Fotos retiradas do site da ong UBEM
A vida de Fernando Fraga Ferreira já deu mais voltas que o seu triciclo – e olhe que aquelas espalhafatosas três rodas já o levaram até a Guiana Francesa. A primeira manobra arriscada desse autodenominado eco-motociclista foi imposta por um funcionário do extinto Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, cujo nome é Márcio Castro das Mercês. "É que ele fechou a serraria que o meu pai tinha em Tinguá", conta ele, que é mais conhecido como Fernando Tinguá. Dez anos depois de ser colocado na rua da amargura com os pais e os cinco irmãos, Fernando Tinguá usou sua impressionante força física para salvar a vida do mesmo Márcio, naquele momento ameaçada por causa de um carregamento de palmito apreendido na mesma Tinguá. “Estavam querendo tacar fogo no carro dele”, lembra Fernando.
Entre esses dois momentos da sua vida sinuosa, Fernando Tinguá viveu todo tipo de aventura: além de trabalhar em uma birosca logo depois de ser expulso de casa, foi agricultor, marinheiro e até mesmo garimpeiro na Serra do Navio, nos confins do Amapá. “Só não entrei para a Legião Estrangeira”, conta ele, “porque não consegui atravessar a fronteira do Amapá.” Foi por não conseguir entrar para a Legião Estrangeira da Guiana Francesa, um exército mercenário que vislumbrou como única possibilidade de sobrevivência quando tinha 14 anos, que entrou na corrida do ouro que atraiu milhares de pessoas para a região amazônica. “Cheguei a ter duas balsas”, revela. No entanto, a atividade que mais o marcou nessa época foi a de segurança dos compradores de ouro.
Bando de maconheiros
A corrida do ouro levou-o a passar dez longos anos sem ver a família. “Eles nem acreditavam que estivesse vivo”, lembra o criador da UBEM, a União Brasileira de Ecologistas e Motociclistas. Como paga ao fato de ter salvado sua vida, Márcio das Mercês apresentou o movimento ecológico a Fernando Tinguá. “Ele era o presidente do Grupo de Defesa da Natureza, uma das primeiras ongs ecológicas do Rio de Janeiro.” Também ajudou a mudar a vida de Fernando Tínguá a participação em um encontro de motociclistas, que até então ele via como um bando de maconheiros. A união do grupo, porém, só reforçou o ideal de proteger o meio ambiente. “Foi por isso que em 2001 criamos a ong UBEM”, lembra Tinguá.
Árvore de ferro
Um dos símbolos mais expressivos do movimento liderado por Fernando Tinguá está na árvore de ferro, cujas folhas são CDs pendurados, mandada construir em Tinguá em julho de 2001, no início da história da ong. “Ela simboliza a união entre motociclistas, ecologistas e demais grupos ligados à natureza”, afirma o militante, que mora sozinho em um contêiner nas proximidades do Aero-Clube de Nova Iguaçu. Ele também tem a pretensão de mudar a imagem dos motociclistas, até então associada à violência e às drogas dos Hell´s Angels. “Somos contra as drogas”, afirma ele, apesar de o nome oficial da banda de rock da ong ser Santo Dayme, uma religião naturalista cujos rituais fazem amplo uso de uma erva alucinógena.