domingo, 27 de julho de 2008

Ciúmes online

Orkut é usado para bisbilhotar até a vida de pessoas desconhecidas

Por Aline Maciel, Daniella Vieira e Jeyce Cristina
Fotos- Aline Maciel, Daniella Vieira e retiradas da internet


A evangélica Jany Cristina de Sá Silva trabalha de segunda à sexta como empregada doméstica e, nos fins de semana, não esquece de adorar seu Deus no templo perto de sua casa. Cumpridas suas obrigações profissionais e religiosas, ela se aboleta diante do computador de uma das lan houses de Comendador Soares e dedica horas ao que considera a segunda melhor coisa da vida. "Depois de Cristo, a coisa de que mais gosto é fuxicar no Orkut", assume.

Como milhares de pessoas ligadas à grande rede, Jany segue um ritual quase tão previsível quanto os dos cultos da Pão e Vida, a igreja que freqüenta. "A primeira coisa que faço quando entro no Orkut é ver quem andou me fazendo uma visitinha", diz ela, para quem a única opção de lazer existente no bairro é a lan house. A visita será retribuída independentemente de a pessoa fazer parte da rede de amigos adicionados em sua comunidade.

No caso de Jany, ver as fotos é uma estratégia para reconhecer eventuais
irmãos da sua igreja, o que pode inibir a invasão da privacidade da pessoa em questão. Mas, para Elciane Xavier, uma moradora de Mesquita de 20 anos, o reconhecimento do rosto do visitante é um estímulo para que coteje o que conhece da pessoa com o que está escrito em seus scraps. "Muitos mentem", afirma ela, que diverte ao flagra amigos dizendo coisas que não são.

Contra-ataque

A agilidade de Elciane é comprometida porque costuma navegar da conexão discada de sua casa, mas ela já protagonizou algumas epopéias virtuais, a maioria delas ligadas às histórias amorosas a que dá publicidade pelo próprio Orkut. A primeira delas teve como ponto de partida a foto que tirou ao lado de um rapaz chamado Eric, com o qual namorou há cerca de dois anos. "Um dia, um 'meliante' pegou essa foto e distorceu-a, deixando-a com o rosto daquelas pessoas que colocam botox."


Elciane só descansou quando localizou o fuxikeiro, que, além de esconder sua identidade por trás de mecanismo de bloqueio, havia criado um outro Orkut e colocado a foto do casal no perfil. "Mandei um scrap quebrando o barraco", conta Elciane. A solução para o problema neste caso foi mais simples do que o imbróglio em que se meteu com a ex-namorada de um outro companheiro seu. "Ela me fuxicava pelo Orkut das primas", lembra ela, que descobriu o fato ao acompanhar os scraps trocados pelas pessoas cujo nome ficava registrado na área Visitantes Recentes.

Elciane resolveu contra-atacar, criando um Orkut para fuxicar a rival e deixando o que ela própria considera "recadinhos malucos". "Só que eu pedi uma foto a uma amiga, que me mandou a de uma menina que eu nunca tinha visto", revela a fuxikeira. Por garantia, Elciane resolveu usar o Orkut falso para averiguar a da dona da foto em questão. "Qual não foi a minha surpresa ao ver que a foto era igual", lembra. Ela não podia mais trocar a foto, mas, para evitar um barraco, nunca mais usou esse Orkut para fuxicar os outros.

Hobbie

A ciumenta Jéssica Lima de Andrade acredita que fuxikar é um vício do qual não consegue se livrar. "Tenho prazer em fuxikar a vida das minhas amigas, dos meus amigos e até da minha mãe", confessa essa estudante de 18 anos. Ela continua entrando no Orkut das pessoas mesmo depois do trauma de perder o namorado cuja vida monitorava cotidianamente. "O Bruno era um amor de pessoa, mas todo dia eu fuxikava o orkut dele para ver se ele havia recebido scraps de alguma menina ou se tinha enviado alguma mensagem de amor." A paciência do namorado esgotou no dia em que resolveu tirar satisfação a seguinte mensagem, enviada por uma prima distante dele: "meu lindo, te amo." "Ele acabou comigo, dizendo que não acreditava nele."

Embora só tenha 18 anos, o estudante Jonathas Abreu percebeu na própria pele que o ciúme é um dos principais motores do fuxiko. "Minha namorada não confia em mim e vive fuçando meu Orkut", diz ele. No entanto, ele tem outras motivações para passar horas raquiando a vida dos outros. "É meu hobbie", admite. Também não é movido pelo ciúme que Felipe da Silva, de apenas 10 anos, investiga o trio fotos-recados-rede-de-amigos de pessoas que nunca viu na vida. "Não tenho mais nada para fazer", justifica.

Felipe da Silva é uma das provas de que a grande rede dá um poder de iniciativa que as pessoas normalmente não têm na vida real. "Passei um ano e meio tecando com uma menina que conheci fuxikando", conta ele. Disse-lhe durante esse período as maiores ousadias, sem imaginar que ela se tornaria sua colega de classe no começo desse ano. Fiquei vermelho de vergonha."

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