sexta-feira, 11 de julho de 2008

Caixa de surpresas

Operadoras de caixa têm uma vida dura, mas não abrem mão do sonho
Por Tatiana Sant'Anna e Priscilla Castro
(matéria ilustrada com imagens retidadas da internet)

Não é nada fácil passar o dia inteiro sentado junto à máquina registradora, calculando o valor que o cliente tem que pagar pelas compras. O salário dificilmente chega a dois mínimos, as jornadas são de longas 12 horas e, acima de tudo, qualquer erro com o dinheiro alheio é descontado no fim do mês. "Mas dá para sobreviver", afirma Maria Tereziana, de 42 anos, 24 dos quais dedicados a esta que foi sua única profissão na vida.

A profissão tem suas vantagens, como elas próprias enumeram com a agilidade de quem está digitando os números na máquina registradora. "É possível fazer carreira", contabiliza Wânia Maria, uma fiscal de caixa de 40 anos que já foi empacotadeira, caixa e agora exerce uma atividade que é um monopólio masculino. Há ainda a vantagem de o supermercado trabalhar com comida e poder oferecer almoço gratuitamente para os funcionários.

Vantagens
Outra vantagem oferecida pela profissão é que ela está aberta para pessoas jovens e sonhadoras, como é o caso de Josilaine Lacerda. Com apenas 19 anos, essa moradora de Comendador Soares conseguiu o seu primeiro emprego há cerca de sete meses. Apesar da longa jornada de trabalho, de que só é poupada uma vez por semana, ela não abre mão de fazer um pré-vestibular para entrar na faculdade de farmácia. “Vou me inscrever tão logo tenha tempo.”

As estratégias de sobrevivência não são muito diferentes de uma operadora de caixa para outra. Apesar dos 42 anos, Maria Tereziana poupa parte expressiva do salário de R$ 643 morando na casa dos pais. O salário de Josilaine, que é quase a metade do de Maria, também é economizado na moradia, igualmente compartilhada com os pais. Josilaine também guarda alguns trocados indo comer em casa, que, como fica a poucas quadras do supermercado em que trabalha, ela vai a pé. Como Tereziana e Wânia, Josilaine ajuda nas despesas de casa. “Mas a maior parte do dinheiro fica para mim”, garante.

Direito de evoluir
Os dias das caixas são duros mesmo na única folga da semana, geralmente dedicados às tarefas adiadas por causa das longas jornadas enfrentadas por elas. “É o momento que eu tenho para levar o filho ao médico ou resolver problemas do dia-a-dia”, diz a fiscal de caixa Wânia Maria. Já Maria Tereziana vai ao banco pagar contas e cuidar da casa, entre outras coisas. “Como sou evangélica, também aproveito para ir à igreja.”

As 12 horas sentadas diante de uma caixa registradora não roubam dessas mulheres a capacidade de sonhar com dias melhores. “Todo mundo tem o direito de evoluir”, afirma Maria Tereziana, que pretende ascender na empresa em que trabalha. Wânia Maria é uma prova viva de que as operadoras de caixa têm direito ao sonho. “Trabalho há 11 anos na mesma empresa”, conta ela. “Já fui promovida duas vezes.”

Preconceito
Wânia conta que é preciso experiência para vencer em uma profissão em que “o cliente sempre tem razão”. Mas ela enfrentou o preconceito dos homens quando levantou da caixa registradora para se tornar fiscal. “No início foi muito difícil, pois era uma mulher num cargo geralmente ocupado por homens.” Depois de certo tempo, porém, as pessoas se acostumaram e ela pôde exercer sua profissão com tranqüilidade.

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