segunda-feira, 11 de maio de 2009

Rainha do Amazor

Catadora de lixo é a mãe-exemplo da escola do Jardim Tropical
por Camila Elen

Depois de quinze dias de ensaios exaustivos com a criançada da Escola Municipal Amazor Vieira Borges, a coordenadora do Bairro-Escola Adriana Costa de Freitas amanheceu rouca no último sábado, um dia depois da festa em homenagem às mães. Mas não se arrependeu de todo o esforço feito. “Foi emocionante”, conta ela.

A festa começou às oito e meia da manhã, com um desjejum oferecido pela escola tanto às mães quanto às crianças no refeitório da escola. Nesse café da manhã, feito com recursos da própria escola e dos responsáveis pelo Bairro-Escola naazor, que é como a escola é chamada. “Servimos café e biscoitos variados”, orgulha-se a coordenadora, que contribuiu com R$ 50 para a festa.

A partir daí foi um vale de lágrimas que começou com as mães e terminou com a diretora adjunta Sônia Sabatini, passando pela própria Adriana, que não resistiu à homenagem feita pelas mediadoras culturais com que trabalha. “As mães não acreditaram com o tamanho da homenagem que fizemos”, comemora a coordenadora. “Elas achavam que iam ouvir qualquer coisa e iam embora.”

O primeiro momento de emoção foi a distribuição de um texto reflexivo, escolhido pela coordenadora do Bairro-Escola, sobre os anjos. Mas ele não se compara ao que as mães sentiram quando a primeira turma de alunos saiu da biblioteca para o pátio da escola, onde encenaram história das mães desde sua infância até os filhos entrarem na escola. “No casamento da mãe, as crianças fizeram uma cerimônia com noivo e tudo.”
Nota mil

Cada uma das turmas foi saindo da biblioteca para homenagear suas mães, dois dos quais apresentações musicais que eram verdadeiras declarações de amor: “Fico assim sem você”, de Claudinho e Buchecha, e



“Bolha de sabão”, de Cláudia Leite. As apresentações terminaram a canção “Doce desejo”, de Claudia Leite, cantada em uníssono por todas as turmas. Antes disso, a turma de educação infantil encenou o texto evangélico “Aos olhos do pai”.

Terminadas as apresentações, houve o sorteio da chamada cadeira premiada. “Distribuímos um pote de mantimento para as mães que se sentaram em uma cadeira com um papel que colamos”, conta Adriana. Depois, veio a homenagem à “mãe nota mil”, que ganhou uma faixa da escola. “Todos ficaram surpresos quando chamei a Neguinha, a começar por Rômulo, seu filho”, lembra a coordenadora do Bairro-Escola.

Neguinha é o apelido da catadora de lixo Elizete de Fátima Macedo Mendes Dia, de 45 anos. “É a mãe mais assídua da escola”, explica Adriana, tomando o cuidado para não ferir suscetibilidades. “Ela está pronta pra tudo.” Um exemplo da dedicação de Neguinha à educação do filho e à escola está na facilidade com que conseguiu, percorrendo a comunidade na qual recolhe seus cacarecos, os vidros de maionese que posteriormente virariam as compotas de bala distribuídas para as crianças.

Paradoxo
Neguinha é o que o diretor da escola, Jozenes Gonçalves, chamou de “a mãe paradoxo”. “Por causa do trabalho que faz, está sempre meio sujinha”, conta ele. No entanto, tem uma preocupação quase obsessiva com a higiene do filho Rômulo Mendes, onze anos, aluno do quarto ano. “Vou todo dia na hora do banho”, conta ela, que leva toalha e roupas limpas para que o filho esteja sempre bem apresentado.

Outro paradoxo representado por essa mãe é que ela não sabe ler nem escrever. Neguinha lamenta essas carência, que a impedem de ser ainda mais útil na educação do filho. “Em compensação, ela não perde uma reunião de pais”, frisa o diretor. Quando precisa, sai mais cedo do trabalho para saber de que forma pode ser mais útil no aprendizado de Rômulo.

A catadora de lixo sabe que, por causa do seu trabalho, o filho fica com vergonha quando a vê na escola. “Os amiguinhos dele zoam por causa do meu trabalho, que me obriga a andar sempre sujinha.” Ela nunca ligou, mas ficou emocionada com a maquiagem que recebeu da direção da escola em reconhecimento “ao cuidado incondicional que ela tem pelo filho”, conforme explicou Adriana de Freitas. “Me senti uma rainha quando ouvi Dona Adriana dizendo que sou um exemplo de mãe.”

Uma das razões para que Neguinha participe tão ativamente nas atividades do Amazor é que o filho, que não gostava de estudar, melhorou seu rendimento escolar desde sua adesão ao horário integral. “Agora ele quer passar de série”, comemora a catadora de lixo. “É por isso que ajudo em tudo que posso.”

Um comentário:

  1. OLÁ,FIQUEI EMOCIONADA!ESTAVA PESQUISANDO SOBRE A ESCOLA,POIS SOU ESTAGIARIA DO BAIRRO ESCOLA E JÁ ESTOU CONTENTE POR TER QUE PARTICIPAR DESSA EQUIPE.
    ESPERO ALCANÇAR TODOS OS OBJETIVOS DA ESCOLA.DEUS ABENÇOE A TODOS.BJS MONICA BELARMINO,ESTUDANTE DO 7ºPERÍODO DE PEDAGOGIA DA UFRRJ (N-I)

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