Por Crianças Repórteres de Nova Iguaçu
O Iguacine foi aberto com a sessão 'Minha primeira vez na cinema'. Reuniu uma pequena multidão formada principalmente por crianças da Escola Livre de Cinema para assistir ao filme Mutum, de Sandra Kogut. A roteirista Ana Luísa Martins Costa foi prestigiar a sessão, depois da qual foi sabatinada pelas crianças do Bairro-Escola. Foi uma dupla estréia. Além de irem a primeira vez ao cinema, elas fizeram a primeira entrevista.
De onde veio a idéia deste filme?
Li a história de Guimarães Rosa e gostava muito dela. Quem dirigiu o filme foi Sandra Kogut. Ela escreveu o roteiro comigo. A gente, sempre que se encontrava, falava: “gostaria de filmar essa história.” O que a gente achava legal é que a história é contada do ponto de vista de um menino de dez anos. Como é que ele vê o mundo. A gente queria fazer um filme que contasse a história de como o menino vê o mundo.
Qual a foi a parte mais difícil de filmar?
A história tem alguns momentos muito tristes. Desde o início, a gente não sabia como ia filmar a morte de Felipe. O elenco era formado por crianças sem nenhuma experiência de interpretação. Eram crianças que a gente selecionou ao longo de um ano, indo em escolas rurais do interior de Minas Gerais, conversando com elas em sala de aula. Vimos mais de mil crianças até selecionar os meninos que vocês viram no filme. Por isso foi tão complicado fazer aquela seqüência.
Eu não entendi uma parte do filme. Ou seja, tudo. Gostaria que a senhora me explicasse.
Esse filme tem um mistério que só se resolve no final. A gente passa a história inteira sem saber que esse menino, o Tiago, o protagonista da história, é míope. O míope é aquela pessoa que enxerga muito bem de perto, mas o que está longe fica tudo desfocado. Tem várias coisas que acontecem no filme que você não entende o porquê. Quando está indo levar a comida para o pai, Tiago se assusta porque não enxergava muito longe e não sabia o que estava se mexendo na mata. Tudo era meio nebuloso. Tem uma situação em que ele está na roça, em que o pai pergunta o que ele acha do feijão. Ele não está vendo feijão algum e por isso fica quieto. Tem muita coisa que acontece com os adultos que é sempre meio nebulosa. É mais ou menos o jeito como ele enxerga. Ele sabe que tem um problema do pai com a mãe, mas ele não sabe direito o que está acontecendo. Isso é parecido com a forma como ele vê o mundo.
Qual foi a cena que você mais gostou?
Vou contar primeiro a cena que o Tiago mais gostou de fazer. Eu já disse que, pra gente fazer o filme, a gente viajou à procura de pessoas que viviam daquele jeito mesmo. Então, a cachorrinha é a cachorrinha mesmo do Tiago, e ela se chama Rebeca mesmo. Quando a gente foi fazer o filme nesta fazenda, a gente foi lá na casa dele. Ele mora numa fazenda igual à do filme, num lugar muito isolado, chamado Capivara de Cima. Todo dia, para ir para a escola, ele tem que andar quarenta minutos pra pegar um ônibus para ir até uma cidadezinha. Então a gente levou a cachorrinha para o set de filmagem e ela ficou o tempo todo lá. Na história original, a cachorra tem um outro nome. Mas não dava pra gente mudar o nome dela, que ficou sendo a cachorrinha Rebeca. E o Tiago adorou a cena em que ele dá banho na Rebeca.
De onde veio a idéia deste filme?
Li a história de Guimarães Rosa e gostava muito dela. Quem dirigiu o filme foi Sandra Kogut. Ela escreveu o roteiro comigo. A gente, sempre que se encontrava, falava: “gostaria de filmar essa história.” O que a gente achava legal é que a história é contada do ponto de vista de um menino de dez anos. Como é que ele vê o mundo. A gente queria fazer um filme que contasse a história de como o menino vê o mundo.
Qual a foi a parte mais difícil de filmar?
A história tem alguns momentos muito tristes. Desde o início, a gente não sabia como ia filmar a morte de Felipe. O elenco era formado por crianças sem nenhuma experiência de interpretação. Eram crianças que a gente selecionou ao longo de um ano, indo em escolas rurais do interior de Minas Gerais, conversando com elas em sala de aula. Vimos mais de mil crianças até selecionar os meninos que vocês viram no filme. Por isso foi tão complicado fazer aquela seqüência.
Eu não entendi uma parte do filme. Ou seja, tudo. Gostaria que a senhora me explicasse.
Esse filme tem um mistério que só se resolve no final. A gente passa a história inteira sem saber que esse menino, o Tiago, o protagonista da história, é míope. O míope é aquela pessoa que enxerga muito bem de perto, mas o que está longe fica tudo desfocado. Tem várias coisas que acontecem no filme que você não entende o porquê. Quando está indo levar a comida para o pai, Tiago se assusta porque não enxergava muito longe e não sabia o que estava se mexendo na mata. Tudo era meio nebuloso. Tem uma situação em que ele está na roça, em que o pai pergunta o que ele acha do feijão. Ele não está vendo feijão algum e por isso fica quieto. Tem muita coisa que acontece com os adultos que é sempre meio nebulosa. É mais ou menos o jeito como ele enxerga. Ele sabe que tem um problema do pai com a mãe, mas ele não sabe direito o que está acontecendo. Isso é parecido com a forma como ele vê o mundo.
Qual foi a cena que você mais gostou?
Vou contar primeiro a cena que o Tiago mais gostou de fazer. Eu já disse que, pra gente fazer o filme, a gente viajou à procura de pessoas que viviam daquele jeito mesmo. Então, a cachorrinha é a cachorrinha mesmo do Tiago, e ela se chama Rebeca mesmo. Quando a gente foi fazer o filme nesta fazenda, a gente foi lá na casa dele. Ele mora numa fazenda igual à do filme, num lugar muito isolado, chamado Capivara de Cima. Todo dia, para ir para a escola, ele tem que andar quarenta minutos pra pegar um ônibus para ir até uma cidadezinha. Então a gente levou a cachorrinha para o set de filmagem e ela ficou o tempo todo lá. Na história original, a cachorra tem um outro nome. Mas não dava pra gente mudar o nome dela, que ficou sendo a cachorrinha Rebeca. E o Tiago adorou a cena em que ele dá banho na Rebeca.
Eu gosto muito de duas cenas. A primeira é a cena em que ele está andando com a boiada, depois da briga com o pai, quando os dois quebram tudo. Ele sai e fica superfeliz quando está no meio daqueles bois, naquele lugar bonito. Os bois enchem a tela. Eu acho muito bacana.
Eu também gosto da cena do banho dos passarinhos, que acho muito engraçada. Muita coisa no filme era do jeito como eles faziam. O filme tem muito de cinema-documentário. Rosa, a faxineira, mora na região e cozinha daquele jeito, veste-se daquele jeito. A gente filmou muito parecido com o jeito como eles são. Tinha uma cena que a gente ia fazer com os passarinhos e aí a gente perguntou aos meninos como eles tratavam os bichinhos. A menina disse: "ah, eu dou banho de chuveirinho. O passarinho gosta."
Quando esse filme estreou e como está sendo a carreira dele?
Esse filme estreou em setembro, no festival de cinema do Rio. Esse filme já passou em vários festivais, e ganhou muitos prêmios. Foi para Cannes, Berlim, Bogotá, Cuba, Holanda. Tem toda uma trajetória premiada, mas aqui, no Brasil, ele ficou pouco tempo em cartaz. Isso é um problema de distribuição. Tem filmes de Hollywood, que ocupa os espaços. O filme ficou pouco tempo em cartaz, e mais concentrado na Zona Sul. A gente não tem controle sobre isso. A gente gostaria que o filme fosse para os outros lugares, mas isso não tem jeito. Agora a gente está indo para outras praças. A gente foi para Porto Alegre, Salvador, Recife, Belo Horizonte. A gente também não tem muitas cópias. Cada vez que passa o filme é uma oportunidade. No final do ano, ele sai em DVD e mais pessoas terão acesso.
Por que ele não entregou a carta para a mãe?
Você pegou uma cena muito boa. É quando ele fica se perguntando o que é certo e o que é errado. Ele viu, com seus olhos míopes, que o tio teve uma briga com o pai. Ele também vê que o pai briga com a mãe. Ele percebe que tem uma coisa estranha acontecendo, e que o tio é expulso de casa. Quando o tio pede para ele entregar a carta, Tiago não fala nada, fica pensativo. Ele faz aquele buraco na parede, fica observando o pai comendo à noite, pergunta para a avó o que é certo e errado. Ele adora o tio, mas ele também sente que, se entregar o bilhete, estaria traindo o pai, o que ele não quer fazer. Tiago fica tão paralisado com a dúvida que sequer consegue tirar a calça para dormir. Acho engraçado quando ele diz para o irmão que não vai tirar a calça porque fez uma promessa. Ele não consegue nem se mexer. Ele não entrega por uma questão de lealdade com o pai. Acho isso bacana.
Como a senhora conheceu essa história e de onde surgiu a idéia de fazer o filme?
Eu li um livro – o Manuelzão e Miguilim. Dentro desse livro tem uma novela chamada Campo geral. O personagem principal dessa novela é Miguilim. Mas no filme ele se chama Tiago. Não tinha como mudar o nome de Tiago. Nem o dele nem o de Felipe, o de João Vitor. Tudo ali é de verdade. A avó é a avó de verdade dele. Antes das filmagens, a gente os colocou para morarem na fazenda em que o filme foi rodado. Eles chamavam o personagem que fazia o pai de pai. Eles chamavam a mãe de mãe. Ficaram vivendo como se de fato fossem uma família. Mas eu sempre gostei dessa história e sempre quis adaptá-la para o cinema. Essa coisa da visão, que ele enxerga tudo desfocado, é muito cinematográfica.
Por que o nome do filme é Mutum?
Na história, Mutum é o nome da fazenda. Mas Mutum é um pássaro preto, de cerca de meio metro de altura, que está em extinção. É muito engraçadinho. Tem um topete que mais parece um cabelo à moicano. E ele é um pássaro que canta à noite. Tem um gemido triste. Faz assim: mu-tum, mu-tum. Daí o nome. A história tem uma certa tristeza, pois Tiago perde o irmão e no fim ele deixa o lugar que mora. Por isso, achamos o nome adequado.
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