quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Já estão noivos

Secretário de Cultura mostra seus dotes para coordenadoras pedagógicas de Nova Iguaçu
por Josy Antunes

Aconteceu ontem, no Espaço Cultural Sylvio Monteiro, um encontro que promete mudar o conceito de educação e cultura nas escolas municipais de Nova Iguaçu. Reunindo educadores e coordenadores pedagógicos, a reunião foi comandada pelo Secretário de Cultura e Turismo, Marcus Vinicius Faustini, que apresentou os projetos que serão realizados nas escolas esse ano.

Este casamento intersecretarial, que até o ano passado se dava por intermédio das oficinas culturais ministradas nas escolas do primeiro segmento, será consolidado com o início dos Pontos de Cultura, carinhosamente chamado de Pontinhos. Juntando os saberes da escola com os dos artistas populares, os pontinhos de cultura oferecerão aos alunos do segundo segmento atividades culturais nas áreas de artes visuais, artes cênicas – envolvendo dança, teatro e circo – música, literatura, comunicação, audio visual, cinema, blog, artes e cultura popular. Serão atendidas 31 escolas da rede municipal, distribuídas em 25 bairros. Quase 16 mil adolescentes participarão do projeto, cujo início está previsto para a primeira semana de abril.

No primeiro segmento, o Bairro-Escola atende as crianças, principalmente com oficinas de artes plásticas, fazendo com que elas vivam e experimentem o básico. Já no segundo segmento, o objetivo é que os alunos comecem a adquirir as técnicas de expressão de mundo. “Os meninos reclamavam que as oficinas eram apenas ocupação de tempo e eles queriam experiência”, diz Faustini. “O aluno tem que entrar numa aula, e ela tem que ser decisiva pra vida dele/.”

Serão trabalhados três elementos principais: vida, território e e linguagem. "Utilizaremos o que está no imaginário e na realidade dos alunos como “ferramenta” de aprendizado", explica o secretário de Cultura e Turismo. "Também daremos possibilidades para eles descobrirem o que está em volta, não só fisicamente, mas com as histórias que marcam o território e a comunidade. Por fim, daremos acesso às linguagens de mundo, utilizando técnicas para que os alunos as compreendam e dominem."

Recreio
Uma das dificuldades encontradas até o ano passado era a falta de integração entre os educadores e os oficineiros de cultura. Rosemere Furtado, professora da E.M. América Xavier da Silveira, em Santa Rita, entende a razão dessa lacuna: “A gente via que eles não seguiam um planejamento como é feito na aprendizagem e no esporte. O fato de não ter sempre ali perto um coordenador de cultura fazia com que o trabalho ficasse disperso.” “A escola parecia estar em recreio o tempo todo”, acrescenta Lucy Ferreira, orientadora pedagógica da E.M. Profª Irene da Silva Oliveira, em Vila de Cava. Devido a essa falta de planejamento, havia dias em que era impossível identificar as crianças que deveriam estar em sala de aula e as que estavam participando das oficinas. "Algumas ficavam soltas correndo e gritando pela escola", acrescenta Lucy.

Esse ano, porém, a situação tem tudo para melhorar. A partir de semana que vem, representantes da Secretaria de Cultura e dos Pontinhos vão visitar as escolas, para juntos com os educadores, discutirem as perspectivas para 2009. “Não queremos chegar lá dizendo o que tem que ser feito. Queremos construir o conteúdo com vocês. Estamos disponíveis a ter uma relação pra construir um novo momento do Bairro-Escola”, enfatiza Faustini.

Além disso, será feita uma avaliação bimestral das oficinas, verificando se estão atendendo os objetivos propostos. “O que pode funcionar num bairro pode não funcionar em outro”, diz o Secretário de Cultura, explicando que esse não seria um problema conceitual, e sim de experiência. “Talvez a solução não seja dar oficina de dança para algumas crianças, mas modificar a própria oficina de artes plásticas incluindo o corpo”, conclui ele.


Mapa
Outra novidade para esse ano é o Mapa Afetivo. Trata-se de um trabalho que será realizado dentro das escolas, que pretende fazer um grande mapa de Nova Iguaçu através do afeto. Ele conta com um serviço do Google, chamado Google Maps. “Esse é um instrumento que vem dominando a internet, e a gente quer que os alunos o dominem”, explica Faustini. No mapa, as crianças terão a possibilidade de localizar e descrever locais importantes para sua vida, dentro do próprio bairro onde moram. Indo contra o mapa de violência que comumente é pensado.

O modelo mostrado pelo Secretário, da aluna Joyce, de 10 anos, incluía o local onde ela encontra o melhor pãozinho, o bate-papo com as amigas na calçada e os locais onde a mãe não permite que ela passe.

Durante a reunião, cada pessoa presente recebeu um mapa do Centro de Nova Iguaçu – lugar comum a todos. Após também realizarem a atividade, foi pedido que deixassem seus contatos na folha, para que a comunicação entre cultura e educação vá além das reuniões, fazendo o que foi chamado de “lista de presença artística”. “O melhor mapa afetivo vai ganhar um MP4. Só que, o ganhador vai ter que transformá-lo em projeto dentro da escola”, incentivou Faustini, em tom divertido. A atividade é um exemplo claro de como vida, território e linguagem podem se misturar e contribuir juntos para a educação.

O Secretário de Cultura deixou seu e-mail pessoal, para tornar ainda mais estreito o diálogo entre cultura e educação. E prometeu: “Garanto a vocês que, enquanto estiver na Secretaria, nenhuma decisão sobre a escola será tomada sem antes discutir com vocês.”

Apertando botão
Na reunião foram exibidos vídeos do Iguaçu e Sua Turma, produzidos por crianças do Bairro-escola, na Escola Livre de Cinema, mostrando uma área que vai continuar sendo um ponto forte na educação das crianças do município: o cinema. “Nós não vamos ficar ensinando um bando de crianças a apertar botão no futuro. Não que todo mundo tenha que ser cineasta. Mas todo mundo tem que ter direito à fruição. Se não existir o direito à fruição, que é pensar a vida e representá-la esteticamente, não tem democracia no país”, complementa ele.

Além disso, as pesquisas levantadas no projeto Minha Rua Tem História serão transformadas em gibis - pelos próprios jovens - e irão para dentro das escolas, a fim de serem usados como materiais didáticos. Histórias como a da “árvore grávida”, contada por uma jovem de Rodilândia, facilitarão o processo de educação dos alunos. “O menino entra na escola pra se alfabetizar e vê: “Eva viu a uva”. E se pergunta quem é Eva. E muitas vezes não tem uva em casa. As coisas são absolutamente distantes do imaginário em que ele vive. Então a gente quer aproximar, legitimando esse imaginário”, explica Faustini.

A Agência Escola de Comunicação também dará a sua contribuição. Os jovens serão transformados em oficineiros e levarão o blog Jovem Repórter para dentro das escolas. Ele será feito de forma alternativa, utilizando muros, onde as crianças irão construir, com suas matérias, uma outra representação da realidade.

Os educadores saíram do encontro muito confiantes nas mudanças. Selma Silveira é coordenadora pedagógica da E.M. Flor de Liz, em Miguel Couto. A escola teve suas atividades culturais suspensas no ano passado, devido à distância. “As crianças sentem falta das atividades. Só aulas de cuspe e giz as desmotiva. A cultura faz eles terem mais gosto de vir pra escola.”

Conversa com os coordenadores
“Como o secretário disse que a atuação do pessoal da cultura não vai se realizar sem que antes seja conversado com os coordenadores, eu acredito que vai facilitar bastante, ajudando no desenvolvimento das atividades”, diz Rosemere Furtado, acreditando que os problemas que teve no ano anterior serão resolvidos.

“Esperança nós temos. E o primeiro pontapé já foi dado. Espero que daqui pra frente melhore. Vamos ver como vai ser, se vamos conseguir tirar do papel, ou se vai ser como nos governos anteriores”, conclui Mônica de Souza, professora na E.M. Orestes Bernardo Cabral, em Vila de Cava. Na Orestes, a situação em relação à cultura ainda é bem precária.

Com educadores, artistas e a Prefeitura lutando pela nova metodologia nas escolas, Faustini acredita que essa geração ficará marcada positivamente e que o objetivo maior, de construir um novo futuro para as crianças, será alcançado. “Nós temos tudo pra dar certo. Temos um Secretario de Educação que está preocupado em democratizar essa gestão. Temos um secretário de cultura que está aqui, discutindo com vocês educadores de igual pra igual, para querer construir isso junto. Não estamos impondo. Vamos ter problemas? Muitos. Mas os conceitos só nascem a partir dos problemas”, finaliza ele.

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