quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Os invertidos da Palhada


Nos blocos da Palhada, mulher se veste de homem e jovens de classe média viram mendigos
por Cristiane Gomes Ribeiro e Suellen Da E.Oliveira

O mês de fevereiro mal começou, mas a Palhada aguarda com ansiedade o reinado de Momo. O Bloco das Piranhas, o Bloco dos Mendigos e o Bloco dos Pijamas dividem as preferências dos foliões, que começam a escolher suas fantasias com muita imaginação. Homens se vestem de mulher, mulheres se vestem de homem, numa sadia e bem-sucedida inversão.

A Prefeitura promete fazer a parte dela, fornecendo músicos e instrumentos para os bairros de Cabuçu e Alvorada, onde é montado um palco com batucada rolando até as cinco da manhã. É para lá que convergem os três blocos da Palhada.

Os blocos e seus componentes já escolheram os enredos, os sambas e as marchinhas que vão carregar centenas de foliões dançando sem parar, em um imenso cordão. Os temas são diversos: das dores de cotovelo às misérias e alegrias do dia-a-dia, passando pela sátira política das promessas não cumpridas. Carnaval é assim.

As fantasias podem ser escolhidas em casa, e nesses tempos de crise, sem gastar um centavo. É só botar a cabeça para funcionar no ritmo da folia. A ordem é improvisar. No Bloco dos Mendigos, roupas velhas, sapatos furados e panos de chão podem transformar meninos e meninas bem-nascidos em mendigos maltrapilhos, em busca de tostões. Na Palhada, a miséria também faz parte da folia.


Ursinho e chupeta
Também é grande a animação no Bloco dos Pijamas, que já vem ensaiando todo final de semana. É uma tradição na cidade. As fantasias são camisolas, pijamas ou baby dools, mas sem dormir no ponto. Uma das componentes mais animadas é a baiana Manuela Souza dos Santos, de 20 anos, que chegou a Nova Iguaçu com nove anos. Manuela tem o ritmo no sangue, e prepara sua fantasia desde janeiro. Ela sai no bloco todos os anos, com as primas Amanda e Márcia. “Pego um baby doll e uma camisolinha e pronto, estou fantasiada”, conta ela. A fantasia é completada com um ursinho de pelúcia e, é claro, a chupeta. “Não me separo dela.”

Outro grande destaque do carnaval da Palhada é o Bloco das Piranhas. Nele, a inversão é total: meninos se vestem de meninas, meninas se vestem de meninos, dentro de uma alegria contagiante. Garotões cheios de “bomba” e esteróide imitam trejeitos femininos ao estilo Drag Queen. O armário de maquiagem das mães e irmãs é saqueado, para dar uma aparência bem feminina. O traje preferido é calcinha e sutiã.

Muitos se transformam em “piranhas” por simples brincadeira. Outros esperam o carnaval para “sair do armário, expressando a sua verdadeira identidade”, como lembra Luis Andrey Fernandes de Souza, de 15 anos. “Sou Flamengo até morrer, gosto de funk e pagode, mas espero a chegada de fevereiro para cair na farra e sair de piranha e atacar umas minas.” Nesses dias, o estudante entende as dificuldades enfrentadas pelas meninas, desde o salto alto até a maquiagem. “Ser homem é bem melhor”, garante.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Uma kombi que resiste ao tempo

II IGUACINE Exibido na sessão de homenagens do II Iguacine, 'Marcelo Zona Sul' continua encantando plateias 40 anos depois de sua es...