Jovens fazem qualquer sacrifício para andar na marca
Por Aninha Paiva, Aline Maciel, Daniella Vieira e Évio Nobre
Quando a aula termina mais cedo, o estudante Marcelo Torres da Conceição pega um ônibus e se manda para o Top Shopping. Tem mais intimidade com o templo do consumo do consumo de Nova Iguaçu do que com as ruas do bairro em que mora. Sabe que as melhores camisas do shopping, pelo menos para os jovens que gostam do estilo hip-hop, são encontradas em lojas como a Via 13, a Censura 18, a Quebra-vento ou a Aldeia dos Ventos. Seus olhos também brilham quando reconhecem um par de tênis Quix, tão alternativo quanto ele.
O único problema é que Marcelo Torres da Conceição, um menino de 17 anos que sequer conhece o pai, não tem uma moeda no bolso. “Vou me transferir para o turno da noite e começar a trabalhar”, diz ele com o mesmo ar sonhador que lança para um par de tênis All Star, um must na sua turma de rockeiros. Essa foi a única estratégia que esse aluno do Colégio Estadual Dom Walmor conseguiu formular para consumir as marcas que poderiam torná-lo visível às pessoas pelas quais se interessa, capaz de arrumar amigos e namoradas. “Não vou fazer como certos garotos, que exigem da mãe o que ela não pode dar.”
Cara do vendedor
Não é de todo impossível que Marcelo já tenha cruzado com Jéssica, um estudante de 18 anos para a qual não há nada melhor do que passear pelos corredores do Top Shopping. Ainda como Marcelo, Jéssica tem pais pobres, que não podem satisfazer suas necessidades de consumo. Mas não é por isso que ela deixa de entrar nas lojas e experimentar as roupas com as quais se encanta. Para não ser barrada no baile, desenvolveu algumas estratégias. “Guardo a cara do vendedor e no dia seguinte procuro outro”, revela.
Mas não é sempre que Jéssica se contenta com amores platônicos pelos seus objetos de desejo. Esse foi o caso de um tênis descoberto nas vitrines da Mary Jane. “Era um K&K rosa, com desenhos azuis”, lembra ela. Aquela paixão à primeira vista ganhou o status de fixação quando o experimentou. “Ficou lindo no meu pé”, diz ela. O único problema daquele tênis, que faria o maior sucesso na festa de 15 anos de uma prima, era o preço. Nem ela nem seu pai tinham os R$ 80 necessários para comprá-lo.
Mas não é sempre que Jéssica se contenta com amores platônicos pelos seus objetos de desejo. Esse foi o caso de um tênis descoberto nas vitrines da Mary Jane. “Era um K&K rosa, com desenhos azuis”, lembra ela. Aquela paixão à primeira vista ganhou o status de fixação quando o experimentou. “Ficou lindo no meu pé”, diz ela. O único problema daquele tênis, que faria o maior sucesso na festa de 15 anos de uma prima, era o preço. Nem ela nem seu pai tinham os R$ 80 necessários para comprá-lo.
O desejo de ter aquele tênis chegou a um ponto tal que por pouco Jéssica não comete um pecado mortal para os amantes dos produtos de qualidade. “Vi um parecido no camelô, que não comprei porque gosto que seja verdadeiro.” Seu sonho tornou-se realidade quando recebeu a visita de uma tia, que, como a fada-madrinha dos desenhos animados, perguntou o que estava querendo. Ela não pensou duas vezes para declinar loja, marca, preço e tamanho do seu pé. “O tênis K&K da Mary Jany de R$ 80 número 38.”
Jaqueta encantada
O estudante Alison Maciel também tem o hábito de passear no Top Shopping quando sai do curso de informática, ainda que não tenha dinheiro para comprar as roupas que deseja. Num desses passeios, deparou-se com uma jaqueta grossa, com dois bolsos de fecho ecler e abertura no punho, parecida com couro. “Entrei na loja para admirá-la de perto”, conta ele com os olhos brilhando por trás dos óculos escuros. A atração se transformou em frustração quando viu a etiqueta com o preço. “Eu não tinha os R$ 120 naquele momento e fui triste casa.”
Alison Maciel faria diversas visitas ao seu objeto de desejo até o dia em que teve uma agradável surpresa entre os cabides da Riachuelo. “O preço da jaqueta que eu tanto queria tinha caído para R$ 50”, conta ele. Era o único dinheiro que tinha na carteira e, apesar disso, não demorou a tomar a decisão que implicaria uma caminhada de cerca de meia hora até Jardim da Viga, bairro em que mora. Colocou a jaqueta na mochila e foi com ela abraçada ao corpo, com medo de ser assaltado no caminho. “Cheguei em casa cansado, mas feliz da vida.”
Quem também não mede esforços para manter o armário em dia são os estudantes Alan e Diego, ambos moradores de Queimados e assíduos freqüentadores da loja Billabong. Os dois, que dependem da mesada dos pais, são capazes de verdadeiras loucuras para se vestir de acordo com um gosto que em parte é determinado pela durabilidade da roupa. “Já comprei um casaco por R$ 230”, orgulha-se Diego. “Quase morri do coração”, lembra Alan. “Mas já paguei R$ 350 por um tênis.” Ana Karen tem um gosto mais informal que o de Alan e Diego, mas é nas lojas do Top Shopping que ela dá forma ao seu estilo surfista. “Já cheguei a dar R$ 220 por uma blusa da Rip Curl”, diz ela.
Gostei do seu estilo de escrever, posso dizer, com toda certeza, que você tem um grande futuro pela frente, como Jornalista. Sei do que digo, pois, praticamente já sou uma, me formo em Dezembro.
ResponderExcluirParabéns