quinta-feira, 18 de junho de 2009

Lata diferente

JARDIM PERNAMBUCO

Crianças do Ivonete transformam latas em instrumentos musicais
por Giuseppe Stéfano e Jéssica de Oliveira

Já dizia o velho ditado: quem não tem cão, caça com gato. Certamente, as crianças da Escola Municipal Ivonete dos Santos Alves, em Jardim Pernambuco, devem ter pensado assim quando, na falta de instrumentos musicais apropriados, resolveram criar o “Bate Lata”.

A ideia surgiu quando o grupo Afro-Reggae visitou a escola no ano passado e agitou a garotada com o som de seus criativos instrumentos. Naquele episódio, a escola apresentava a culminância do trabalho da consciência negra e nada mais natural do que convidar uma das mais importantes ongs do Brasil, que tem uma sucursal em Jardim Nova Era.

Após a visita do Afro-Reggae, a professora Raquel Costa convidou as crianças que se interessaram para formar um grupo semelhante ao do Jardim Nova Era. “A tia Raquel passou na minha sala e pediu para que levássemos latas vazias de tinta e de achocolatado porque haveria uma surpresa pra gente”, lembra Emanuelle França, de 12 anos.

Aluna do quinto ano, Manu, como é conhecida pelos amigos, não se interessou muito ao ouvir o pedido da professora. Foi sua amiga Thaís Oliveira, que já estava participando, quem a convenceu a entrar no “Bate Lata”. “Amei a ideia!”, conta Manu, que teve mais facilidade de pegar as músicas do “Bate Lata” do que de convencer os pais. “Eles disseram que eu só podia participar se continuasse tirando boas notas.”

O projeto da tia Raquel ia ao encontro de um outro projeto, o “Resgatando, Recontando e Escrevendo a Cor da Nossa Cultura”, criado pela direção da escola com o objetivo de implementar no dia-a-dia dos alunos o valor do negro na sociedade. “A questão racial estava, como ainda está sendo trabalhada, junto às atividades cotidianas em sala de aula”, conta Sandra Querino, coordenadora político-pedagógico do Ivonete. “Nós queremos que todo dia fosse dia da consciência negra.”

Apesar de toda a dificuldade e limitações, os quinze músicos mirins já se apresentaram na escola, no SESC de Nova Iguaçu e em São João de Meriti. Eles vestiram a camisa do
Bate lata e venceram o nervosismo e a inibição para mostrar do que são capazes. Contudo, não são todas as crianças da escola que têm a oportunidade de invadir outros palcos e fazer música de um jeito diferente. “Tudo é muito precário”, lamenta Sandra, que ainda hoje se angustia com a falta de dinheiro para as camisas e a condução que leva o grupo para as apresentações. “Apenas os mais antigos tocam em outros lugares; os demais permanecem na escola.”

A comunidade de Jardim Pernambuco, que aprova e torce pelos batedores de lata, ajuda de todas as formas que pode para manter o projeto vivo. Um bom exemplo disso foi sentido no dia em que as coloriram seus instrumentos. “Foi um morador do bairro que ministrou uma oficina de grafite”. lembra tia Raquel. “Nós compramos a tinta e levamos as crianças pra pintarem. Foi ótimo; elas adoraram!”

Para finalizar essa bela história de união, nada melhor que o grito de guerra da criançada que faz o
Bate Lata:

“Ivonete lata, nem melhor nem pior, apenas diferente!”



Interatividade:
Sugira uma música que deve entrar no repertório dos jovens músicos de Jardim Pernambuco.

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