terça-feira, 8 de julho de 2008

Pelo direito ir e vir

Kombis podem ser polêmicas, mas população prefere o transporte alternativo a ficar na pista
Por Flávia Sá

(matéria ilustrada com imagens retiradas da internet)

Há muitos meios de transportes coletivos em Nova Iguaçu: vans, ônibus e trens. O irmão caçula do sistema é o chamado transporte complementar, mais conhecido como kombis. Elas estão se tornando cada dia mais populares nos bairros mais remotos da cidade, tirando partido da arrogância das empresas de ônibus.

José Ramos de Oliveira, um motorista de 38 anos do bairro de Comendador Soares, agradece os seguidos atrasos dos ônibus da Salutran que ligam o bairro em que mora ao Centro de Nova Iguaçu. "Quanto mais os ônibus demoram a passar, mais passageiros eu levo na minha kombi", diz ele. Em suas idas e vindas, o que mais ouve é queixa dos usuários dos serviços de transportes coletivos. "Todos reclamam", diz ele. "Do senhor de idade ao estudante."

O ovo e a galinha
Há quem não saiba quem é a galinha e quem é o ovo na cada dia mais tensa relação entre os motoristas dos ônibus e os do transporte alternativo. Para o funcionário público Nádimo Gabriel Espíndola, de 24 anos, há uma relação direta entre a diminuição dos ônibus na periferia de Nova Iguaçu e a invasão das kombis. "As empresas de ônibus tiram os ônibus das linhas onde há muitas kombis", afirma. Isso termina prejudicando a vida dos passageiros.

Espíndola é contra a retirada do transporte coletivo, mas, no seu entender, as kombis só vão prestar o serviço a que se propõem quando passarem por uma licitação séria e a Prefeitura colocar mais pontos. "Do jeito como está, não existe nada pior do que o transporte alternativo." Essa opinião não é compartilhada pelo comerciante Cristiano Vieira de Sousa, para quem o transporte alternativo na verdade deveria ser multiplicado. "Sinto falta das kombis principalmente na hora do almoço", afirma o comerciante. "É nessa hora que os ônibus somem."

Privilégio de Moquetá
O desprezo das empresas de ônibus em relação aos usuários mudou muito pouco desde que o asfaltou começou a cair nos bairros de Nova Iguaçu. Rodolfo dos Santos, um aposentado de 47 anos, saudou a transferência dos ônibus da Salutran, que há cerca de 20 anos preferiam passar pela Via Dutra do que enfrentar as esburacadas ruas de barro de Comendador Soartes, bairro em que nasceu e se criou. Mas fica indignado com a indisfarçável lógica econômica da empresa Salutran, que privilegia a linha de Moquetá em detrimento do seu bairro. "Eles dizem que há mais passageiros em Moquetá."

As conseqüências dessa política podem ser medidas em horas ou em reais, dependendo da preferência do passageiro. "A única maneira de não mofar uma hora no ponto de ônibus", afirma uma das passageiras da kombi de José Ramos de Oliveira, que pediu para não ser idenficada à reportagem, "é pegar dois ônibus para ir até o Centro da cidade." Para essa passageira, a Prefeitura devia trocar os ônibus pelas kombis. "Os ônibus é que deviam ser banidos", radicaliza.

Desorganização
Embora reconheça que as kombis facilitaram a vida dos moradores da periferia de Nova Iguaçu, o designer Leonardo Júnior, de 19 anos, lembra pelo menos dois aspectos inconvenientes do transporte alternativo. "As kombis estão sempre cheias e provocam muito engarrafamento na cidade", analisa. Por essas duas razões, Júnior prefere pegar ônibus. A estudante Luciana de Mesquita, de 17 anos, tem uma outra razão para esperar o ônibus durante o ano letivo. "É que as kombis não aceitam o passe escolar", diz ela. Nas férias, no entanto, ela prefere as kombis. "É mais rápido", afirma.

A funcionária pública Janaína Russo tem consciência do perigo de andar nas kombis, onde com freqüência os motoristas enfiam passageiros até eles transbordarem pelas janelas. Mas essa moradora de Comandador Soares de 24 anos tornou-se uma adepta do transporte alternativo nas tardes em que esperou um ônibus durante mais de uma hora, quando podia chegar ao Centro em no máximo 15 minutos. "Como eles não sabem que não tem kombi à tarde, eles pintam e bordam com a gente", lamenta. O descaso com os clientes também se reflete na desorganização da empresa que detém o monopólio da linha que atende o seu bairro. "Às vezes, vejo dois, três onibus passando pra cá, mas não vejo nenhum voltando para Nova Iguaçu."

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