Por Letícia da Rocha
Fotos: Giselly Reis
Em meio à facilidade que as lojas de produtos naturais nos oferecem, como produtos prontos e embalados, com logomarcas chamativas e em lojas atraentes, ainda é possível encontrar, no centro de Nova Iguaçu, barracas que só vendem especiarias e ervas naturais para os mais diversos males e sintomas. Ciente disso, fomos às ruas procurar vendedores de ervas que ainda resistem ao mercado atual.
Enquanto muitas pessoas pagam preços altos por remédios, o mercado das ervas oferece produtos com o mesmo efeito, mas que custam muito mais barato. Os vendedores de ervas geralmente são pessoas adultas ou idosas, já os compradores são pessoas de todas as idades. Mesmo assim, a quantidade de vendedores tem caído muito nos últimos anos.
Por não possuírem lojas, os vendedores de ervas geralmente expõem seus produtos em barracas. Eles dizem que o negócio não dá muito dinheiro, porém conseguem sobreviver com ele. Nessa odisséia pelas ruas da cidade, fomos a duas lojas conhecer um pouco do dia-a-dia desses vendedores: uma das barracas fica localizada em pleno calçadão e a outra no camelódromo. Vale a pena conferir a história desses trabalhadores.
Uma dessas barracas é administrada por três Marias. Dona Maria Mazett, a mais nova delas, diz que sua principal clientela é feminina. "As mulheres são as que mais procuram", diz Mazzet. "Mas nem sempre elas compram as ervas para si." Muitas vezes, as mulheres procuram as vendedoras no lugar dos parceiros. "Por vergonha ou timidez, eles não fazem as compras pessoalmente."
Maria Mazett aprendeu o segredo das ervas com a mãe, há cerca de 20 anos. "Antes trabalhava em escritório, mas, como eu estava desempregada, minha mãe me convidou para eu trabalhar com ela." Um dos segredos que aprendeu impede que seu negócio tenha prejuízo. "As ervas secas não correm o risco de estragar ou passar do prazo de validade", aconselha. Já as ervas verdes precisam de um cuidado especial. "Elas chegam todo dia na barraca", conta ela, que tem que jogar no lixo as que não são vendidas dentro de um determinado prazo.
O trabalho das três Marias começa bem cedo, por volta das seis da manhã. "Temos que separar, amarrar e ensacar algumas ervas, além de ver as que ainda podem ser consumidas e as que vão para o lixo", diz Maria Mazzet. Embora trabalhe com uma grande quantidade de ervas, ela jamais vendeu um produto errado. "Tem umas pessoas que em meio à correria do dia acabam pegando a erva errada, de outras pessoas." Essas pessoas aparecem depois para trocar a mercadoria.
Dentre as inúmeras ervas, há as que são usadas para provocar o aborto. Maria Mazzet tem o maior cuidado com elas. "Não vendo para mulher que vem aqui sozinha", avisa. "Só leva quem chegar aqui com o marido." Mas é possível que já tenha vendido o chá do aborto sem saber o objetivo da cliente. "É que é preciso várias ervas para fazer esse chá", explica.
Maria Mazzet faz uma recomendação para clientes desavisados: "Quando for comprar algum produto, nunca diga que você não conhece." Há uma razão para essa preocupação. "É que, caso não tenha o produto, o vendedor pode querer empurrar outro." Esse está longe de ser o caso da barraca delas. "As pessoas confiam tanto que, mesmo comprando em outro lugar, passam aqui para perguntar a minha mãe se o produto é o que elas pediram." Além de ervas, a barraca das três Marias vende xaropes de mel e cascas de árvores.
Diferentemente das três Marias, seu Pedrão trabalha apenas com um produto em sua barraca. É a garrafada do Pedro, uma mistura de ervas que aumenta o apetite sexual dos homens. Embora sua garrafada se destine ao público masculino, a maior parte da sua clientela é composta por mulheres. "Acho que os homens têm vergonha", diz ele.
Ao contrário de dona Maria Mazzet, a barraquinha não é a única fonte de renda de seu Pedrão. "Utilizo esse negócio como um complemento de minha pensão", diz ele. Também ao contrário das três Marias, seu negócio cai no inverno. "As pessoas não querem sair de casa para comprar ervas na chuva." Porém, ele tem pelo menos dois pontos em comum com as três Marias: é um bom conhecedor da natureza e jamais vendeu uma erva errada.
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