segunda-feira, 15 de junho de 2009

Primeiras professoras

Projeto Mães Educadoras muda bairro, escola e a vida das famílias
por Carine Caitano

“Tornar o bairro uma escola e a escola um bairro”, diz Bernadete Triunfo, Subsecretária de Educação de Nova Iguaçu, ao tentar resumir as intenções do Bairro Escola. Para isso, é necessário sintonia nas várias células que compõem o processo educacional.

O Bairro-Escola conta com os professores regentes, os parceiros e, é claro, o bairro. Além disso, pensando em quem discute educação, o projeto trouxe para as salas de aula as primeiras professoras que a vida nos oferece: as mães. “As mães educadoras comparecem no horário integral e auxiliam durante o almoço e na higiene bucal. Em sala, elas abusam de afetividade para avaliar os alunos e, juntamente com a professora, reagrupá-los para que haja uma troca favorável de conhecimentos”, explica Bernadete. Segundo a subsecretária, essa concepção foi desenvolvida por Vygotsky, um professor e pesquisador contemporâneo, que defendeu a observação da desenvoltura para promover interações.

Pelas experiências relatadas, fica claro que o trabalho das mães é essencial. O que as diferencia é a percepção delas sobre o universo infantil. “Com as mães na escola, as crianças começaram a comer mais” – exemplifica Bernadete, frisando que, apesar de não ser difícil, a minoria das professoras acompanharia o almoço e, mais ainda, perceberia que falta amassar a carne. Detalhes como esse estreitam o diálogo entre escola e famílias. “Muitas vezes, o professor chama os pais para uma reunião, mas não os atinge pelo excesso de jargão pedagógico”, completa Bernadete. Estando ativas na escola, as questões são verificadas e discutidas com as mães diariamente, o que acelera soluções.

A Secretaria Municipal de Educação é responsável pela capacitação das mães, reunindo-as três dias por mês em oficinas de cultura, esporte e aplicação. “O compromisso não era só o horário integral, mas sim o Bairro-Escola como um todo: bairro e escola, ambos recheados de pessoas”, afirma a subsecretária.

Pré-requisito
Além de viabilizar avanços notáveis nas crianças, as mães educadoras assumem a responsabilidade de trabalhar na construção do saber. Nas oficinas, elas têm a chance de avaliar e discutir sobre família, professores e vizinhos, além de ser um momento de descontração.

Todas essas atividades ajudam a remodelar não apenas o modelo de educação proposto pelo Bairro-Escola, mas o próprio estilo de vida das mães. “Percebemos que a relação com a escola criasse nelas o desejo de aprender”, conta a responsável pelas mães educadoras. Por isso, virou pré-requisito: para ser uma mãe educadora, a mesma deve estar aumentando o nível de escolaridade, ação que em tudo tem a ver com a intenção Bairro Escola: transformar.

Finalizando, Bernadete faz um balanço geral da inclusão das mães no espaço escolar: “O horário integral é política de ação afirmativa de gênero. As mulheres podem trabalhar com a certeza de segurança dos filhos. Nada melhor que levantar questionamentos sobre o que ser é ser mãe e promover esse diálogo. Assim como os filhos, elas têm a chance de vivenciar que troca de saberes é necessária para aprender a ser.”


Interatividade:
Qual foi a participação da sua mãe na sua formação escolar?

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