quarta-feira, 13 de maio de 2009

Praça-Escola

Ornélia Lippi prova que Bairro-Escola é possível
por Robson Lopes e Camila Elen

Na Escola Municipal Professora Ornélia Lippi Assumpção, o Bairro-Escola funciona a todo vapor. Depois de um gostoso café da manhã nove crianças com idade entre seis e oito anos atravessam as ruas do Rancho Novo procurando evitar barreiras naturais, um valão infecto, buracos, tufos de capim que parecem arvores guiadas pelo guarda de trânsito Esmael Cunha da SEMTESP. Sempre atenta e carinhosa, a mediadora cultural Ingrid Maia acompanha o pequeno grupo composto de nove alunos.


A travessia em busca de mais uma atividade é tranquila. As crianças formam uma fila indiana disciplinadamente. Como em cidades onde os princípios de cidadania imperam, onde as pessoas têm primazia sobre os veículos, os automóveis e seus motoristas param para dar passagem, respeitando o grupinho. Mas ao chegar à praça elas podem sentir plenamente uma sensação de liberdade. Saem da proteção e correm como um pequeno grupo de “carneirinhos” pulando pelos campos. Em um pleno sol de outono, eles se dispersam escolhendo seu brinquedo preferido, balanços, escorrega, gangorras, cordas, enfim tudo que uma criança pode desejar. A Praça da Imperatriz tem de tudo, para todos os gostos.

Quando é preciso mudar o roteiro
“É o meu primeiro dia, estava designada para trabalhar em uma outra escola, mas as atividades ainda estavam sendo planejadas e eu vim pra cá. Parece que tudo vai dar certo”, diz Ingrid, curiosamente agindo da mesma forma que o trio de jovens repórteres, improvisando e mudando seu percurso.

Neste dia, a mediadora cultural interagiu com a criançada através da “Frase Tátil”, um processo exaustivamente treinado. “As crianças aprendem brincando de como deve ser o papel do cidadão. Recolhem o lixo do chão, aprendendo assim o valor de como manter limpo o seu bairro”, afirma Ingrid.

Leandro Santos tem oito anos. É terceira vez que vai brincar na praça. Ele adora as atividades do projeto e reclama quando não tem Bairro-Escola. “Fico triste, e vou pra rua, minha escola tem tudo. Gosto muito da tia, ela é muito legal.” Sua opinião é compartilhada pelas outras crianças.
Thiago tem sete anos e reclama de não ter nada para fazer aos domingos. “Se o Bairro-Escola fosse de segunda a domingo, eu iria todo o dia”, diz ele, feliz por ter aprendido que é feio jogar lixo no chão. As crianças a partir do lixo formam frases, discutindo depois sobre o meio ambiente, um indicativo da eficiência do projeto que provoca uma tomada de consciência na escalada de formação do caráter.

Aprender brincando
Manter as crianças com um único foco em um trabalho em grupo às vezes é quase impossível. O pequeno Richard Anderson, de seis anos, era o mais tímido. Até que chegou a hora de pular e brincar sozinho, “soltar os bichos” se distanciando da atividade comum. Afasta-se do grupo e dá uma corrida em direção a seu brinquedo preferido. Sentindo-se sozinho, ele chama seu amigo Nathan. “Vou ficar aqui! Gosto mais dessa brincadeira”, afirma ele no escorrega. Corre para o balanço acompanhado pelo amigo Nathan.

Mas nem todos os meninos fazem parte do grupo. Maicon tem oito anos e procura interagir, se integrar na atividade, quer brincar com os outros. Ele não faz parte do programa, tem fama de brigão e indisciplinado. Na opinião das próprias crianças, ele não participa por causa de maus-tratos que sofre em sua casa. Isso possivelmente vai refletir em seu temperamento. Mesmo desligado do programa, ele ainda insiste em participar.

Através de atividades como a “Frase Tátil”, as crianças se sentem plenamente à vontade, esquecendo os problemas familiares que os perseguem quando de volta às suas casas.
São onze horas quinze minutos. Parou a brincadeira, é hora de voltar para a escola, fazendo de novo a travessia. Como em um rito de passagem, as crianças esperam ordeiramente em baixo de uma árvore, para voltar para seu lar/escola, para a rotina do banho, o almoço, a sesta, e se jogar “de cabeça” no aprendizado das primeiras letras em uma pequena sala de aula.

Na Ornélia Lippi Assumpção, o Bairro-Escola está dando certo.

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