por Flávia Ferreira e Alcyr Cavalcanti
O dia começou cedo para aqueles que procuravam uma primeira oportunidade de trabalho no feriadão de Zumbi dos Palmares. Em uma época de desemprego estrutural, agravada pela "crise do capital" que vem desafiando a criatividade dos governantes, a cidade resolveu mobilizar jovens sem perspectivas profissionais na Vila Olímpica. De certa forma parecido com o que aconteceu há alguns meses na PUC (Pontifícia Universidade Católica), mas com características próprias, à maneira da Baixada Fluminense.
A 1ª Feira de Estágios e Empregos da Baixada teve início pontualmente às 9h da sexta-feira 21 de novembro. Os doze estandes estavam totalmente abertos e, em conjunto, tinham 4 mil vagas de trabalho, em sua maior parte destinados a jovens à procura de seu primeiro emprego. Além deles, o ginásio da Vila Olímpica de Nova Iguaçu estava tomado por mães, pais, idosos e crianças, negros, brancos, amarelos, cristãos e muçulmanos. Havia uma grande integração entre as diferentes etnias, crenças e idades, todas unidas pela motivação de como se inserir no mercado de trabalho.
Segundo estimativas da Prefeitura e da empresa organizadora do evento (Diferença Eventos), a idéia era atrair mais de 30 mil pessoas para a feira, que terminou no domingo 23. As áreas com maior oferta de vagas eram administração de empresas e as áreas técnicas, como mecânica e eletrônica. Os parceiros deste banco de oportunidades foram a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Banco Itaú, Sesi-Senai, Fundação Mudes, Sebrae, CIEE, Conselho Regional de Economia, ACP-SAT e ISCOS.
Todos eles estavam expondo seus trabalhos e oferecendo uma oportunidade de emprego. “O contato foi feito empresa a empresa e elas aceitaram logo de cara. As que não quiseram participar se propuseram a participar nas próximas edições da feira”, disse Chahid Nakad, 46 anos, um dos responsáveis pela organização da feira. “Além do apoio da Prefeitura de Nova Iguaçu, procurei a Secretaria Municipal de Trabalho e desde o primeiro momento abraçaram a idéia, além da participação sempre ativa da Universidade Rural de Nova Iguaçu. Aí fizemos o trabalho”, contou entusiasmado Chahid.
Para o sub-secretário municipal de Trabalho e Emprego, Rogério Rocha, o apoio a essa iniciativa é importante porque ajuda os jovens a ingressar no mercado de trabalho em um momento de crise e desemprego. “O objetivo também é expandir parcerias e futuros contatos profissionais”, explicou.
Contudo, há um motivo oculto que moveu a criação da feira em Nova Iguaçu. “Nova Iguaçu é a maior cidade da Baixada Fluminense e eu sou morador dela. Quero fazer com que minha cidade cresça, quero transformar a Baixada Fluminense em um dos maiores pólos de captação de profissionais do Estado do Rio de Janeiro”, disse Chahid. A proposta é que este evento aconteça todos os anos na cidade de Nova Iguaçu.
Neste primeiro dia, a mídia, representada pelo SBT e pela Rede Globo, esteve presente fazendo cobertura da feira . “O contato com a mídia é importante, porque, além de divulgar o evento, ela dá transparência, credibilidade e difunde a idéia do trabalho.”
O estande da Prefeitura, cadastrando pessoas à procura de uma oportunidade, era um dos mais procurados. Faziam também carteiras de trabalho, onde funcionários solícitos atendiam a todos sem distinção. A Secretaria de Cultura e Turismo também organizou um estande, no qual mostrava os resultados do trabalho feito com os jovens pela Escola Agência de Comunicação. Um desses trabalhos foi uma projeção com fotografias dos momentos mais marcantes do blog "Jovem Repórter", como a cobertura do Iguacine, do Fórum Mundial de Educação e do SBPC. Os visitantes do estande também tiveram acesso ao blog "Minha Rua tem História", projeto vitorioso colocando a verdadeira memória das ruas na voz de seus atores.
Artistas do povo mostram seu trabalho
Em outra parte do ginásio, simultaneamente, acontecia uma feira de artesanato organizada pelo Fórum Municipal de Economia Popular Solidária de Nova Iguaçu (FMEPS). Mais de trinta barracas estavam montadas, expondo e vendendo produtos artesanais. As barracas exibiam quadros, porta-retratos, blusas, tapetes, jóias, cadernos, aquários, chafarizes, produtos para todos os gostos. Duas lanchonetes improvisadas nos fundos da feira deixaram um forte cheiro de gordura, que chegava a embrulhar estômagos mais sensíveis. Mas o colorido das guloseimas dava água na boca, estimulando o apetite.
Rogério Gomes Paiva é o organizador "do outro lado". Além de organizar e controlar os estandes e barracas com artesanatos dos mais variados, onde havia quase tudo para quase todos os gostos, expunha com arte seus trabalhos feitos
Além de um artista do povo, Rogério é um batalhador. Representa a Diocese de Nova Iguaçu no Centro de Direitos Humanos, cujo responsável é o bispo Dom Luciano Bergamin, que sucedeu ao inolvidável Adriano Hipólito, cruelmente perseguido pela repressão oficial durante os "anos de chumbo", no período 64/85.
"O trabalho dos artesãos visa principalmente a construção da cidadania. Buscamos o máximo de eventos para os artistas do povo poderem complementar sua renda, mostrando sua arte. Fazemos também cursos de capacitação diversos, estimulando também a agricultura familiar. É uma forma de resistência feita pelo povo", afirma Rogério.
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