Por Daniel Santos
As ruas de Nova Iguaçu estão lotadas de tribos de jovens. Mas uma galera tem chamado a atenção, mesmo sem fazer muito barulho. Eles marcam presença em vários pontos da cidade, principalmente em frente ao Instituto de Educação Rangel Pestana, ao lado de uma banca de jornal. Essa turma vem atraindo olhares pela forma como se comunicam, usando a linguagem dos sinais. Essa forma diferente de expressão é a linguagem usada pela galera portadora de deficiência auditiva.
A deficiência auditiva ou surdez impede a pessoa de ouvir total ou parcialmente. Esse problema pode acometer uma pessoa por diversas razões: devido a doenças e viroses maternas adquiridas no período da gravidez, a medicações que comprometam o nervo auditivo e, até mesmo, à exposição a algum som impactante.
Na maioria das vezes, essas pessoas são equivocadamente chamadas de surdas-mudas. Essa denominação é a mais antiga e incorreta forma atribuída aos surdos. Se uma pessoa é surda, não significa que ela seja muda. "Nós não gostamos. O maior ódio é nos chamarem de mudos", diz Vinicius Senra, estudante de 22 anos. A mudez é uma deficiência sem conexão com a surdez. Portanto, uma pessoa só será muda quando for constatado que ela não pode emitir sons.
Além da entrada da Escola Estadual Rangel Pestana, eles contam com outros pontos de encontros de longa data, como os shoppings, as lan house e, nos fins de semana, o Top Shopping. Como todo mundo, a galera portadora de deficiência auditiva se reúne para se divertir e bater papo. Aonde chegam, conquistam espaço, arrancam olhares de quem passa e atraem 'ouvintes' (pessoa sem deficiência auditiva). Geralmente, os ouvintes são amigos que se interessam em aprender a Libras (Língua Brasileira de Sinais). Desse jeito, o papo rola solto durante horas e horas.
Como esses points são dominados por jovens, o dia-a-dia da escola, a rotina de trabalho, internet e a zoação são os assuntos que não podem faltar. No entanto, azaração é o assunto que sobressai na conversa, deixando a galera empolgada.
"Eu venho aqui para azarar, conversar sobre garotas e mulheres", diz Elieser Beltrame, o 'pegador' do grupo, 21 anos. "Já perdi a conta de quantas garotas já fiquei. Acho que mais de 200, tanto surdas quanto ouvintes", diz ele. Segundo ele, na hora da paquera, as meninas trocam bilhetinhos ou já saem agarrando.
Outro rapaz da galera que sempre fez sucesso com as meninas é Thiago Gomes, 19 anos. Porém, há um ano, Thiago abriu mão da pegação e decidiu namorar a ouvinte Daiane Ricci. A estudante revela que conheceu Thiago pela internet. Logo depois, uma amiga os apresentou pessoalmente e o romance começou. "No começo tive um pouco de dificuldade para aprender, mas ele me ensinou rapidinho a linguagem".
Festas e baladas também estão na lista vip desses jovens, por rolar paquera e por eles gostarem de dançar. "Gosto de hip-hop. Consigo escutar um pouco quando a música está bem alta", explica Elieser.
Fora de Nova Iguaçu, esses jovens costumam freqüentar a Lapa, o Largo do Machado, a Associação de Surdos e Mudos, na Penha; e o Instituto Nacional de Educação de Surdos, em Laranjeiras.
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