Crítica premiada está chegando ao fim.
Publicamos crítica de Hanny Saraiva para estimular concorrentes a mandarem seus trabalhos.
Pesquisadores afirmam que é necessário desapaixonar-se por seu objeto de estudo. No Iguacine, testemunhei o contrário, os filmes são provas vivas da paixão que se tem pela arte audiovisual e pelos objetos documentados. A memória e a singularidade das histórias periféricas palpitam em honestidade, amor e entusiasmo. Foi assim que Cine Zé Sozinho adentrou o festival. A simplicidade e o carisma de José Raimundo Cavalcanti, aquele senhor que passa filme em um canto do Ceará, no mais periférico dos periféricos é sinônimo de persistência e ingenuidade que só cabe a sonhadores. Muito parecido com o tipo de filme que se produz na Baixada ou em qualquer outra periferia do mundo. Resumo do que Iguacine acredita: a câmera é lápis que sente o mundo. No caso de seu Zé, levar cinema onde nunca se tinha visto uma tela de cinema.
Envolto a uma áurea mágica do cinema de película, Zé Sozinho é contemporâneo lá na década de 70 quando seu cine ambulante exibia filmes nacionais e estrangeiros a preços populares. O local já agia sobre o global, modificando visões, construindo memória.
A direção de Adriano Lima não quer mostrar as dificuldades do protagonista ou sua pobreza como vários documentários tendem a seguir, mas sim uma paixão para com o Cinema que vai além dos discursos de jovens cineastas que tem o sonho de ganhar a vida fazendo filme. Zé Sozinho faz cinema. Ao inserir trechos de faroeste em filmes “de Jesus” ele não só modifica a narrativa, mas atende a demanda do público, sedento por ação, como diz uma das entrevistadas: “A gente queria o movimento”.
Não há nada de novo, mas ver Zé Sozinho rodar com seu próprio dedo a moviola é o retrato do cineclubista em sua vestimenta mais pura e simbólica, aquele que mesmo sem recurso, reinventa. Cine Zé Sozinho é um pouco do que hoje se busca na periferia com cineclubes como Buraco do Getúlio, CineGoteira, CineGuandu. Não é luta diária em busca de patrocínios, mas expressão de um grupo que ao optar por entreter-se com cinema, modifica a visão daqueles que estão ao redor do local onde a exibição acontece, não uma mudança radical ou marxista, mas a forma de ver o mundo através de emoções e imagens.
Com uma fotografia simples, mas bela, Cine Zé Sozinho encanta pelos detalhes do roteiro, pela pontual montagem e acima de tudo, pela verdade de seu protagonista, que segundo o diretor é “uma pessoa de uma simplicidade incrível”. Homenageado no 13°Cine Ceará, seu Zé viajou de avião, hospedou-se no hotel, mas não sabia que podia comer de graça. A doçura e honestidade desse produtor de cultura fazem do documentário um filme peculiar. Sensível a ponto de nos abraçar com o amor daquele que “passa filme”, tocante por exemplificar como a memória pulsa no imaginário e no coletivo. A arte como força propulsora. Zé Sozinho não estava sozinho quando percorria cidades no Nordeste, ele levava o que todo cineclubista acredita: não se dedica vida ao Cinema, vive-se a vida com o Cinema
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Ótima critica, vc está de PARABENS Hanny Saraiva.
ResponderExcluirP.s. quando sai o resultado da premiação??
alguem poderia me dizer ?