Os Jovens e os Cartões de Crédito

Sonho de consumo se transforma em pesadelo
Por Evio Nobre

“A compra compulsiva é um estado de descontrole que visa a minimizar sentimentos negativos”

Segundo a RAE ( Revista de Administração de Empresas)

Quando se fala em cartão de crédito para um jovem, ele só pensa nas mil e uma coisas que pode comprar. A ordem do dia é consumir, a qualquer preço, esquecendo que deve ter a responsabilidade de pagar a fatura no fim do mês. Resultado: alto índice de jovens com seus nomes no cadastro de inadimplentes no SPC (Serviço de Proteção ao Crédito).
Cada vez mais brasileiros entre 18 e 24 anos contraem dívidas que, devido ao acúmulo de juros, não podem quitar.Muitos levam seus pais ao desespero. É o que mostra uma pesquisa feita pela Associação Comercial de São Paulo e outra divulgada pela empresa Tele Cheque.

Além da falta de responsabilidade, e a noção exata das altas taxas de juros que existem, o apelo ao consumo é fator determinante. O bombardeio publicitário invade a todos, de modo subliminar. Já muitas lojas comemoram o Natal, apesar de faltar mais de um mês.

A jovem repórter Letícia da Rocha 18 anos, não possui cartão de crédito, mas tem uma noção exata do que é estar cheia de dividas. Isso aconteceu com uma amiga que fez mais de um cartão, e ficou atolada “até o pescoço”. Não pode comprar mais nada.

Letícia acha um absurdo alguém com sua idade que não tenha uma renda fixa fazer um cartão de crédito, a menos que tenha outra maneira de pagar seus débitos. Quando o nome da sigla SPC foi mencionado, Letícia disse que morre de medo, de que seu nome fique "sujo”, ser chamada de caloteira, golpista, ou até de 171. Morre de vergonha, por isso gasta apenas o necessário. É muito controlada, chega ao ponto de não olhar para vitrines. Chega a ter um controle obsessivo, quase um estado mórbido.

Compradores compulsivos
Como se salvar dessa tentação, que ataca os jovens? Principalmente aqueles que compram compulsivamente?

Na sociedade em que vivemos, extremamente consumista, é tarefa difícil ter controle sobre os gastos, mormente por ser a compra compulsiva um estado de descontrole, que visa a minimizar sentimentos negativos. Nesse contexto, o cartão de crédito pode ser a fuga de uma realidade dura e cruel em que vivem alguns jovens.

Compro sim, e daí?
O Jovem Repórter Evanyr Paula da Silva de 20 anos, é a favor do uso de cartões de crédito, “Não tem nada demais desde que você consiga pagar, eu possuo cartão da Ibi C&A, próprio, mas não tenho cartão adicional”. Segundo Evanyr ele não é, um comprador compulsivo, mas tem medo que um dia seu nome possa parar no SPC, por faltar com seus compromissos. Além de trabalhar como Jovem Repórter ele faz alguns, “bicos” (trabalhos extras), além do cartão da Ibi, Evanyr já fez cartões para outras lojas como por exemplo: Riachuelo, Leader etc... Mas Evanyr tem um trunfo na manga. Se o seu nome, entrar no sistema por inadimplência, ele conta também com a ajuda de seus pais e tios e diz “Confio neles, parente é pra isso mesmo”.

Marlucia Nobre tem 22 anos, casada, mãe de dois filhos. Trabalha como vendedora. Prefere ser chamada de “Dona Marlucia”. Fez vários cartões, Ibi, Leader, e outros, além de abrir carnês das Casas Bahia, Ponto Frio. Não conseguiu pagar nenhum. “Meu nome ficou mais sujo do que pau de galinheiro, foi um período muito difícil”. Foi uma época em que seu filho mais velho Renan de 11 anos adoeceu, teve que interná-lo, não pôde mais trabalhar.

Só agora ela conseguiu renegociar sua dívida. Só na financeira Ibi estava em torno de setecentos reais. Está saldando o compromisso em parcelas. Marlucia diz estar feliz por poder pagar o que deve, e assim quitar suas dívidas. Deixa um conselho para pessoas mais jovens, e que adoram usar cartão de crédito: “Cartão de crédito é bom, mas só quando você usa com responsabilidade, você tem que pôr sua mão onde ela pode alcançar” afirma com firmeza.