quarta-feira, 27 de maio de 2009

O que as baianas têm

Pontos de cultura de Lençois e Nova Iguaçu se encontram na Baixada para trocar experiências

por Mayara Freire


O novo projeto da Secretaria de Programas e Projetos Culturais do Ministério da Cultura, mais conhecido como Ponto-a-Ponto, trouxe na última semana duas baianas da cidade de Lençois, na Chapada Diamantina, para compartilhar experiências com o Bairro-Escola de Nova Iguaçu. Os representantes destas duas regiões foram selecionados entre diversos projetos culturais brasileiros com o objetivo de trocar informações sobre ações sociais. O projeto estimula a convivência direta de participantes de cada lugar para ampliar o conhecimento mútuo e fortalecer a rede dos pontos de cultura no país.




As jovens baianas Eniele da Silva, de 23 anos, e Roseane Bernardo, de 22, trabalham no projeto Grãos de Luz e Griô em Lençois, que educa 130 crianças e adolescentes em oficinas de identidade, arte, artesanato e economia solidária, tendo como foco principal a tradição oral e cidadania em escolas municipais. “O que pretendo aqui é compartilhar experiências e aprender com o que esses projetos de Nova Iguaçu têm a nos ensinar”, conta Eniele.
Durante o período de visitas a escolas, Roseane Bernardo, que atua no Grãos há 15 anos, viu
semelhanças na relação entre a educação e a cultura entre os dois projetos, mas descobriu modelos aplicados em Nova Iguaçu que podem ser levados para Lençois. "Aprendemos formas mais
criativas de lidar com a criança, aplicando músicas e brincadeiras mais dinâmicas, como cantigas de roda, além de explorar a cultura indígena", enfatiza. Ainda de acordo com Roseane, estas duas iniciativas fortalecem a cultura de raiz e perpetuam a tradição e o respeito na comunidade.

Situado em Lençois, a 410 Km de Salvador, o trabalho do Grãos de Luz e Griô, que existe desde 1994, tem como base a valorização da cultura e a integração das gerações no local, onde 49,8% vivem abaixo da linha da pobreza. Segundo os criadores do projeto, as estratégias fundamentais são a reconstrução das histórias e fortalecimento da identidade e auto-estima das crianças e jovens, através do resgate cultural de seus antepassados. "Nossa intenção com os projetos é começarmos a tocar na identidade de jovens, transformando a vida social e educacional por meio da cultura", diz a cooperativista Eniele. A carência de práticas integradoras de ensino e aprendizagem nas escolas que incluem a vivência afetiva e cultural das crianças da região de baixa-renda também justifica as ações.

Os representantes são tutelados por um padrinho ou uma madrinha e começam a vivenciar, duas vezes por semana, os projetos pedagógicos das oficinas de canto, teatro, pintura, costura, desenho e reciclagem, entre outras. Como está acontecendo no Bairro-Escola, que busca resgatar atividades esquecidas como as brincadeiras populares, os jovens de Lençois são incentivados a registrar sua história de vida, bem como a de sua família e de sua comunidade. Além disso, participam de vivências entre pesquisas sobre mitos, herois, símbolos, cantigas, danças, artes e histórias da cultura local. A tradição oral é resgatada no projeto como fonte principal de ensino. Esse tipo de modelo foi inspirado na cultura dos griôs, termo referente aos líderes de grupos culturais que transmite a sabedoria por meio da fala, como contadores de histórias, músicos e noticiadores provenientes do noroeste da África.

Dois jovens de Nova Iguaçu ainda irão a Lençois, para viver a mesma experiência. O prazo do intercâmbio é de no mínimo cinco dias e cada ponto de cultura tem direito de enviar dois bolsistas. A inscrição é realizada quando os proponentes inscrevem uma experiência de ação cultural realizada em sua comunidade de atuação e indicam os candidatos às bolsas, mais dois para o banco de reserva. O programa Ponto-a-Ponto, que funciona desde o ano passado, também tem a intenção de envolver as áreas de teatro, música, circo, artes plásticas, turismo sustentável, educação ambiental, vídeo e economia popular, entre outras. E além de Rio de Janeiro e Bahia, participam outros 40 representantes de Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Ceará, Pará, Paraíba, Amazonas e Roraima.


Interatividade:

Que aspectos culturais de Nova Iguaçu deviam ser divulgados para os representantes dos pontos de cultura que estão nos visitando?

Um comentário:

  1. Eu acho super valido esse "intercâmbio", porque, como foi dito, ele é bem informativo, sendo assim fortalece mais ainda o Bairro-Escola. Conehcimento é sempre bem vindo.

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