sexta-feira, 15 de maio de 2009

Brincadeiras trilegais

Mediadora gaúcha compara brincadeiras populares do Rio Grande do Sul com as cariocas
por Larissa Leotério

“Cinto e cinquenta com muito carinho. Vai ter que me dar um pedacinho de Baigon. Barata com sabão é bom...” Assim começa a brincadeira de roda mais animada e famosa da Escola Municipal Profª. Leopoldina M. B. E, no Jardim Nova Era. Tão logo termina, ela é sucedida por outra, e mais outra, e mais outra.

A escola, que ainda se prepara para receber o Bairro-Escola, já conta com a mediadora cultural Franciele Ribeiro dos Santos, 23 anos, ainda que a estrutura do projeto ainda não tenha chegado. “Está começando devagar, porque ainda não temos parceiros”, lembra a mediadora, que está trabalhando com as oito turmas da escola, do primeiro ao quinto ano, usando tempos do horário regular e se acostumando às diferenças de turmas. “Os mais velhos são muito agitados, mas valem a pena”, explica.



Segundo Franciele, os maiores apresentam muita resistência às atividades e acham que as brincadeiras são coisa de criança. “Se consideram adultos muito antes do tempo.” Um dos recursos de que a mediadora faz uso para driblar a marra dos graúdos é lembrar as brincadeiras que animavam sua infância no Rio Grande do Sul, comparando com as das crianças cariocas. “Essa semana mesmo, veio uma menina e contou de uma brincadeira de roda que ela adora e que eu brincava no sul”, conta Franciele, cantarolando em seguida 'a canoa virou por deixar ela virar. Foi por causa de Fulano que não soube remar. Se eu fosse um peixinho e soubesse nadar, eu tirava Fulano do fundo do mar '.

Embora só tenha começado a fazer oficinas culturais em março deste ano, a mediadora já se sente segura o suficiente para afirmar que recorrer às histórias da infância é uma estratégia infalível para envolver os mais velhos. Tiago Souza de Almeida Soares, 11 anos, o menino que puxou a brincadeira de roda do '150 com muito carinho', é uma comprovação da tese da mediadora. “Eu gosto mais de jogar bola, mas sei todas as músicas de roda que existem. Eu só não lembro agora”.
Apesar de não gostar de ficar na rua, Tiago conta que o lugar de jogar bola é perto do campo do Santos e é na quadra do Brizolinha, escola vizinha, que todo mundo vai soltar pipa, “que é melhor que roda”, explica.

Papagaio
Millena Barbosa da Silva, de 10 anos, discorda. “Gosto de brincar com as músicas que meu pai cantava para eu dormir: ‘Ciranda, cirandinha’; ‘Fui no Tororó’; ‘Atirei o pau no gato’. E ainda me ensinou o 'dolin dolá'”, enumera. O pai da menina, 'que parece um papagaio', inventava músicas para ela comer, tomar banho e dormir. “Na hora de dormir, cantava que eu ia sonhar com florestas e princesas.” Outra música que o pai cantava era a da 'Vaca Amarela', para que ficasse calada.

Como não poderia faltar, algumas crianças acham mais divertido navegar no universo virtual. “Eu brinco na rua, jogo bola no Flamenguinho e bolinha do gude em qualquer lugar, mas prefiro ir pra lan house”, diz Igor Cardoso da Rocha, de 12 anos.

Apesar de ainda estar começando devagar, a ideia de resgate das brincadeiras populares, tema atual das oficinas, já está sendo bem aceita. Pelo menos é essa a opinião de Mônica Aparecida Nascimento, 38 anos, merendeira da escola e mãe de Monique Nascimento dos Santos, de nove anos. “É importante porque as crianças não têm mais tanta chance de ficar na rua, como a Monique”, conta a mãe, que só deixa a filha na rua se puder ficar no portão, para acompanhar a filha em suas voltas de bicicleta com as vizinhas. No entanto, ela acredita que a filha aproveita melhor a infância do que ela, que teve que tomar conta dos cinco irmãos mais novos ainda com sete anos.

Mas as dificuldades não a impediram de brincar com os irmãos de casinha e comidinha, além de “enterrar baratas”. Com exceção da brincadeira com os insetos, ensinou tudo o que para a filha, que até hoje pede para que cante para ela quando vai dormir. “Só não brinco mais porque, além de trabalhar aqui na escola, tenho que cuidar de vovó e de um um primo de 12 anos e fazer curso de Radiologia.” É por isso que acha ótima a iniciativa de fazer com que as crianças voltem a brincar.


Interatividade:
Você conhece alguma brincadeira de outro estado de que as crianças cariocas também gostem?

Um comentário:

  1. Eu conheço a "queimada", que é um clássico das brincadeiras de rua, que em outros estados também é conhecida como "baleado".
    Alguém aí conhece outro nome para essa brincadeira?

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