VILA DE CAVA
Aposentado de Vila de Cava transforma lixo em sabãopor Josy Antunes
Comunidade de São Pedro, nas proximidades da Rua do Carro Quebrado, em Vila de Cava. É nessa igreja católica que, numa tarde de segunda-feira, é possível encontrar o Sr. Darcídio Delfino, que tem seu nome já bem conhecido pelo trabalho que realiza. Aos 68 anos, há cinco está envolvido com reciclagem, ligada diretamente a questão ambiental, que sempre foi uma de suas grandes preocupações. Após se aposentar de seu emprego como operador de máquinas, ao contrário do descanso esperado por muitos, Darcídio entrou numa luta por seus ideais e hoje é responsável por um trabalho para além da coleta seletiva: o da conscientização popular. “É um trabalho para o mundo melhorar, para todos”, defende ele.
Dentro do terreno pertencente à igreja há um grande galpão, onde montanhas de materiais, que um dia foram rotulados de “lixo”, agora aguardam que mãos voluntárias lhes deem um novo destino. A igreja é um ponto de coleta desses materiais, doados pelos moradores, estabelecimentos ou que são catados pelo próprio Darcídio nas casas da vizinhança. “Tudo isso nos foi dado”, conta ele mostrando o galpão. “De graça recebemos e de graça damos”. Depois de separados – papéis, plásticos, entre outros – os materiais são vendidos para cooperativas que lucram com a reciclagem. Cada caminhão cheio que vai para esses locais rende de 30 a 100 reais, o que não se aproxima do valor real, menos ainda do esforço realizado para aquela coleta.
As quantias obtidas com essas vendas sustentam famílias carentes, moradoras da rua de trás da Comunidade São Pedro. “A igreja não leva um centavo”, esclarece o senhor, que hoje se diz, orgulhosamente, um lixeiro. Por ser um trabalho exaustivo e sem retornos financeiros, marcas de um trabalho social bem fundamentado, o número de voluntários é escasso. “Começamos com dez, hoje já diminuiu bastante”, lamenta Darcídio.
Três anos atrás, através da internet, ele descobriu uma nova possibilidade: o óleo - que depois de ser usado nas cozinhas torna-se um grande problema para o meio ambiente - pode ganhar vida nova. E o que era símbolo de gordura e sujeira pode se transformar em sabão, um grande aliado da limpeza. O produto final pode ter duas utilidades: lavar louças ou roupas. “Transformar o óleo é uma necessidade”, garante Darcídio, sempre muito preocupado com o meio ambiente e com as agressões trazidas pela população.
“Eu tenho uma receita própria”, é o que ele garante, após experimentações iniciais de outras fórmulas, umas mais satisfatórias que as outras.
Os materiais usados são os seguintes:
- 5 litros de óleo
- 800 gramas de soda cáustica
- 1 copo de sabão em pó
- 1 copo de amaciante
- 1 litro de detergente
Com tudo separado, é necessário munir-se de máscara, luvas e óculos, pois a soda, se não usada com o devido cuidado, pode ser muito perigosa. Num balde colocam-se os cinco litros de óleo, com o detergente, o sabão e o amaciante. Com uma colher própria, que mede um metro, mexe-se o conteúdo do balde e, num outro balde, derrete-se a soda em um litro de água fervente. É recomendável que se deixe o produto ao sol, para a garantia de uma boa secagem, e que ele repouse por 48 horas, para só então ser utilizado. “Eu deixo sempre mais, uns três ou quatro dias”, diz Darcídio, precavido.
Para o mundo melhorar
Cada pote é vendido por 2 reais, que também gera renda para as famílias. “Mas é pra quem pode e pra quem não pode”, esclarece ele, citando casos de pessoas que, mesmo sem condições de pagar o valor estipulado, levam o sabão para casa. No decorrer de sua luta diária, Darcídio já teve oportunidades de largar tudo e ter um trabalho onde receberia uma alta quantia, mas a recusa foi imediata. “Preferi não ganhar o dinheiro pra fazer esse trabalho. Um trabalho para o mundo melhorar, para todos”, afirma ele.
A cooperativa na Comunidade são Pedro é só uma parte do trabalho social realizado por Darcídio. A sede da igreja católica – a paróquia – se localiza no centro de Vila de Cava. Há também uma creche e um mercado solidário, onde as famílias beneficiadas efetuam as compras com uma “moeda social”. “Lá não valem os centavos, o real utilizado por nós”, declara.
Interatividade:
Que outro material pode ganhar nova vida após a reciclagem?
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