quarta-feira, 30 de abril de 2008

O chão da palavra

José Carlos Avelar no Iguacine

Por William Faria da Costa
Fotos: Site da Prefeitura de Nova Iguaçu

No terceiro dia do primeiro festival de cinema de Nova Iguaçu, o Iguacine, o crítico de cinema José Carlos Avelar deu uma palestra na Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Nova Iguaçu. Ele falou do seu novo livro, 'O chão da palavra', cujo tema central discute as semelhanças e diferenças entre o cinema e a literatura.

José Carlos Avelar deixa bem clara a sua opinião: ele não vê as adaptações cinematográficas baseadas em obras literárias como meras ilustrações de um livro. Segundo ele, quando um cineasta faz uma adaptação, não quer dizer que deva ser uma cópia fiel e limitada do livro. Para o crítico, o cineasta dá a sua visão da história que leu. "O ponto comum entre o cinema e a literatura é que cada um quer inventar uma maneira própria de fazer arte"acrescentou.

Essa relação tão próxima entre cinema e literatura surgiu durante a década de 60, quando os cineastas brasileiros sentiram a necessidade de fazer um cinema com a cara do Brasil. Para fugir
da estética do mundo europeu e norte-americano, a solução foi recorrer à literatura nacional, já que esta falava muito mais de nossos personagens locais. Desta forma, passaram-se a filmar nosso clima, nossos problemas, nossa afetividade, nossa realidade, enfim.

Diferenças entre cinema e literatura

O cinema tem facilidade de viajar pelo tempo sem confundir o espectador. "Esta confusão ocorre mais freqüentemente quando essa viagem no tempo é feita pela literatura", explicou o crítico. No filme, o tempo verbal é sempre o presente. No livro é o passado, mesmo que seja um passado imediato. Para escrever um livro, sempre se pode utilizar um dicionário, mesmo que não seja seguido à risca. "Já o cinema não dispõe de um dicionário de imagens", disse Avellar, citando o cineasta Pier Paolo Pasolini.

Para o crítico, o livro dá sentido às coisas em sua essência, sem ambigüidades. No campo do cinema, as imagens das coisas são essencialmente ambíguas e contraditórias. José Carlos Avelar finalizou a palestra dizendo que cinema e literatura formulam imagens mentais distintas e não restringidas. Reforçou também que, entre filmes e livros, não há uma forma de arte mais importante. "As duas são capazes de ajudar no crescimento cultural do indivíduo."

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