sexta-feira, 8 de maio de 2009

Do Bairro-Escola para o Brasil

Jovens do Bairro-Escola produzem filmes para TV Brasil
por Josy Antunes

Durante o período de 27 de abril a 3 de maio, Nova Iguaçu foi ponto de encontro para participação do programa Ponto Brasil, da TV Brasil. A Escola Livre de Cinema, integrante do Bairro-Escola, foi o “nó” que reuniu grupos realizadores de cinema na Baixada, entre eles o Laboratório Cítrico e o Mate com Angu. “A troca sempre é um ponto positivo, seja em que projeto for”, avalia Luana Pinheiro, que ficou responsável pela produção desse “nó de rede” que a Escola representava.


Como ex-aluna da ELC, fui convidada a participar dessa semana de gravações e previamente avisada de que ela seria tensa. O objetivo era gravar oito curtas-metragens em sete dias, o que exigiu que tudo fosse meticulosamente cronometrado. Na primeira reunião, no começo de abril, recebemos um login e uma senha para o uso de um site onde, coletivamente, criamos roteiros e dividimos idéias. Nele, foram encontrados uma série de temas – como “Laços e nós”, “Brincadeira” e “A espera” – dentro dos quais estavam o que chamamos de MOC: Modelo de Organização de Conteúdo.

Dentro de um MOC os projetos surgiram, inclusive, de pequenos esboços. Era lá onde todos os grupos, até mesmo de outros estados, podiam opinar, sugerir e criticar. Uma mesma idéia podia ser reformulada diversas vezes, graças a essa interatividade.

Dureza das gravações
Depois de reuniões virtuais no Skype – um programa que permite a conversação por áudio – e alguns encontros presenciais, que aconteciam no Espaço Cultural Sylvio Monteiro, os grupos estavam prontos para a gravação do primeiro curta: o “Vestido de Noiva”. Fiquei responsável pela direção dele, junto com Marina Rosa, nossa ex-Jovem Repórter, atualmente mediadora de aulas de audiovisual do Bairro-Escola dentro da ELC e que também passou pelas aulas de cinema no ano passado. “Na teoria é bem mais fácil que quando chega a hora de colocar as malas no carro e ir pra rua gravar”, garante Marina, que, além da direção, “emprestou” sua casa, em Belford Roxo, para a primeira locação e sua mãe como uma das entrevistadas. O curta era um documentário, que pretendia levantar histórias a partir de objetos e lembranças, de namoro e noivado, das entrevistadas.

Além de fornecer o equipamento, a TV Brasil disponibilizou para a produção um operador de câmera e outro de som direto, que nos deram verdadeiras aulas práticas. “Conheci pessoas maravilhosas, aprendi a trabalhar em equipe e a sentir a dureza que é gravar o dia todo seguidamente”, lembra Marina que, aos 19 anos, já domina o equipamento usado nas gravações. Em algumas das cenas gravadas durante a semana, passamos juntas longos minutos com os braços estendidos segurando o rebatedor, um grande círculo flexível posicionado estrategicamente para auxiliar na iluminação.

Na terça-feira, outro ex-aluno da Escola Livre de Cinema teve seu dia de diretor, na ficção “Um domingo desses”. O também autor do roteiro Getúlio Ribeiro, de 20 anos, transformou a casa de um amigo, em Botafogo, em duas locações para as filmagens. A atuação também contou com amigos de Getúlio: Rafaela Cota Leonardo e João Paulo Leonardo. A coincidência dos sobrenomes não foi proposital, porém surpreendeu a todos, momentos antes da gravação. “Não sabíamos que íamos gravar juntos”, afirma Rafaela, tendo reencontrado seu primo, que não via desde os dois anos de idade. “Logo me liguei que era ele e abracei por uns 10 minutos”, lembra a moça.

Uso de imagem
A quarta-feira ficará marcada para a “dupla de rebatedoras”: Marina e eu. A equipe foi dividida em duas: a grande parte ficou em Nova Iguaçu, participando da gravação de “Dentro do trailler mora um pinguim azul”, uma ficção. Enquanto nós, acompanhadas de dois integrantes do Mate com Angu, rumamos para Caxias, onde gravamos uma intervenção urbana e a reação dos transeuntes a ela. “Não tinha quem fizesse câmera, e como eu fiz o curso de câmera na Escola Livre de Cinema, acabei operando nesse dia”, diz Marina. “Senti responsabilidade porque não teria outra oportunidade caso fizesse algo errado.” Cada pessoa que passou pelo local, e teve seu rosto focado pela lente da câmera, preencheu uma ficha autorizando o uso da imagem para a TV Brasil, além dos cerca de dez atores participantes da intervenção. Essa função na produção do curta “A sala de estar” rendeu boas corridas atrás de pessoas apressadas que tiveram seus “15 segundos de fama”.

Após muita correria, finalizamos a semana com a gravação da ficção “O homem dos recados amarelinhos”, no domingo. Ele foi gravado no Sylvio Monteiro e em partes da colorida Via Light, chamando a atenção de quem passava, não só pelo equipamento de filmagem. Havia também um extenso conduíte amarelo, daqueles usados em construções, uma peça fundamental do roteiro. As tentativas de parar carros e pessoas, que interrompiam cenas, foram muitas, e na maioria das vezes, frustradas. Esses episódios acabaram tornando-se cômicos e gerarão um outro curta, como espécie de making off do original, por idéia de Getulio Ribeiro.

Passada a semana de estresse e novas experiências, todos respiramos aliviados. Especialmente Luana Pinheiro, que teve de dividir seu tempo entre a produção do “nó de rede”, do turno da noite das aulas na ELC e de uma sessão do cineclube Buraco do Getulio – do qual é uma das responsáveis – que aconteceu na semana de gravação. “O que fiz para conciliar tudo foi trabalhar, trabalhar e trabalhar, procurando ter o máximo de atenção em tudo. E fazer força para não pirar também foi importante”, diz em meio a risos, passado o sufoco. Depois de finalizado o processo de edição, que dura até o dia 25 de maio, o Ponto Brasil tem previsão de início de transmissão para agosto, na TV Brasil.

Interatividade
Como criar uma mobilização que envolva realizadores, moradores e estudantes em produções audiovisuais, sem que seja preciso a iniciativa de uma rede televisiva?

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