Jovens reporteres escrevem sobre encontros e desencontros familiares
por Gesseca de Lourdes, Vanessa Paes, Patrícia Toledo, Jeissiane Caetano, Jéssica Aureliano, Jéssica Guimarães, Letícia da Rocha e Jéssica Gomes
A confiança é primordial para se ter uma boa comunicação com a família. É o que diz a adolescente Thamires do Nascimento, 17, moradora de Nova Iguaçu. Sua família é formada por três pessoas: sua irmã, Ester do Nascimento, 12, sua mãe, Luiza do Nascimento, 48, e ela. Para ela, conversar com sua mãe significa muito.
“A pessoa com quem mais converso em casa é a minha mãe. Costumamos conversar, na sala da minha casa, sobre diversos assuntos, principalmente sobre religião.”
A base do relacionamento entre Thamires e sua mãe está na amizade e no respeito entre elas. Segundo a jovem, esse tipo relação vale ouro. "Minha mãe é mais sábia, compreende melhor as coisas e tem mais conhecimento para me passar. Tudo que ela me ensina, trago para minha vida. Ela me auxilia em tudo, até mesmo na escolha da minha profissão", revela a jovem.
Thamires confessa que viver sem sua mãe seria um caos, pois ela depende muito do apoio e do bate papo diário com sua mãe para tomar suas decisões e evitar decepções futuras. Para isso, ninguém melhor do que a própria mãe.
"Eu me sentiria confusa sem a opinião da minha mãe. Ficaria desorientada. Eu iria começar a fazer muitas coisas erradas não tendo a ajuda dela. Poderia fazer as piores coisas possíveis, que é o normal de todo adolescente, por isso que sempre cito aquele ditado: o inteligente aprende com os próprios erros. O sábio aprende com os erros dos inteligentes. Minha mãe é muito sábia e quero me tornar sábia também", declara a filha coruja.
Ao contrário de Thamires, a adolescente Jaqueline Fernandes,17, afirma que gosta de todas as pessoas da sua família, mas confessa que não se dá muito bem com seu pai. E não tem diálogo. Essa jovem moradora de Mesquita vive junto com seus pais e seus dois irmãos, Juliana Fernandes e Diego Fernandes. "Gosto muito de todos, mas não me dou bem com meu pai e não temos diálogo, pois ele é ignorante e fechado.”
O sonho de Jaqueline é que tudo fosse diferente para que houvesse um elo entre todos seus familiares, acabando com as diferenças. "Família para mim tem que ser unida, ter diálogo, companheirismo. É poder contar com seus familiares e, principalmente, ter respeito e amor por cada um", diz.
Jaqueline, assim como Thamires, acha importante a presença e o bate-papo em família, mas infelizmente isso não acontece com sua. Ela sente multa falta dessa ligação entre pais e filhos. “Para família ser unida é preciso haver companheirismo, confiança e diálogo, além de respeito e paciência uns com os outros”, finaliza.
O Dia-a-dia
Por mais importante que seja o dialogo entre os familiares, a jornada de trabalho imposta pela sociedade atual acaba dificultando esses momentos entre família. É o que acontece com a operadora de telemarketing Elaine de Paula, 25 anos, moradora do bairro Palhada.
"A minha vida é bem corrida, não tenho filhos, moro com minha avó Maria de Lourdes e o meu pai Antonio Carlos. Trabalho de segunda a segunda, e quando tenho folga, mal fico em casa, pois tenho compromisso com a igreja que freqüento. Por conta disso, o diálogo lá em casa é rápido, muitas vezes despercebido. Mas me relaciono bem com os meus familiares”, confessa a jovem.
Diferente de Elaine, a cabeleireira Rosimary da Silva Pimentel, 37 anos, sempre encontra um tempinho para conversar com seus quatro filhos. Em sua casa, no bairro Jd. Palmares, sempre rola a intitulada "cúpula do au-au". Trata-se de um momento onde cada um de seus filhos pode dizer o que pensam e sentem. "Todos se ouvem numa boa”, diz a cabeleireira.
Geralmente, esse diálogo acontece na sala, sempre à noite, entre 20h e 22h. "São discutidas reclamações diárias, brigas que acontecem entre irmãos e etc.”, revela.
"No início, meus filhos não gostavam muito desta reunião, porém a tornei divertida. Com o tempo, todos se acostumaram, pois é um momento de soltar os cachorros", explica. .
A tecnologia na vida familiar
Embora algumas famílias não consigam manter a freqüência dos diálogos entre si pelos mais diversos motivos, outras famílias procuram manter contato, mesmo que indireto, com seus filhos, maridos e esposas. Para isso, essas famílias se utilizam dos meios de comunicação para estabelecer contatos. Veículos como a Internet, o rádio, a televisão e o telefone, são os mais utilizados na hora de aproximando ou afastando dos parentes que mais gostam. "Toda noite, a gente vai para sala e fica na frente da TV, vendo novela", diz a jovem Aline Farias, de 18 anos.
A Internet também tem sido um meio muito procurado para trocar mensagens ou até mesmo conversar, em tempo real, com amigos e parentes queridos. Mauro Vaz, pai de duas filhas que moram em São Paulo, usa ferramentas como MSN (conversa on-line), orkut e WEB CAM (câmera) para não perder o contato com elas.
"Eu acordo todo dia às cinco da manhã, ligo o computador e abro meu orkut para ver os recados que elas me mandaram”, afirma. “Todo domingo entre as 9h e 10h da manhã eu ligo para elas. Quando eu não ligo, elas me ligam", continua.
A Internet também aproximou o animador cultural Carlos Jocarbas, 39 anos, de suas filhas, mas de uma forma diferente. "Eu fico preocupado com o que elas podem estar vendo nesses sites, então, fico sempre por perto acompanhando. Quero saber o que elas mexem e com quem conversam. Isso me faz passar mais tempo junto delas", diz.
Dentro de uma sociedade onde os valores familiares parecem estar se perdendo e os conceitos de reunião familiar se modificando, tornando-se cada vez mais esporádicos, as tecnologias da comunicação muitas vezes cumprem o papel de reverter esse quadro. A tesoureira Cleide Márcia, 36 anos, conta que morava no interior de Minas, em um sítio onde não havia energia elétrica. Segundo ela, o radinho a pilha fazia com que todos se reunissem. "À noite, nos ouvíamos rádio e conversamos. Mas meus pais não tinham tanto diálogo comigo e meus irmãos como eu tenho com os meus filhos hoje".
Outro meio de comunicação muito utilizado atualmente é o telefone celular. Ele é visto pela auxiliar de tesouraria, Roberta Galvão, 28 anos, como uma ferramenta de segurança, porque com ele, ela mantém contato com sua filha Caroline. "Eu uso o telefone para saber como a Carol está", confirma.
Embora esses exemplos mostrem como as tecnologias da comunicação aproximam as pessoas, há quem discorde e afirme que, em alguns casos, ela pode acabar atrapalhando a relação em família. Da mesma forma que os familiares se reúnem para ver TV ou ouvir rádio, eles podem se afastar para fazer os mesmos caso tenham gostos diferentes. Com isso, o mesmo aparelho que traz benefícios pode virar o vilão da história.
"Lá em casa, quando meu pai se senta para ver televisão, ele não ouve mais ninguém. Ele se desliga de tudo e presta atenção somente no que está vendo”, conta Cristina Ribeiro Costa, ilustrando a discórdia.
Já no caso da jovem Aline Farias, a Internet que é responsável pelo seu afastamento da família. "Quando entro na Internet, esqueço de tudo e de todos, porque é o espaço onde posso fazer as minhas coisas sem meus pais. Posso falar com meus amigos com total liberdade", sentencia.
O rádio já se tornou motivo de briga na casa de Cleide Márcia Gomes. "O rádio separa todo mundo lá em casa, porque cada um ouve um tipo de música. Enquanto um está ouvindo uma coisa, o outro ouve outra. Às vezes acontece até briga", conta.
Na casa de Roberta Galvão, 28 anos, o telefone celular já gerou desentendimento entre ela e seu marido. "Eu quebrei o telefone do Edson quando ele chegou em casa depois de eu ter ligado diversas vezes para celular dele. Ele não atendeu", lembra.
Enquanto as tecnologias da comunicação ajudam para uns, para outros ela pode acabar dificultando o entendimento familiar.
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