segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Por trás do nome


Heloísa Buarque de Hollanda achava todas as editoras bandidas até abrir a Aeroplano
Por Flávia Ferreira


O impacto do sobrenome Buarque de Hollanda já diz muito sobre o berço e peso cultural de Heloísa Buarque de Hollanda. São tantos os envolvimentos com a cultura e o universo literário que a gente até se perde. Ela é escritora, editora, crítica literária, professora, pesquisadora, além de uma grande entusiasta, transformando a cultura literária em um meio de sobrevivência. Por mais nobre que seja seu nome, Heloísa é uma pessoa simples inclusive na roupa. No dia em que veio a Nova Iguaçu, para participar de um debate em comemoração ao Dia Nacional do Livro, vestia uma camiseta vermelha simples, uma calça, um tênis e alguns adereços artesanais. Sua simpatia era tamanha que os jovens, animados com a entrevista coletiva, acabaram por transformá-la em um longo bate-papo.

Conhecida como Helô, Heloísa Buarque de Hollanda dedicou boa parte da entrevista à periferia, tema que estuda com tanto interesse quanto a transformação da literatura. Segundo ela, não há mais os autores geniais, como Guimarães Rosa e Machado de Assis. "Antes você tinha aquele pico e hoje existem milhares de pessoas", disse ela, feliz com o fato de terem surgido vários tribos com o poder da palavra.

Ela lamenta, porém, que a esmagadora maioria desses novos autores se perca pelo caminho, por falta de um lugar onde se concentrem e por conta da não publicação de seus escritos. "Achava que todas as editoras eram bandidas até abrir a minha", afirmou. Ela mudou de idéia quando se deparou com os custos de armazenamento, distribuição e transporte, altos mesmo para quem, como ela, conta com o patrocínio da Petrobrás. "É por isso que as editoras não arriscam em algo que não vai dar dinheiro", frisou. Tal fato acontece pela falta de leitores e sem procura não há venda. "Se eu fosse comerciante, ia ter que catar um auto-ajuda ou um best-seller, que, além de ser caro, não vende tanto".

Só no Brasil
Helô vê com entusiasmo a mescla de culturas, que antes acontecia no hip hop e na música, que recentemente tomou conta da produção literária brasileira. "Isso acontece na periferia. A força desta linguagem só acontece no Brasil, não vejo isso na Europa", comparou. "Sempre houve outras linguagens, mas nunca assumindo-se enquanto literatura, isso é novo."

Isso acaba rompendo com a fronteira centro/periferia, porque, como ela mesmo diz, o livro desenvolve uma auto-estima muito grande. "É um instrumento social barra-pesada na luta pela inclusão", disse ela, com gestos contidos para não bater nos celulares/gravadores, que estavam posicionados em sua frente. Ela não tem ilusão, no entanto, que projetos sociais que envolvam a literatura resolvam a questão da violência das favelas cariocas. "Por outro lado, dão uma visibilidade e uma conexão com o restante da cidade que são muito importantes. As periferias estão articulando os lados da cidade, esse era o sonho dos anos 70 que só agora acontece."

Esse contato maior ficou possível com a popularização da Internet, que ajuda a desenvolver o gosto pela escrita das populações mais pobres, além de ser um grande facilitador na venda de livros. "No meu tempo, a gente escrevia e colocava na gaveta. Hoje, você coloca em seu blog, divulga, recebe comentários, então é um facilitador absurdo". Até o Orkut Heloísa acha maravilhoso, pois, com ele, mais e mais pessoas escrevem e perdem o medo das palavras.

A crítica literária mandou recentemente um projeto chamado "Palavra na Baixada" para o MinC, que, se sair vencedor, será aplicado em Nova Iguaçu a partir de março de 2009. "Aqui você tem um elenco que vem de baixo e por isso projeto não pode dar errado", disse ela, que tem uma grande e histórica admiração por secretários como Marcus Vinícius Faustini, Jailson de Souza e Luiz Eduardo Soares.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Uma kombi que resiste ao tempo

II IGUACINE Exibido na sessão de homenagens do II Iguacine, 'Marcelo Zona Sul' continua encantando plateias 40 anos depois de sua es...