terça-feira, 2 de junho de 2009

O cara de Nova Era

Um dos maiores ativistas sociais de Nova Iguaçu, Edilso Maceio usa a cultura para mudar o mundo
por Mayara Freire

Edilso Maceio tem 46 anos de idade. Há onze anos ele fundou o Centro de Integração Social Amigos de Nova Era, uma organização não governamental que atende mais de 600 crianças e jovens em Nova Iguaçu. Os cinco polos espalhados pela cidade oferecem aulas e oficinas gratuitas de teatro, música, dança, grafite e vídeo nos bairros Jardim Nova Era, Cabuçu, Km 32, Dom Bosco e Palhada. O CISANE é referência para os jovens da região e conta com vinte projetos em andamento. TV Ponto a Ponto, Pro Jovem, Ler pra Valer e cineclubinho estão entre esses projetos.

A maior motivação de Edilso foi desenvolver um trabalho de resgate da cidadania e oferecer oportunidade de mudança de vida através de cursos e oficinas culturais. Tudo começou quando ele decidiu sair do Complexo da Maré, em Bonsucesso, na Zona Norte do Rio de Janeiro, e veio morar em Nova Iguaçu. Junto com Edilson vieram muitos livros para a biblioteca comunitária que ele fundou, a Sala de Leitura Zuenir Ventura, seu projeto pioneiro. A partir daí, outros projetos foram aprovados como resultado de muita dedicação. Hoje, o CISANE conta com diversos parceiros para realizar seus projetos: Ministério da Cultura, Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério da Saúde, Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu, Comitê CARJ do Banco do Brasil, CDI (Comitê para Democratização da Informática), Sesi (Serviço Social da Indústria), Cufa (Central Única das Favelas) e Banco do Brasil.

Durante uma conversa na sede do CISANE, Edilso se emocionou ao lembrar da sua infância e da sua vontade constante de ajudar ao próximo. “Nasci e cresci na Nova Holanda, em Bonsucesso. Um local muito pobre, dentro do maior complexo de favelas do Rio de Janeiro, que possui um dos mais baixos indicadores de desenvolvimento humano. Mas desde novo já tinha um engajamento social e gostava de ajudar as pessoas. Assim como eu, muitas crianças não tinham brinquedo, por isso, eu mesmo selecionava do lixo madeiras, plásticos e lata e montava brinquedos para distribuir pela comunidade”, lembrou.

Edilso não parou mais. Já foi animador cultural em Cieps, fez parte dos projetos do Afro Reggae e da extinta Casa da Paz, em Vigário Geral, lugar marcado pela violência no fim da década de 80. Edilso disse ainda que se envolvia tanto com as iniciativas que chegou a morar nas sedes onde os projetos eram realizados. “Eu respirava projetos sociais. Minha mãe me perguntava se eu não tinha casa, pois resolvi morar nos espaços em que trabalhava”, confirma. Edilso também explicou que não teve tempo para fazer faculdade. “Não estudei, pois queria viver o dia-a-dia da comunidade, sempre querendo ajudar os outros. A minha maior faculdade foi aprender com pedagogas, sociólogos, assistente sociais e professores que estiverem envolvidos nos projetos junto comigo”.

Confira a seguir a entrevista com Edilso Maceio:

Como surgiu a ideia de criar o CISANE no Jardim Nova Era?
Edilso Maceio - Tudo começou com uma biblioteca comunitária. Quando cheguei a Nova Era, no ano de 97, trouxe livros de uma grande empresa que seriam jogados fora. Decidi pegar e emprestar para a comunidade. Percebi que tinha uma fila enorme de pessoas que queriam pegar esses livros. Foi quando me dei conta de que a comunidade estava precisando que algo fosse feito naquela região, pois realmente não havia absolutamente nada. O CISANE partiu da ausência de poder público. Não tinha associações de moradores, não tinha trabalho, nem cultura. Achei que tinha que fazer algo por este local, pois caso contrário, as crianças poderiam se tornar bandidos. Com a ajuda da comunidade e dos amigos de outros projetos já realizados, pensamos em fundar a ONG.


O que mudou na vida da comunidade depois desse projeto?
Edilso Maceio - O que mudou na vida da comunidade, acima de tudo, foi o interesse pelos estudos, a forma de pensar e agir. Vi pessoas que não tinham perspectiva nenhuma de vida começarem a trabalhar e estudar. A comunidade está mais politizada, mais atenta e tem mais consciência dos seus direitos. Além disso, aprenderam que tem um processo que depende de todo mundo junto.


Qual a importância da cultura no desenvolvimento de crianças e jovens?
Edilso Maceio - Acho fundamental a cultura na vida de qualquer pessoa. Todos têm condições e direito de ter mais conhecimento através do teatro, oficina de circo, eventos, arte. É muito importante tentar fazer as pessoas tirarem proveito de qualquer coisa e reproduzir na sua vida, consequentemente repassando para as pessoas que convivem, mudando a sociedade e seus interesses. Através da cultura, podemos construir um mundo novo.

O que falta para que outras pessoas também tenham esse engajamento social?
Edilso Maceio - O que falta para as pessoas se conscientizarem é ter uma educação que valorize quem ajuda as pessoas que precisam. Além de tudo, falta capacitação de voluntários. Aprender cidadania é prioridade, pois muitas pessoas ainda não sabem o que essa palavra significa. Deveria ser obrigatório ter aulas de voluntariado nas escolas. As pessoas precisam umas das outras. Não há dúvida de que, se cada um ajudar um pouco, poderemos mudar o mundo. Uma vez, fui até uns barracões aqui perto e com 300 reais, eu e uns amigos, conseguimos construir banheiro para os moradores que viviam em situação precária. É pouco, mas sem dúvida mudou a vida deles. Portanto, acredito que por menor que seja a ajuda, ela é valida.

Qual sua maior satisfação em coordenar o CISANE?
Edilso Maceio - A partir do momento que o CISANE se tornou uma ONG com CNPJ, ele pertence a todos da comunidade. Isso jamais se acabará. A minha satisfação é saber que tenho pessoas que posso contar e sempre alguém dará continuidade ao formato atual: com transparência e solidariedade. A gestão compartilhada de todos que estão envolvidos e engajados em prol de quem está fora é maravilhosa. Mesmo se faltar dinheiro algum dia, faremos o que puder para manter este patrimônio em pé. A pobreza do país está alarmante, por isso, acho que podemos contribuir com a formação, direito à educação, saúde, paz, cutura e entretenimento. Teremos sempre a responsabilidade de uma empresa séria e preocupada com a vida de outras pessoas. Acredito que há pessoas totalmente envolvidas nesta causa. Quero deixar a consciência de que devemos passar tudo o que aprendemos de bom, de geração para geração.



Interatividade:
Sugira para nós uma pessoa que faz a diferença no seu bairro.

Um comentário:

  1. Estamos Juntos nessa!! Eu fiz parte desta familia q é o CISANE durante muito tempo e venho acompanhando todos os trabalhos do Edilso de camarote, conheço sua garra e determinação e sei o qnto ele é capaz.
    Parabens meu grande amigo!!

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