quarta-feira, 3 de junho de 2009

Correndo atrás

Falta de tênis não impede que jovens atletas de Nova Iguaçu corram atrás do sonho
por Leonardo Oliveira

A vontade de vencer e ser “alguém” na vida faz com que crianças moradoras do bairro Riachão se desloquem até a Vila Olímpica da cidade, no Centro de Nova Iguaçu. Todo esse esforço é em busca das aulas de atletismo que são dadas na Vila. O projeto acontecia inicialmente apenas no bairro Mangueira, no Rio de Janeiro. Atualmente o projeto conta com mais três polos na Baixada Fluminense, dois deles em Nova Iguaçu. O projeto é coordenado pelos professores Carlos Eduardo de Mello, 55 anos, Simone Xavier, 36, e pela assistente social Carmen Xista, 42. Apesar de acreditarem nas crianças e no projeto, eles encontram sérias dificuldades para mantê-lo.

Ao todo, as crianças têm quatro aulas por semana. Às quartas e sextas-feiras, na Vila Olímpica; nas terças e nas quintas, as aulas acontecem no bairro em que residem. O maior problema encontrado por eles é a falta de recursos e investimentos. Materiais como pares de tênis, por exemplo, é a exigência mínima para quem deseja praticar atletismo com segurança.

Por mais que alguns achem que isso seja responsabilidade da família, o professor lamenta: “Estamos numa carência terrível”. Porém, ele tem esperança de que alguma ajuda possa chegar logo. “Vou esperar os que têm interesse em ajudar e coragem de investir.”

A ausência de recursos faz com que muitas crianças com talento desistam. Entretanto, isso não desanima os coordenadores, que acreditam que sempre existirão pessoas que desistem de seus objetivos em razão dos obstáculos. “Tem gente que desiste até de ir à igreja”, diz Carlos. Para Carlos, a família é a base de tudo. Ele diz que, se as crianças tiverem apoio moral dos pais, elas dificilmente desistirão do seu sonho.

Carla Emanuelle, 11 anos, aluna do projeto desde que ele foi fundado, no Riachão, pratica o esporte há dois meses, mas com os pés descalços, correndo riscos. Certa vez, a menina cortou o pé, foi para sua casa, mas no dia seguinte estava lá, firme e forte. Essa é a prova de como é grande a vontade dessas crianças.

Segundo Carla, a obrigação de comprar os tênis é de sua mãe. Entretanto, sabe das necessidades que poderá passar caso ela os compre. “Só corro descalça porque preciso”, diz a menina. “Minha mãe ainda não teve dinheiro para comprar meu tênis”, conforma-se a menina.

Problemas do mundo
Segundo ela, correr em seu bairro é melhor, pois o terreno é coberto por grama e não agride os pés, facilitando a prática esportiva. Como todas as outras crianças, Carla é sonhadora e acredita que o atletismo pode transformar seu futuro. “Não vou jogar meu sonho fora por causa dos problemas que acontecem no mundo.”

Já Marcele Teixeira da Silva, de 16 anos, quer ser professora de educação física, assim como o professor Carlos. Ela o tem como inspiração e diz: “O professor Carlos oferece todo o apoio que precisamos. Quando pode, ele até compra tênis para quem está precisando.”

Carlos e seus alunos não estão aqui para perderem em nenhuma competição. A cobrança é forte, o serviço é pesado, as necessidades são muitas, mas para quem quer vencer e estar nos grandes pódios mundiais, um par de tênis pode ajudar bastante.


Interatividade:
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