quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Minha rua tem pesquisa


Escola de Pesquisa de Nova Iguaçu mostra acerto do Minha Rua Tem História ao Secretário de Cultura e Turismo
por Giuseppe Stéfano

Aos olhos da classe média, a periferia é um lugar apenas de carências, violência e de gente burra. Mas aqueles que foram criados nas ruas de bairros pobres sabem realmente dos segredos desses pontos de encontro.

Marcus Vinicius Faustini, atual secretário de Cultura e Turismo de Nova Iguaçu, ignora a preconceituosa visão de que rua é lugar de vagabundos e desocupados. Para ele, é na rua que a vida acontece. "A primeira negociação de um filho com a mãe é sobre rua. Ele sempre pede: 'Mãe, posso ir no portão?' E do portão pro mundo é um pulo", conta, lembrando de uma das frases mais ditas em sua infância e juventude.

Por acreditar tanto nas riquezas ocultas em bairros "esquecidos", Faustini apostou em um projeto inovador, que mudaria a cara da periferia de Nova Iguaçu: o "Minha Rua Tem História", que consistia em resgatar histórias de bairros, vividas ou ouvidas por jovens de 17 a 21 anos que participavam do Pro Jovem. "No começo, as pessoas não acreditavam na eficácia do projeto", lembra ele.

Jovem gosta de conversar
Os opositores do projeto alegavam que os Pro Jovens não topariam discutir a própria rua, banal demais para mobilizar a juventude. Mas Faustini insistiu na ideia. "Vai dar certo, sim, porque jovem gosta de conversar!", retrucou ele. Apesar do curto espaço de tempo entre a idealização e a execução do projeto, o projeto foi um sucesso, como o secretário de Cultura e Turismo pode confirmar com a pesquisa que acabou de receber da Escola de Pesquisa de Nova Iguaçu.

O projeto foi uma grande novidade na cidade tanto para quem participava quanto para quem o organizava. Por isso, ele já esperava os senões apontados pela pesquisa. "A gente pode comparar o Minha Rua Tem História a um bebê recém-nascido nos braços de pais inexperientes, onde havia, assim como em tudo que é novo, dificuldades, medos e insegurança."

Faustini confessa que teve receio de que os participantes do Pro Jovem não entendessem o que o "Minha Rua Tem História" representava, mas, como é um fiel seguidor da máxima de Miguel Falabella segundo a qual o mundo é dos realizadores, não hesitou em tentar e deu a cara a tapa. Não se arrependeu. "Foi um período fantástico", comemora.

Voz aos jovens
O Minha Rua Tem História foi o primeiro projeto do Brasil a reunir milhares de jovens para contar histórias em salas de aula, associações de moradores ou em igrejas espalhadas pela cidade. Mas o projeto ultrapassou as expectativas até mesmo do sempre otimista Faustini. "Mais do que ganhar uma bolsa, cursos e premiações ao final da gincana, os participantes do projeto levavam para casa, ao término de cada oficina, uma curiosidade sobre seu bairro, uma lembrança, uma emoção, um amigo." Outro elemento importante do projeto, detectado pela pesquisa comandada pela antropóloga paulista Marcella Camargo, foi que o Minha Rua Tem História devolveu um dos instrumentos mais importantes de expressão. "Os jovens puderam usar a voz."

Dar voz aos jovens sempre foi um dos principais objetivos na vida de Faustini, já que ele próprio teve muita dificuldade para se fazer ouvir durante sua adolescência no Cezarão, um conjunto habitacional em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. "Nova Iguaçu é uma cidade rica. Hoje, eu enxergo jovens extraordinários que são capazes de fazer qualquer coisa, desde que queiram. No meu tempo, a voz da juventude era abafada. Não se via um artista em qualquer esquina, eu era uma exceção. Hoje, os jovens têm o apoio do governo e o espaço necessário, só basta eles quererem. O único meio de transformarmos nossa cidade é nos aliarmos aos jovens."

Faustini tem orgulho do quanto o Minha Rua Tem História pode somar nas vidas de milhares de jovens. E anuncia que sua secretaria vai estar cada vez mais ao lado dos jovens, a fim de detectar suas necessidades. "Nova Iguaçu está pronta para a mudança! Nós já sabiamos das carências e dificuldades de muitos bairros, mas a partir do projeto, conhecemos também as belezas e mistérios de ruas e de moradores. Eu estou muito feliz. Vamos começar de novo!"

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