segunda-feira, 9 de março de 2009

Roda cor-de-rosa

Mestre Azulão faz roda de capoeira em homenagem às mulheres
por Josy Antunes

Quem seguia para o calçadão de Nova Iguaçu no domingo, dia das mulheres, a partir das 10 horas, se deparou com o som do berimbau, do atabaque e das palmas, avistando um enorme grupo de meninas vestidas de branco. A movimentação era fruto de um encontro de diversos grupos de capoeira de Nova Iguaçu que, a convite do Mestre Azulão, participavam de uma roda feminina realizada, a cada 8 de março, há mais de vinte anos.

O Mestre, que é o responsável pelo CIAC – Centro de Integração Arte Capoeira -, localizado em Carmari, desenvolve o trabalho também em outras datas, como no dia do índio e do trabalho. A roda realizada para as mulheres marca a conquista de seus espaços dentro da arte, mudando um quadro que há tempos atrás era bem critico. “Antigamente era uma maioria masculina, só tinha eu e minha filha de mulher”, lembra Fabrícia Andrade, citando a antiga situação do grupo Azul e Branco, localizado no Esplanada. Praticante há quatro anos, quando entrou pra fazer companhia a seu marido – que é contra-mestre – e aos filhos, ela acompanhou o desenvolvimento do espaço feminino. Hoje, graduada e ministrando aulas de capoeira e maculelê, ela relata as diferenças: “A gente tem um bom espaço, eu posso chegar na roda, pegar o berimbau e tocar, posso cantar. No nosso meio a gente é bem respeitada.”

Liberdade para se expressar foi o que não faltou no evento. As meninas e mulheres cantavam com vigor as músicas, se revezavam nos instrumentos e no meio do grande círculo, quando tinham a oportunidade de mostrar os resultados de seus constantes treinamentos. Um aspecto interessante foi a participação de crianças entre cinco e oito anos, jogando como “gente grande”. “Na capoeira tem essa miscigenação, tem grande e pequeno, negro e branco, homem e mulher, idoso e criança, tudo junto”, afirma Fabricia.

Em meio à mistura de idades e tamanhos, a preocupação das mães presentes se manifestava. Marluzia Barroso ficava de olho em sua filha Érica, de oito anos, mas seus receios quanto à prática já foram vencidos. “Tem gente que fala que capoeira machuca, mas na realidade não é nada disso. Não tem briga.” Há três anos acompanhando sua filha nos campeonatos e eventos, Marluzia acredita na importância da roda feminina. “É muito bom, porque a gente vê participação de mulher. Tem muitos que pensam que somos só para os afazeres de casa, mas é totalmente diferente”, assegura ela.


Mais espaço
Durante uma pausa no jogo, Mestre Azulão dirigiu algumas palavras em homenagem às mulheres, dando oportunidade também a outros mestres e a Sandra, conhecida como Dendê. Ela agradeceu a presença dos grupos e dos espectadores, complementando: “Quero parabenizar todas as mulheres: mães, capoeiristas, tias, avós, todas as mulheres guerreiras que estão procurando galgar muito mais espaço, na questão trabalhista, na política e no dia-a-dia.” Dendê também ressaltou que a valorização da mulher deve ultrapassar a data comemorativa, finalizando com um agradecimento ao Mestre Azulão.

O encontro contou também com a apresentação da dança maculelê. Onde as meninas demonstraram um incrível sincronismo. Utilizando dois bastões de madeira, elas produziam a música e se envolviam nos diferenciados passos.

Usando o abadá e cordas branca e laranja, Evelyn Pereira, de apenas dois anos, se divertia, batendo palmas e dançando. “Ela gosta muito”, explica Elisabeth Pereira, mãe de Evelyn e de Juliana, de 11 anos, há seis na capoeira. “Meu esposo conhece o Mestre Azulão desde 85”, conta ela, justificando o fato de sua caçula já ter nascido ao som do berimbau. Mas as cordas usadas por ela não representavam as que realmente a pertencem: “É só pra enfeitar mesmo a roupinha dela”, explica.


Roda de samba
Após o maculelê, a roda abriu espaço para que as pessoas, que apenas assistiam, participassem, tornando-se quase uma roda de samba, garantindo muita diversão e surpresa de quem era puxado pelas meninas. Em seguida, foi a vez dos capoeiristas homens marcarem presença no centro da roda, jogando entre si e com as homenageadas do dia.

Sendo feriado, as ruas não estavam tão cheias como nos dias de semana. O evento acumulou menos pessoas do que os acontecidos aos sábados, por exemplo. “Nós temos a obrigação com o dia, o dia internacional da mulher é hoje, então hoje nós estamos aqui”, assegura Mestre Azulão, não se importando com o baixo número de transeuntes.

Por volta de meio dia, finalizada a roda, o mestre lançou o convite: “Nós vamos ter um churrasquinho na escola.” Para onde seguiu com um grupo que foi conhecer o espaço do CIAC, localizado na Rua Zodiacal, n° 48, em Carmari.

4 comentários:

  1. Só é uma pena o pouco número de espectadores durante um evento realizado pelo CIAC. Já estive presentes em alguns batizados, pude comprovar è uma verdadeira festividade.

    De certa modo, posso dizer que fiz parte deste grupo. Conheci e acredito que ainda conheço inúmeros integrantes. No qual trocavamos muitas informações sobre capoeira e participavamos de rodas feitas nas ruas.

    Hey Josy !

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  2. Caraaaaca maluco..

    Essa matéria tah PERFEITAMENTE incrível. Eu adorei o texto. O melhor texto que eu li até agora..

    Pena q ao q parece esse evento n teve seu devido prestígio aos olhos externos. Derrepente falta divulgação, pq a grandeza tem de sobra.

    Matéria Nota10, vc tem um grande futuro!!

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  3. eu não achei o que eu queria

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  4. Mestre Azulão e suas excelentes alternativas...
    Parabéns pelo post!
    Um Forte Abraço a Todos, fiquem com Deus!

    Equipe Associação de Capoeira Chapéu de Couro

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