quarta-feira, 23 de abril de 2008

Filme que leva além

L.A.P.A., o documentário mais exibido do Iguacine, estréia hoje no Jardim Tropical

Por Flávia Sá e Natália Ferreira

Uma das grandes atrações do Iguacine vai ser L.A.P.A, documentário de Cavi Borges e Emílio Domingos que será exibido em oito bairros de Nova Iguaçu, sempre ao ar livre. O filme, produzido em dois anos e meio, mostra a cena hip hop do bairro que hoje é sinônimo de boemia do Rio de Janeiro. “Procuramos traçar um pequeno retrato do rap carioca”, conta o antropólogo visual Emílio Domingos, feliz da vida por poder devolver a rima revoltada dos mcs para a periferia, da qual se origina a maior parte dos personagens do seu filme.

L.A.P.A começou a ser desenhado em 1999, quando Emílio Domingos fez o curta-metragem Uma palavra que me leva além. Nessa mesma época, mcs de diversas áreas da região metropolitana do Rio de Janeiro, inclusive a Baixada Fluminense, elegera a Lapa como sua Meca e o bar Zoeira como sua mesquita. “A Lapa serviu para agregar quem fazia hip hop”, disse Leo da 12 a certa altura do documentário, que até descobrir a noite da Lapa imaginava ser um dos dois três rappers do Rio de Janeiro. Bastou um ônibus para encontrar parceiros e entrar no filme de Emílio Domingos e Cavi Borges.


O documentário traz depoimentos dos mais representativos MCs da cena carioca, como BNegão, Macarrão, Black Alien e o hoje cultuado Marcelo D2. Esses personagens narraram diversos aspectos do hip hop da Lapa, que vão das batalhas de rimas até a tentativa de reproduzir aqui os símbolos de riqueza que caracterizam o rap feito nos Estados Unidos. Os diretores também entraram na vida particular dos rappers, mostrando como conciliam a sobrevivência com o sonho de uma carreira musical e o modo como se relacionam com a família.

Emílio Domingos, que depois do festival dará aulas na Escola Livre de Cinema, vai acompanhar de perto a exibição do filme nas praças de Nova Iguaçu. “Gosto de ver a reação do público ao meu trabalho”, conta o diretor, para quem são fantásticas tanto a idéia de um festival de cinema na Baixada Fluminense como de mostras gratuitas para o grande público. Para o diretor, o Iguacine é uma comprovação de duas teses que acredita. “Todo mundo pode fazer cinema e ver filmes”, afirma.
As dificuldades enfrentadas na produção do
documentário, durante a qual o documentarista pensou em desistir diversas vezes, foram lembradas na hora em que nossa reportagem pediu para que deixasse uma mensagem para os jovens repórteres da Escola Agência de Comunicação. “Tenham persistência em suas idéias e ideais”, aconselha. “O negócio é se expressar, e da maneira que você puder.”

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