Itaguaí para Nova Iguaçu com a esperança de comprar uma casa compatível com sua renda. Cansado de procurar, resolveu improvisar com os restos de madeira, papelão, ferro e outros materiais com que garante a sua sobrevivência. O resultado desse esforço pode ser visto no barraco construído há cerca de três anos na calçada ao lado do ferro-velho onde vende o lixo que cata diariamente.
O dia de Valdecir Silva começa cedo. “Saio para a rua logo que acordo e dou uma volta pela cidade, catando tudo o que vejo pela frente”, conta ele. É com o material acumulado ao longo do dia que ele vai comer, depois de vendê-lo no depósito de que é vizinho. Com a crise mundial, têm sido cada vez menores as possibilidades de faça uma boa refeição. O quilo do papel, uma das maiores fontes de receita dos catadores, sofreu uma queda brutal nos últimos meses.
Valdecir já teve uma vida normal, com casa, esposa e uma filha, que hoje tem 15 anos. Sua história começou a mudar depois de uma briga com a esposa cuja gravidade o obrigou a abandonar até mesmo a filha, então com cinco anos. “Nunca mais voltei lá”, lamenta o catador, apesar da consciência do sofrimento da filha, mais apegada a ela do que à mãe.
Draguista
A saída de casa deve ter deixado profundas marcas no coração de Valdecir, mas antes de chegar em Nova Iguaçu com uma mão na frente e outra atrás monitorou dragas para uma empresa de construção. “Larguei o trabalho porque não estava feliz”, diz ele. Essa infelicidade só fez aumentar no dia em que dormiu embaixo de uma árvore, com apenas R$ 3 no bolso.
Zanzou pela cidade até conhecer um rapaz chamado Baiano. Foi ele quem lhe deu a ideia de recolher materiais recicláveis para levantar o dinheiro para comer. “Senti muita vergonha na primeira vez que tive que catar lixo”, admite. A fome foi a sua maior encorajadora.
A sensação de vergonha foi diminuindo à medida que começou a entrar na comunidade de catadores. “Fiz amigos fantásticos aqui”, comemora. Essas “amizades verdadeiras” foram comprovadas em diversos episódios. “Eu e Baiano dividimos no fim da tarde o dinheiro que juntamos pra comprar comida”, exemplifica. E filosofa: “Quem divide o chão, também divide o pão.”
Esse sentimento de comunidade, no entanto, não resiste à concorrência, principalmente depois que a crise mundial levou a uma baixa de preços do material reciclável. “Nessa hora é cada um por si. Se eu vejo um papelão primeiro que meu amigo, eu corro pra pegar. Se eu não pegar, é dele.”
por Breno Marques
Valdecir Silva, 37 anos, veio de Itaguaí para Nova Iguaçu com a esperança de comprar uma casa compatível com sua renda. Cansado de procurar, resolveu improvisar com os restos de madeira, papelão, ferro e outros materiais com que garante a sua sobrevivência. O resultado desse esforço pode ser visto no barraco construído há cerca de três anos na calçada ao lado do ferro-velho onde vende o lixo que cata diariamente.
O dia de Valdecir Silva começa cedo. “Saio para a rua logo que acordo e dou uma volta pela cidade, catando tudo o que vejo pela frente”, conta ele. É com o material acumulado ao longo do dia que ele vai comer, depois de vendê-lo no depósito de que é vizinho. Com a crise mundial, têm sido cada vez menores as possibilidades de faça uma boa refeição. O quilo do papel, uma das maiores fontes de receita dos catadores, sofreu uma queda brutal nos últimos meses.
Valdecir já teve uma vida normal, com casa, esposa e uma filha, que hoje tem 15 anos. Sua história começou a mudar depois de uma briga com a esposa cuja gravidade o obrigou a abandonar até mesmo a filha, então com cinco anos. “Nunca mais voltei lá”, lamenta o catador, apesar da consciência do sofrimento da filha, mais apegada a ela do que à mãe.
Draguista
A saída de casa deve ter deixado profundas marcas no coração de Valdecir, mas antes de chegar em Nova Iguaçu com uma mão na frente e outra atrás monitorou dragas para uma empresa de construção. “Larguei o trabalho porque não estava feliz”, diz ele. Essa infelicidade só fez aumentar no dia em que dormiu embaixo de uma árvore, com apenas R$ 3 no bolso.
Zanzou pela cidade até conhecer um rapaz chamado Baiano. Foi ele quem lhe deu a ideia de recolher materiais recicláveis para levantar o dinheiro para comer. “Senti muita vergonha na primeira vez que tive que catar lixo”, admite. A fome foi a sua maior encorajadora.
A sensação de vergonha foi diminuindo à medida que começou a entrar na comunidade de catadores. “Fiz amigos fantásticos aqui”, comemora. Essas “amizades verdadeiras” foram comprovadas em diversos episódios. “Eu e Baiano dividimos no fim da tarde o dinheiro que juntamos pra comprar comida”, exemplifica. E filosofa: “Quem divide o chão, também divide o pão.”
Esse sentimento de comunidade, no entanto, não resiste à concorrência, principalmente depois que a crise mundial levou a uma baixa de preços do material reciclável. “Nessa hora é cada um por si. Se eu vejo um papelão primeiro que meu amigo, eu corro pra pegar. Se eu não pegar, é dele.”
Não tinha parado pra pensar na possibilidade de rivalidade entre ele. Agora que pensei, foi até bonito saber desse momento em que eles dividiam o que ganhavam.
ResponderExcluirA matéria e as fotos estão maravilhosas, ótima qualidade!