Por Flávia Ferreira
Fotos: Arquivo pessoal
Hoje com 19 anos, a estudante Camilla Elen vivenciou todos os tipos de medo quando tinha apenas três anos e ficava sozinha em casa. Além do bicho-papão que povoa o imaginário de todas as crianças, ela convivia com a ameaça das diversas facetas da violência urbana enquanto cuidava das irmãs mais novas, sob o olhar distante de uma vizinha. “Basicamente, sou a segunda mãe, o segundo pai e a irmã mais velha de minhas irmãs”, resume ela.
Essa situação foi imposta pela linha de montagem da miséria brasileira, que bateu à porta de Camilla Elen com todas as suas armas. Abandonada pelo pai das crianças, a mãe dessa estudante de olhos verdes sempre radiantes de vontade de viver saía para trabalhar todos os dias para fazer frente às contas que iam crescendo à medida que paria os seus cinco filhos. “Me sentia sem ninguém”, desabafa Camilla Elen.
Dona de casa
Hoje com 19 anos, a estudante Camilla Elen vivenciou todos os tipos de medo quando tinha apenas três anos e ficava sozinha em casa. Além do bicho-papão que povoa o imaginário de todas as crianças, ela convivia com a ameaça das diversas facetas da violência urbana enquanto cuidava das irmãs mais novas, sob o olhar distante de uma vizinha. “Basicamente, sou a segunda mãe, o segundo pai e a irmã mais velha de minhas irmãs”, resume ela.
Essa situação foi imposta pela linha de montagem da miséria brasileira, que bateu à porta de Camilla Elen com todas as suas armas. Abandonada pelo pai das crianças, a mãe dessa estudante de olhos verdes sempre radiantes de vontade de viver saía para trabalhar todos os dias para fazer frente às contas que iam crescendo à medida que paria os seus cinco filhos. “Me sentia sem ninguém”, desabafa Camilla Elen.
Dona de casa
A vida do produtor artístico e designer gráfico Luiz Gustavo do Nascimento, hoje com 29 anos, tem um desenho mais sinuoso que o de Camilla Elen. Como a estudante, amargou dias solitários até completar 12 anos, quando o nascimento do irmão mais novo obrigou a mãe a largar o emprego para cuidar dos filhos. Mas a alegria de Luiz Gustavo foi abortada com o desemprego do pai. “Mamãe teve que voltar a trabalhar fora, primeiro na confecção de uma tia e depois no negócio de quentinhas aberto por essa mesma tia.”
Gustavo teve que se virar. “Inicialmente, era só esquentar a comida que ela deixava pronta”, lembra Guga, como o chamam os amigos. Havia ainda a contrapartida de limpar o quintal, cuidar do cachorro e lavar a louça, tarefas registradas em seu coração como passos decisivos para a pessoa responsável que é hoje. “Eu não fazia nada e hoje sou quase uma dona de casa”, brinca ele.
Independência
Ele é o primeiro a reconhecer que o aprendizado foi muito mais importante do que saber cozinhar, passar a própria roupa e arrumar a casa em que mora. “Acho que, se tivesse ficado na bainha da saia da minha mãe, não teria feito muita coisa”, acredita Guga. A independência precoce lhe deu uma iniciativa para entrar no mercado de trabalho aos 16 anos e, mais importante, não arrefecer diante das dificuldades encontradas enquanto cursou a faculdade.
Hoje com 17 anos e trabalhando para o Bairro-Escola, Douglas Assis Monteiro também atribui sua independência ao fato de ter crescido sozinho. “Desde os meus 12 anos tomo minhas decisões”, diz ele. Mas a conquista dessa autonomia lhe custou muitas lágrimas quando, aos oito anos, sua mãe se despediu pela primeira vez para ir ao trabalho. “Senti muita falta quando ela foi trabalhar como doméstica”, lembra Douglas.
Dormir no colo
Sua mãe tentou contornar a situação pagando uma amiga para tomar conta dele, dando-lhe banho e comida, além de levá-lo para a escola. “Mas a saudade apertava nas noites em que não tinha o colo dela para dormir”, diz. Hoje com 20 anos, a estudante Priscila Castro conhece bem essa saudade. “Com apenas nove anos, passei a cuidar de mim e de meu irmão, que tem um ano a menos que eu”, conta essa filha de um casal que dedica a vida às artes cênicas.
Tinha início ali uma rotina bastante conhecida da Baixada Fluminense, em que a mãe deixava a comida pronta no forno e, apesar do receio de que ateassem fogo na casa, trancava a porta para que não fossem para a rua. Talvez a pior recordação dessa época tenha sido o primeiro dia em que Priscila e o irmão voltaram sozinhos de ônibus da escola. “Soltamos no lugar errado e meu pai foi atrás da gente”, lembra Priscila. Os dois estavam voltando a pé para casa.
Horários regulados
A mãe empregou sua criatividade para se manter presente pelo menos no coração de Priscila. “Ela sempre perguntava o que a gente fazia quando ela estava fora e nos dava tarefas, para que não ficássemos à toa”, conta ela. Nada disso, porém, diminuía o peso da responsabilidade da babá mirim. “Por volta dos 12, 13 anos, eu estava neurótica”, diz ela. Essa neurose se manifestou principalmente na sua relação com os horários do irmão, cada dia mais regulados. “Tinha medo de ser responsabilizada por alguma coisa que acontecesse de errado com meu irmão.”
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